A Petrobras vai mudar de tamanho. Por causa do rombo que o esquema de corrupção denunciado à Polícia Federal na Operação Lava Jato e também por conta da crise pela qual passam petroleiras no mundo todo, com a queda do preço do barril de petróleo, a estatal decidiu cortar investimentos, desacelerar projetos e ser seletiva na aquisição de novas áreas de exploração e produção.
Até mesmo a extração de petróleo, principal fonte de receita da empresa, "será atenuada", disse a presidente da companhia, Graça Foster, em coletiva de imprensa ontem para apresentar o resultado financeiro do terceiro trimestre de 2014.
"O mote do Plano de Negócios para 2015 e depois é o redimensionamento da Petrobras", afirmou a executiva, antecipando as premissas do documento que só será divulgado em junho.
O esforço da companhia é para evitar novas captações e dívidas nos próximos anos, diante da falta de credibilidade no mercado, e evitar uma piora em seus indicadores de alavancagem, que chegou a 43% ante uma meta definida de 35% pelo conselho de administração.
A desconfiança dos investidores poderá se agravar ainda mais após a possibilidade levantada pelo diretor financeiro, Almir Barbassa, de não haver pagamento de dividendos referentes a 2014.
Meta revista
A preocupação com as condições de financiamento das operações da companhia já pesa sobre as previsões de investimentos, sobretudo na área de exploração e produção. A companhia anunciou que espera investir entre R$ 31 bilhões e R$ 33 bilhões em 2015 cerca de 25% menos que no último ano. O corte atingirá sobretudo a atividade exploratória, que será reduzida "ao mínimo necessário", segundo Graça Foster.
A meta de produção foi revista para que a companhia possa "suportar" os volumes de investimentos. "Não queremos prometer um óleo que depois a gente não consiga suportar na financiabilidade que a empresa precisa para vencer 2015", frisou o diretor de Exploração e Produção, José Formigli.
A companhia também irá vender áreas de produção consideradas menos prioritárias. Com a retração do preço internacional do barril de US$ 100 para US$ 50, desde outubro, a petroleira vai esperar até o fim do ano para fazer os desinvestimentos. Nesse período, a Petrobras considera que a cotação do petróleo volte a subir e a venda de ativos passe a valer a pena. A previsão é arrecadar R$ 3 bilhões com as operações.
Serão revistos projetos no Brasil e no exterior. Se todo o esforço for bem sucedido, a companhia chegará ao final do ano com caixa módico de US$ 8 bilhões.
Corrupção
Investigação interna custa R$ 150 milhões, revela Graça Foster
As investigações realizadas pela Petrobras para dimensionar o tamanho das perdas causadas pela corrupção custaram à empresa R$ 150 milhões, informou a presidente da estatal, Graça Foster. O custo diz respeito à contratação dos serviços de consultores internos e também aos gastos com a equipe interna. Graça disse, ainda, que a equipe técnica da empresa está "trabalhando desesperadamente" na análise de relatórios sobre as baixas e possíveis perdas de valores dos ativos para identificar o impacto da corrupção nos projetos da empresa.
Segundo a executiva, a Petrobras poderá fazer baixa contábil de empreendimentos que "achar correto", em referência ao Comperj e Refinaria Abreu e Lima, empreendimentos sob investigação da Operação Lava Jato. "Estamos trabalhando desesperadamente desde o dia que tivemos o balanço adiado. Esse desafio não é trivial. É um trabalho de mergulho junto com nossos auditores, com a PriceWaterhouseCoopers (PwC) e também de conversa com a CVM e a SEC", destacou.
Para Graça Foster, a divulgação do balanço sem a precisão do valor de impacto da corrupção não significa que determinados ativos não terão seus valores revistos. "As equipes estão completamente dedicadas a avaliar todo o trabalho feito. Não quer dizer que não vamos dar baixa contábil de nenhum valor. Se necessário, nós daremos baixa nos ativos que acharmos correto", disse.