O primeiro pregão de 2015 foi marcado pela aversão ao risco, com investidores cautelosos em relação às medidas de ajuste prometidas pela nova equipe econômica do governo. Indicadores negativos na China, Estados Unidos e Europa intensificaram o clima de tensão.

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O Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira, fechou em queda de 2,99%, para 48.512 pontos. O volume financeiro foi de R$ 5,323 bilhões -abaixo da média diária de 2014, que ficou em torno de R$ 7 bilhões, por causa do feriado de Ano Novo, que manteve a BM&FBovespa fechada nos últimos dois dias. Na semana, o índice caiu 3,25%.

"Houve um 'sell off' na Bovespa hoje, uma venda a mercado generalizada. Os grandes 'players' apertaram o botão de venda a qualquer preço, por realização de lucro da alta parcial do dia 17 de dezembro pra cá", diz Wagner Caetano, diretor da consultoria Cartezyan.

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"Levy sinalizou hoje que não há intenção de anunciar medidas já na segunda-feira, quando ele irá tomar posse da Fazenda. Isso não agrada aos investidores. O mercado espera da equipe econômica sinalizações concretas sobre impostos, cortes etc. O que o mercado não quer é trabalhar às escuras. Os ativos estão muito baratos, então qualquer sinalização positiva pode fazer a Bolsa subir."

Os papéis preferenciais da Petrobras, sem direito a voto, perderam 6,59%, para R$ 9,36 cada um. Já as ações ordinárias da estatal, com direito a voto, registraram desvalorização de 6,15%, para R$ 9. A petroleira está envolvida em uma série de denúncias de corrupção que a impediram de divulgar seu resultado referente ao terceiro trimestre do ano passado.

Na véspera, em seu discurso de posse, a presidente Dilma voltou a defender a Petrobras, lamentou a crise vivida pela empresa por causa de esquemas de desvios de recursos e disse que o governo irá proteger a estatal de "predadores internos e de seus inimigos externos". Dilma também defendeu um ajuste fiscal no país.

"O discurso de posse da presidente Dilma foi econômico em autocrítica e generoso em promessas difíceis de cumprir, como um ajuste fiscal indolor", escreveu o ex-diretor do Banco Central Mario Mesquita, que comanda a área de economia do Banco Brasil Plural.

"Foi, em um sentido amplo, consistente com a aparente mudança para uma nova política econômica mais próxima do mercado, mas com o habitual viés estatizante-nacionalista", disse Mesquita, em nota a clientes.

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Exterior

As ações da mineradora Vale também fecharam o primeiro pregão do ano no vermelho, e ajudaram a manter o Ibovespa pressionado. Os papéis preferenciais da companhia tiveram queda de 2,60%, para R$ 18,73 cada um. O movimento refletiu dados mostrando desaquecimento da indústria na China -principal destino das exportações da Vale- em dezembro. Os números foram divulgados na última quinta-feira (1).

O Índice de Gerentes de Compras (PMI, na sigla em inglês) oficial de indústria da China caiu para 50,1 em dezembro ante 50,3 em novembro, segundo estudo do governo chinês. É o menor nível de 2014 e pouco acima da marca de 50 que separa crescimento de contração. Analistas consultados pela Reuters esperavam leitura de 50,1.

Na Europa, o PMI final de dezembro para a indústria da zona do euro atingiu 50,6, ante preliminar de 50,8 e mínima de 17 meses em novembro de 50,1. O resultado ficou acima da marca de 50, mas há pouco sinal de qualquer melhora neste mês, com o subíndice de novas encomendas em apenas 50,2.

Nos EUA, o PMI caiu a 53,9 em dezembro, ante a leitura final de 54,8 apurada em novembro. O índice preliminar para dezembro era de 53,7.

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Ações

Estácio (-7,43%, para R$ 22,05) e Kroton (-4,52%, para R$ 14,80) estiveram entre as maiores baixas do Ibovespa, após o governo publicar nos últimos dias de 2014 algumas mudanças, como nota mínima para acessar o programa de financiamento de estudo superior pelo governo e calendário diferente para recompra de certificados de instituições com mais de 20 mil estudantes usando o Fies.

Em nota a clientes, a equipe da Bradesco Corretora avaliou que as alterações devem ter um impacto negativo nos resultados das companhias do setor educação, lembrando que o Fies representa 44% do total de receitas da Kroton e 40% da Estácio.

Apenas três das 70 ações que compõem o Ibovespa subiram: Eletropaulo (+6,24%, para R$ 9,20), Cosan Logística (+2,45%, para R$ 2,93) e Embraer (+1,68%, para R$ 24,85).

A BM&FBovespa divulgou nesta sexta a terceira e última prévia da nova composição do Ibovespa para o período entre 5 de janeiro e 30 de abril deste ano. A lista atual manteve a exclusão dos papéis da construtora Rossi, da empresa de logística Cosan e das preferenciais da distribuidora de energia Eletropaulo. Também foi confirmada a entrada da Multiplan.

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A CSN liderou a ponta negativa do Ibovespa, com perda de 9,68%, para R$ 5,04. A empresa divulgou após o fechamento do último pregão de 2014 que seu conselho de administração renovou programa de recompra, com até 34,6 milhões de ações, que vai durar até 31 de março de 2015.

"Entendemos que o mais prudente para a companhia seria focar na melhora de alavancagem nesse momento", afirmou o BTG Pactual em nota a clientes. "Não apostamos que recompra seja totalmente executada", acrescentou.

Os bancos, que tiveram forte alta em 2014, caíram nesta sexta-feira. O Itaú Unibanco perdeu 2,23%, para R$ 33,83, enquanto o Bradesco viu sua ação preferencial ceder 2,17%, para R$ 34,30. Já o Banco do Brasil registrou desvalorização de 4,71%, para R$ 22,65.

Câmbio

No câmbio, o dólar voltou a subir em relação ao real nesta sexta-feira, refletindo a menor intensidade das atuações do Banco Central no mercado em 2015 e as expectativas para os ajustes que deverão ser promovidos pela nova equipe econômica do governo.

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Após subir quase 2% ao longo do dia, o dólar à vista, referência no mercado financeiro, encerrou a sexta-feira com valorização de 1,73% sobre o real, cotado em R$ 2,693 na venda. Na semana, houve ganho de 0,5%. Já o dólar comercial, usado no comércio exterior, mostrou alta de 1,16% no dia e de 0,75% na semana, também para R$ 2,693.

No primeiro pregão de 2015, o Banco Central deu continuidade ao seu programa de intervenções diárias no mercado de câmbio, mas cortou pela metade a ração de leilões ofertada diariamente, que caiu dos atuais US$ 200 milhões para US$ 100 milhões.

Além do valor menor, o prazo de renovação do programa de venda de contratos do chamado swap cambial (equivalente a uma venda futura de dólar) foi cortado. O programa vai vigorar até 31 de março. Até então, ele era sempre renovado por seis meses desde que foi criado, em 22 de agosto de 2013. Nesta sexta, o BC vendeu 2 mil contratos de swap, por US$ 98 milhões.