A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) teve um pregão de perdas acentuadas, sem uma única - e boa - razão que as explicassem. Petrobras, Vale, siderúrgicas e bancos guiaram as vendas, sendo parcela importante por parte de investidores estrangeiros. Apesar disso, o giro foi fraco, como tem acontecido nestes tempos de crise. Wall Street trabalhou em alta em boa parte do dia e ajudou a minimizar - muito ligeiramente - as perdas aqui. Quando lá virou para baixo, ao redor das 16 horas, a Bovespa renovou as mínimas do dia.
No final, o Ibovespa fechou em baixa de 4,54%, aos 34.094,66 pontos, depois de oscilar entre a mínima de 33.882 pontos (-5,14%) e a máxima de 35.698 pontos (-0,05%). No mês, a queda acumulada atinge 8,49% e, no ano, 46,63%. Às 18h15, o Dow Jones perdia 0,85%, o S&P 1,60%, e o Nasdaq, 2,43%.
O dólar no mercado à vista sustentou-se em alta nesta terça-feira em meio à volatilidade externa das bolsas e da moeda norte-americana, apesar da liquidez assegurada pelo Banco Central e do fluxo cambial positivo. A autoridade monetária vendeu US$ 2,941 bilhões por meio de três leilões - de swap cambial, rolagem de swap cambial e oferta de crédito para comércio exterior - e só não fez operação de venda direta de moeda, segundo um operador, porque o fluxo cambial foi positivo. "Houve atuação dos exportadores na ponta de venda no mercado à vista, o que provocou desaceleração pontual dos ganhos", afirmou No fechamento, o pronto subiu 2,11%, a R$ 2,325 na BM&F e no balcão.
Mudança de direção - O que levou à inversão do rumo das bolsas foi o indicador divulgado pela Associação Nacional das Construtoras (NAHB, na sigla em inglês). O índice de vendas de novas casas caiu para 9 em novembro, recorde. Em outubro, o nível recorde anterior, o indicador era de 14.
Até então, as compras predominavam, influenciadas por notícias com empresas como HP, Home Depot e Yahoo!. A varejista de produtos para reforma e decoração Home Depot, por exemplo, anunciou lucro líquido do terceiro trimestre fiscal de US$ 756 milhões ou US$ 0,45 por ação, acima da previsão de US$ 0,38 por ação dos analistas. Os papéis do Yahoo! foram beneficiados pela renúncia do diretor-executivo, Jerry Yang, interpretada como um sinal de insatisfação do conselho da empresa com o desempenho e administração da companhia e de que está preparado para avaliar possíveis acordos. Já a HP anunciou expectativas de resultados mais fortes do que as esperadas pelos analistas para o atual trimestre fiscal.
Assim, até então, o mercado não vinha dando muita bola para as declarações do secretário do Tesouro, Henry Paulson, de que é "ilusório" esperar que o pacote de US$ 700 bilhões reverta os prejuízos à economia provocados pela crise financeira. Ele ainda havia rejeitado a necessidade de usar recursos do fundo de resgate para ajudar os mutuários, dizendo que os programas imobiliários existentes são suficientes. Mas quando as ordens de vendas passaram a predominar, até essas informações entraram na conta.
No Brasil, os investidores continuam pouco estimulados a irem às compras. E, para ajudar, os estrangeiros parecem estar animados a sair. Essa foi ao menos a explicação do analista da Alpes Corretora Fausto Gouveia. Já para Raffi Dokuzian, superintendente na corretora Banif, Petrobras foi uma das principais motivadoras da queda de hoje. Principalmente diante de um pregão de giro fraco.
Como o volume de recursos movimentado diariamente na Bovespa tem se mantido baixo, qualquer negócio tem uma participação muito mais forte na movimentação do índice. E quando esse negócio é com a blue chip Petrobras, que detém sozinha mais de 15% de participação no Ibovespa, o impacto no índice é muito maior.
Nesta terça-feira, as ações da estatal vinham operando em queda, influenciadas pela baixa do petróleo no mercado externo. E as perdas foram ampliadas à tarde, depois que um gerente da empresa disse que os planos de investimentos podem ser adiados por causa da crise. As ações ON da empresa recuaram 7,02% e as PN, 5,87%. Na Nymex, o contrato para dezembro da commodity terminou em baixa de 1,02%, a US$ 54,39.
Vale, outra blue chip, também caiu: ON, -4,31%, PNA, -4,77%. As siderúrgicas acompanharam. Usiminas PNA, -1,34%, Gerdau PN, -5,8%, Metalúrgica Gerdau PN, -7,26%, CSN ON, -6,82%.
No setor financeiro, o noticiário de corte de pessoal - ontem, o Citigroup, no anúncio mais expressivo, disse que a redução seria de mais de 50 mil vagas - pesa sobre as ações, assim como as dificuldades financeiras das instituições. Bradesco PN, -7,37%, Itaú PN, -7,64%, Banco do Brasil ON, -4,96%, Unibanco unit, -7,72%, e Nossa Caixa ON, -2,39%.
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