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Carreira teve apoio da empresa e do marido

Rieko Fukushima elogia a Toshiba por criar um ambiente favorável às mulheres. Quando a pesquisadora ainda estava em licença-maternidade, seu supervisor mandava por e-mail notícias sobre o trabalho da equipe e, nas mensagens, garantia que "havia um lugar para ela retornar", conta Rieko.

Em 2004, a Toshiba apresentou medidas para ajudar as funcionárias a equilibrar as responsabilidades profissionais e as tarefas domésticas, incluindo horários de trabalho mais flexíveis e um plano de carreira para quem tivesse jornadas reduzidas. Hoje, a maioria das mulheres que saem de licença maternidade retoma o emprego na companhia depois de alguns meses.

As mulheres conquistaram mais espaço no setor de pesquisa – apesar de representarem apenas 12% do total de 113,5 mil funcionários da Toshiba, nas equipes científicas e de desenvolvimento elas já ocupam 20% das principais vagas. Ainda assim, a empresa ainda tem um longo caminho a percorrer para promovê-las aos cargos de comando. Somente 360 dos 21.011 gerentes da Toshiba são mulheres.

Enquanto isso, o marido de Rieko, que ela conheceu durante a faculdade, oferece um importante apoio. Ele encorajou a esposa, formada em Química, a fazer um mestrado. Hoje, eles dividem as tarefas domésticas: o marido, professor universitário, faz o café da manhã e leva a filha à escola; Rieko cuida do jantar e da hora de pôr a criança na cama. Num dia normal, a pesquisadora trabalha das 9 às 18 horas.

A trajetória de Rieko nem sempre foi fácil. Quando começou a procurar o primeiro emprego em 1994, logo depois do estouro da bolha econômica do Japão, recrutadores deixavam claro que as empresas não estavam em busca de mulheres. Outros diziam que nunca haviam contratado uma mulher com mestrado. Na Toshiba, após uma breve entrevista, Rieko foi chamada junto com uma ex-colega de universidade. "Algumas empresas nem entrevistavam mulheres, mas a Toshiba contratou duas. Fiquei muito animada", relembra.

De uns tempos para cá, Rieko tem sido apontada como exemplo de mulher que consegue subir a escada corporativa do Japão. A Nikkei Woman, uma revista mensal voltada para executivas, elegeu-a "Mulher do Ano" em dezembro passado. Em meio à fama recém-adquirida, Rieko diz que considera a filha de 9 anos a sua maior fã. A garota diz que será uma pesquisadora quando crescer. "Isso me faz feliz. Mas ultimamente tenho me preocupado em fazê-la perceber que o papai também um trabalho importante", lembra.

Tóquio - A televisão em 3D tem um calcanhar de Aquiles: os óculos grandalhões e desajeitados que os espectadores precisam usar para ver as imagens em três dimensões. A pesquisadora da Toshiba Rieko Fukushima, no entanto, desenvolveu uma tecnologia para eliminar esses apetrechos – e, ao mesmo tempo, está ajudando a quebrar o teto invisível que o Japão criou para as mulheres.

"Eu estaria mentindo se dissesse que o fato de ser mulher não me atrapalhou", diz Rieko, 39 anos, líder da equipe que trabalha no primeiro televisor do mundo que oferece imagens em 3D "a olho nu". O projeto teve início há nove anos, quando a pesquisadora havia retornado da licença-maternidade. "Às vezes, eu via nos meus colegas expressões que denotavam: 'O quê? Uma mulher? Dessa idade? No comando?'", conta.

Ainda é cedo para saber se a Toshiba vai conseguir criar um mercado consumidor grande o suficiente para os seus novos aparelhos de tevê em 3D, que foram apresentados no Japão em outubro do ano passado e demonstrados na Consumer Electronics Show de Las Vegas em janeiro. Ainda assim, a inovação já é o raro exemplo de sucesso de uma empresa que soube aproveitar o recurso mais subutilizado do Japão: as mulheres.

De acordo com um levantamento feito em 2009 pelo governo japonês, as mulheres ocupam 8% dos cargos de gerência do país; nos Estados Unidos, as mulheres somam 43% desses postos de supervisão, de acordo com a organização Catalyst, de Nova York. Apenas 65% das japonesas que concluíram o ensino superior têm um emprego, muitas delas em trabalhos temporários e mal remunerados, contra 80% nos EUA.

"Trata-se de uma perda de oportunidade econômica significativa para a nação oriental", diz um relatório do Goldman Sachs divulgado em outubro. Mais de dois terços das japonesas deixam de trabalhar depois de ter o primeiro filho; entre as americanas, isso ocorre em um terço dos casos. Segundo a pesquisa da instituição financeira, o fenômeno ocorre no Japão por causa de padrões sociais e corporativos, além da falta de creches e escolas.

Caso a taxa de ocupação feminina do Japão – em torno dos 60% em 2009 – se igualasse ao índice masculino (de cerca de 80%), o país ganharia 8,2 milhões de pessoas a mais na força de trabalho, algo que ajudaria a equilibrar o rápido envelhecimento da população japonesa e daria um impulso de até 15% no PIB da nação, mostra o estudo organizado por Kathy Matsui, diretora administrativa do Goldman Sachs do Japão.

Nesse cenário, o sucesso de Rieko Fukushima foi saudado como inspiração que demonstra na prática o que ocorre quando algumas peças – uma mulher determinada, uma família que dá apoio e uma empresa que tenta diversificar sua mão de obra – surgem no lugar certo. "As ideias de Rieko são de ponta. Além disso, não canso de me surpreender com a habilidade que ela tem para se comunicar e formar redes de relacionamento", diz Yuzo Hirayama, chefe de pesquisas da divisão de televisores da Toshiba.

Tradução: João Paulo Pimentel

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