Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
talento

Pesquisadora vence barreiras no Japão

Tóquio - A televisão em 3D tem um calcanhar de Aquiles: os óculos grandalhões e desajeitados que os espectadores precisam usar para ver as imagens em três dimensões. A pesquisadora da Toshiba Rieko Fukushima, no entanto, desenvolveu uma tecnologia para eliminar esses apetrechos – e, ao mesmo tempo, está ajudando a quebrar o teto invisível que o Japão criou para as mulheres.

"Eu estaria mentindo se dissesse que o fato de ser mulher não me atrapalhou", diz Rieko, 39 anos, líder da equipe que trabalha no primeiro televisor do mundo que oferece imagens em 3D "a olho nu". O projeto teve início há nove anos, quando a pesquisadora havia retornado da licença-maternidade. "Às vezes, eu via nos meus colegas expressões que denotavam: 'O quê? Uma mulher? Dessa idade? No comando?'", conta.

Ainda é cedo para saber se a Toshiba vai conseguir criar um mercado consumidor grande o suficiente para os seus novos aparelhos de tevê em 3D, que foram apresentados no Japão em outubro do ano passado e demonstrados na Consumer Electronics Show de Las Vegas em janeiro. Ainda assim, a inovação já é o raro exemplo de sucesso de uma empresa que soube aproveitar o recurso mais subutilizado do Japão: as mulheres.

De acordo com um levantamento feito em 2009 pelo governo japonês, as mulheres ocupam 8% dos cargos de gerência do país; nos Estados Unidos, as mulheres somam 43% desses postos de supervisão, de acordo com a organização Catalyst, de Nova York. Apenas 65% das japonesas que concluíram o ensino superior têm um emprego, muitas delas em trabalhos temporários e mal remunerados, contra 80% nos EUA.

"Trata-se de uma perda de oportunidade econômica significativa para a nação oriental", diz um relatório do Goldman Sachs divulgado em outubro. Mais de dois terços das japonesas deixam de trabalhar depois de ter o primeiro filho; entre as americanas, isso ocorre em um terço dos casos. Segundo a pesquisa da instituição financeira, o fenômeno ocorre no Japão por causa de padrões sociais e corporativos, além da falta de creches e escolas.

Caso a taxa de ocupação feminina do Japão – em torno dos 60% em 2009 – se igualasse ao índice masculino (de cerca de 80%), o país ganharia 8,2 milhões de pessoas a mais na força de trabalho, algo que ajudaria a equilibrar o rápido envelhecimento da população japonesa e daria um impulso de até 15% no PIB da nação, mostra o estudo organizado por Kathy Matsui, diretora administrativa do Goldman Sachs do Japão.

Nesse cenário, o sucesso de Rieko Fukushima foi saudado como inspiração que demonstra na prática o que ocorre quando algumas peças – uma mulher determinada, uma família que dá apoio e uma empresa que tenta diversificar sua mão de obra – surgem no lugar certo. "As ideias de Rieko são de ponta. Além disso, não canso de me surpreender com a habilidade que ela tem para se comunicar e formar redes de relacionamento", diz Yuzo Hirayama, chefe de pesquisas da divisão de televisores da Toshiba.

Tradução: João Paulo Pimentel

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.