O forte aumento anunciado nesta terça (15) pela Petrobras nos preços dos combustíveis nas refinarias ocorre em meio a preocupações de analistas e de operadores do mercado com o desabastecimento de diesel no país.
A diferença no valor praticado pela estatal em relação aos custos de se importar o combustível vinham restringindo a entrega de cargas em algumas bases de distribuição para os postos, segundo entidades do setor.
Desde maio, quando decretou o fim da política de preço de paridade de importação (PPI), a Petrobras vinha segurando o valor cobrado pelos derivados de petróleo em suas refinarias.
A política do PPI, que estava em vigor desde 2016, vinculava os preços dos combustíveis vendidos pela empresa às cotações internacionais do petróleo, à taxa de câmbio e a custos de importação, o que aproximava os preços da estatal aos praticados por importadores e refinarias privadas.
O objetivo da prática era suprir a demanda interna pelos combustíveis, uma vez que as refinarias da Petrobras não são capazes de abastecer sozinhas todo o mercado nacional.
Após o fim do PPI, o aumento na cotação internacional do petróleo fez com que os preços praticados pela estatal passassem a se descolar cada vez mais do valor viável para importações.
Na segunda-feira (14), a Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom) calculou que a defasagem no combustível da Petrobras chegava a 28% em relação ao preço final do produto proveniente de outros países, desestimulando a importação.
Na semana passada, distribuidoras de combustíveis já repassavam aos postos aumentos entre 6% e 9% no diesel S10, segundo o Paranapetro, que representa os revendedores do Paraná. "As companhias de distribuição têm alegado que o motivo para esta alta é a escassez deste produto em todo o Brasil, por conta da menor entrada de importações", explicou o sindicato, em nota.
Segundo a Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), os preços médios do diesel comercializado nos postos brasileiros já registram duas semanas consecutivas de aumento.
Nesta terça, ainda antes do anúncio de alta nos combustíveis pela Petrobras, a Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e Lubrificantes (Fecombustíveis) divulgou nota em que afirma haver "restrição nas entregas de combustíveis em algumas bases de distribuição para os postos", embora ressalte não haver "necessariamente falta de produtos para a ponta final da cadeia (postos e distribuidoras)".
"Com a alta da cotação do petróleo no mercado internacional, as refinarias da Petrobras passaram a comercializar combustíveis por custos menores no mercado interno, o que pode ter impactos sobre a importação e para as refinarias privadas do país", diz trecho do comunicado.
Uma das importadoras de diesel mais atuantes do mercado brasileiro em 2023, a Nimofast, reduziu, desde maio, as cargas mensais do produto de sete para quatro, segundo informou seu presidente Ramon Reis, ao jornal "O Estado de S. Paulo".
A medida foi tomada em razão do deslocamento da demanda nacional, que passou a optar pelo produto da Petrobras, agora mais barato que as cargas inéditas vindas da Rússia com desconto ou das fontes tradicionais do Golfo do México, nos Estados Unidos. A empresa planeja agora aumentar a importação da Rússia, ainda que com preços acima dos praticados pela Petrobras.
Ministro descartou risco de desabastecimento de diesel
O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, por sua vez, descartou a possibilidade de falta de diesel no país em uma conversa com jornalistas na semana passada.
"Tenho absoluta convicção que não [haverá desabastecimento]. Nós lutamos tanto para abrasileirar o preço dos combustíveis. Vocês aqui sabem o quanto que foi benéfico. A responsabilidade do Ministério de Minas e Energia e do governo é manter suprimento, qualidade do combustível e modicidade de preço de combustível no país. E nós fazemos isso através de impulsionar a competitividade interna", afirmou.
Na ocasião, ele falou sobre a possibilidade de a Petrobras reajustar os preços dos combustíveis em suas refinarias. "Se fosse necessário reajustar o preço, ela [Petrobras] o faria no momento adequado. E ela tem, repito, autonomia para isso. Então quem decide se vai aumentar preço ou não da Petrobras é a Petrobras", declarou."O que o governo tem que fazer é, quando a volatilidade for para baixo, que essa volatilidade seja repassada ao consumidor, a fim de que nós tenhamos na bomba gasolina, diesel e gás de cozinha mais barato, como está acontecendo agora", disse o ministro.
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