A Petrobras perdeu ontem R$ 14 bilhões em valor de mercado, duramente penalizada por investidores diante da indefinição da cúpula da empresa quanto aos impactos e perdas decorrentes da corrupção em seu patrimônio. A queda nas ações superou os 10%, em reação a um balanço que ignorou os apelos do mercado, preocupado com as prováveis baixas contábeis decorrentes da Operação Lava Jato da Polícia Federal.
A estatal apresentou uma estimativa de que seus ativos estão inflados em R$ 88,6 bilhões, em um cálculo que não convenceu sequer os integrantes do conselho de administração. A opção da companhia foi evitar um novo adiamento do balanço do terceiro trimestre de 2014 e, assim, uma aceleração de dívidas que vencem no final do mês.
No relatório divulgado no meio da madrugada de ontem, após uma reunião do conselho de administração de mais de dez horas, a Petrobras deixou claro ao mercado que o resultado é apenas preliminar e deverá ser revisto. A sua divulgação teve como objetivo cumprir acordos com financiadores e evitar o pagamento antecipado. Em contratos com financiadores, a empresa havia se comprometido a divulgar o relatório não-auditado até sexta-feira. Caso contrário, deveria pagar dívidas que somam US$ 800 milhões a credores.
O cálculo de perda com a corrupção apresentado ao conselho foi realizado por consultorias independentes. Segundo fontes, a diretoria da empresa não apresentou nenhum número para não ser acusada de influenciar a mensuração das perdas com a corrupção. As consultorias utilizaram dois métodos para calcular perdas. No primeiro, a conclusão foi de um prejuízo de R$ 4 bilhões. No outro, de R$ 88,6 bilhões. Diante da disparidade dos números, os conselheiros e mesmo os consultores concordaram que as duas estimativas ainda não condizem com a realidade. Mas não houve um consenso sobre qual método expressa melhor o rombo no patrimônio.
A primeira projeção considera o pagamento de propina de 3% a ex-funcionários, compensado em superfaturamento de projetos. A segunda foi calculada pelo método de fluxo de caixa descontado, que considera os valores do ativo no momento da aquisição, os ganhos decorrentes da operação e descontado o desgaste dos equipamentos com o passar do tempo.
O conselho de administração da Petrobras voltará a se reunir no dia 6 de fevereiro. Mas a expectativa é de que, dessa vez, o cálculo do sobrepreço de projetos esteja fora da pauta de discussão. A decisão foi que técnicos da estatal e das consultorias vão se reunir nos próximos dias para chegar a um acordo sobre o melhor método de cálculo das perdas. A expectativa, no entanto, é que o trabalho dure mais do que dez dias.
Lucro menor
Entre julho e setembro do ano passado o lucro da companhia foi de R$ 3,1 bilhões, queda de 38% em relação ao segundo trimestre de 2014 e de 9% em relação ao terceiro trimestre de 2013.
A companhia atribuiu a queda no lucro líquido às maiores despesas operacionais, principalmente pela baixa dos valores relacionados à construção das refinarias Premium I (R$ 2,1 bilhões) e Premium II (R$ 596 milhões), devido à descontinuidade desses projetos.
Prejuízo
Acionistas podem ficar sem dividendos
Estadão Conteúdo e O Globo
Acionistas da Petrobras podem ficar sem receber dividendos caso seja confirmado o rombo de R$ 88,6 bilhões no balanço final de 2014. A estimativa é de analistas do Itaú BBA. Segundo relatório da consultoria, os acionistas atingidos seriam os donos de ações ordinárias, com direito a voto. O cálculo dos dividendos da petroleira é feito em cima de um porcentual do patrimônio líquido da ação ou do capital social da companhia, além do valor lastreado pelo lucro líquido. Os detentores de papéis preferenciais (sem direito a voto) ainda podem receber dividendos mínimos, avalia a instituição.
Já o UBS prevê que a Petrobras não conseguirá divulgar o balanço de 2014 auditado pela PricewaterhouseCoopers (PwC) até o fim de junho. Se a companhia extrapolar esse prazo seus credores poderão antecipar a cobrança de US$ 56,7 bilhões em dívidas.
"Peça de ficção"
Para analistas, o balanço divulgado ontem trouxe mais confusão do que esclarecimentos sobre as perdas causadas por corrupção. Além disso, sem a chancela de uma auditoria independente, os números são pouco críveis e podem ser comparados a "uma peça de ficção" expressão usada no relatório da Guide Investimentos.