A presidente da Petrobras, Graça Foster: presidente Dilma espera encontrar substituto para tirá-la do cargo| Foto: Ueslei Marcelino/Reuters

PwC apresenta exigências para fazer auditoria

A empresa de auditoria PricewaterhouseCoopers (PwC) exigiu à Petrobras que consulte os órgãos reguladores do mercado financeiro do Brasil e Estados Unidos – Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e SEC, respectivamente – sobre o melhor método de cálculo do sobrepreço do seu patrimônio decorrente da corrupção. Essa foi a única exigência feita durante a reunião do conselho de administração da empresa na última terça-feira para que, finalmente, faça a auditoria do resultado financeiro da petroleira de 2014, o que deve acontecer até 30 de abril.

Os dois órgãos reguladores devem ajudar a Petrobras a chegar a um consenso sobre como dimensionar o rombo que o superfaturamento de projetos, denunciado à polícia na Operação Lava Jato, causou em seu patrimônio.

A estimativa de R$ 88 bilhões de perdas não agradou a nenhum dos conselheiros e até a consultoria independente, responsável pelo cálculo, admitiu que o número pode ter sido superestimado. Convencidos de que as perdas não são tão grandes, porém divergentes sobre a divulgação ou não da estimativa apresentada pelas consultorias, os conselheiros da Petrobras racharam em dois grupos opostos.

Os representantes da União, acionista majoritária, liderado pelo ex-ministro da Fazenda e presidente do conselho, Guido Mantega, votaram por não trazê-lo a público. A presidente da companhia, Graça Foster, e os representantes dos acionistas minoritários e dos empregados, insistiram na divulgação de toda informação de relevância para os investidores. Após horas de discussão, venceu o grupo que defendia a transparência das informações.

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Pressão de Ex-ministros

Os ex-ministros Guido Mantega e Miriam Belchior, presidente e conselheira da Petrobras, pressionaram o colegiado a não aceitar grandes baixas contábeis em ativos da estatal que poderiam ser percebidas como integralmente relacionadas às denúncias de corrupção na estatal. O Conselho, reunido na sexta-feira passada sem a presença de Mantega e Miriam, havia decidido oficializar as baixas contábeis, mas os ex-ministros reverteram a decisão no longo e tenso encontro de terça-feira. "Essencialmente, o governo não queria que as baixas contábeis fossem interpretadas como totalmente relacionadas à corrupção", disse uma fonte da Reuters.

Valor de mercado

A frustração do mercado com o balanço trimestral da Petrobras derrubou as ações da estatal em mais de 10% ontem e carregou para baixo o Ibovespa, que fechou em queda de 1,85%. Os papéis preferenciais da Petrobras perderam 11,21% e os ordinários caíram 10,48%. Ambas tiveram a maior perda diária desde 27 de outubro de 2014, quando as preferenciais caíram 12,33% e as ordinárias, 11,34%. A queda fez com que o valor de mercado da petroleira passasse de R$ 128,7 bilhões na última terça-feira para R$ 114,8 bilhões ontem. Em 2010, a cifra era de R$ 380,2 bilhões, segundo dados da Bloomberg.

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A Petrobras perdeu ontem R$ 14 bilhões em valor de mercado, duramente penalizada por investidores diante da indefinição da cúpula da empresa quanto aos impactos e perdas decorrentes da corrupção em seu patrimônio. A queda nas ações superou os 10%, em reação a um balanço que ignorou os apelos do mercado, preocupado com as prováveis baixas contábeis decorrentes da Operação Lava Jato da Polícia Federal.

INFOGRÁFICO: Veja o histórico econômico da Petrobras em 2013 e 2014

A estatal apresentou uma estimativa de que seus ativos estão inflados em R$ 88,6 bilhões, em um cálculo que não convenceu sequer os integrantes do conselho de administração. A opção da companhia foi evitar um novo adiamento do balanço do terceiro trimestre de 2014 e, assim, uma aceleração de dívidas que vencem no final do mês.

No relatório divulgado no meio da madrugada de ontem, após uma reunião do conselho de administração de mais de dez horas, a Petrobras deixou claro ao mercado que o resultado é apenas preliminar e deverá ser revisto. A sua divulgação teve como objetivo cumprir acordos com financiadores e evitar o pagamento antecipado. Em contratos com financiadores, a empresa havia se comprometido a divulgar o relatório não-auditado até sexta-feira. Caso contrário, deveria pagar dívidas que somam US$ 800 milhões a credores.

O cálculo de perda com a corrupção apresentado ao conselho foi realizado por consultorias independentes. Segundo fontes, a diretoria da empresa não apresentou nenhum número para não ser acusada de influenciar a mensuração das perdas com a corrupção. As consultorias utilizaram dois métodos para calcular perdas. No primeiro, a conclusão foi de um prejuízo de R$ 4 bilhões. No outro, de R$ 88,6 bilhões. Diante da disparidade dos números, os conselheiros e mesmo os consultores concordaram que as duas estimativas ainda não condizem com a realidade. Mas não houve um consenso sobre qual método expressa melhor o rombo no patrimônio.

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A primeira projeção considera o pagamento de propina de 3% a ex-funcionários, compensado em superfaturamento de projetos. A segunda foi calculada pelo método de fluxo de caixa descontado, que considera os valores do ativo no momento da aquisição, os ganhos decorrentes da operação e descontado o desgaste dos equipamentos com o passar do tempo.

O conselho de administração da Petrobras voltará a se reunir no dia 6 de fevereiro. Mas a expectativa é de que, dessa vez, o cálculo do sobrepreço de projetos esteja fora da pauta de discussão. A decisão foi que técnicos da estatal e das consultorias vão se reunir nos próximos dias para chegar a um acordo sobre o melhor método de cálculo das perdas. A expectativa, no entanto, é que o trabalho dure mais do que dez dias.

Lucro menor

Entre julho e setembro do ano passado o lucro da companhia foi de R$ 3,1 bilhões, queda de 38% em relação ao segundo trimestre de 2014 e de 9% em relação ao terceiro trimestre de 2013.

A companhia atribuiu a queda no lucro líquido às maiores despesas operacionais, principalmente pela baixa dos valores relacionados à construção das refinarias Premium I (R$ 2,1 bilhões) e Premium II (R$ 596 milhões), devido à descontinuidade desses projetos.

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Prejuízo

Acionistas podem ficar sem dividendos

Estadão Conteúdo e O Globo

Acionistas da Petrobras podem ficar sem receber dividendos caso seja confirmado o rombo de R$ 88,6 bilhões no balanço final de 2014. A estimativa é de analistas do Itaú BBA. Segundo relatório da consultoria, os acionistas atingidos seriam os donos de ações ordinárias, com direito a voto. O cálculo dos dividendos da petroleira é feito em cima de um porcentual do patrimônio líquido da ação ou do capital social da companhia, além do valor lastreado pelo lucro líquido. Os detentores de papéis preferenciais (sem direito a voto) ainda podem receber dividendos mínimos, avalia a instituição.

Já o UBS prevê que a Petrobras não conseguirá divulgar o balanço de 2014 auditado pela PricewaterhouseCoopers (PwC) até o fim de junho. Se a companhia extrapolar esse prazo seus credores poderão antecipar a cobrança de US$ 56,7 bilhões em dívidas.

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"Peça de ficção"

Para analistas, o balanço divulgado ontem trouxe mais confusão do que esclarecimentos sobre as perdas causadas por corrupção. Além disso, sem a chancela de uma auditoria independente, os números são pouco críveis e podem ser comparados a "uma peça de ficção" – expressão usada no relatório da Guide Investimentos.