A Petrobras anunciou ontem em teleconferência com analistas após a divulgação dos resultados de 2015 que pretende chegar ao fim do ano com US$ 21 bilhões em caixa. Segundo economistas, porém, pairam muitas condicionantes sobre a estatal até o fim do ano e ainda é cedo para saber se ela conseguirá cumprir a meta. No início do ano, a empresa tinha em caixa US$ 26 bilhões.
Apesar de ter feito uma baixa contábil bilionária, de R$ 49,8 bilhões (dos quais R$ 47,67 bilhões se referem a reavaliações de ativos e o restante a investimentos), analistas avaliam que novos ajustes deverão ser feitos nos próximos trimestres. Assim, será mais difícil para a estatal atingir a meta de vender US$ 14,4 bilhões em ativos neste ano e ainda reduzir seu atual nível de endividamento.
Uma das dificuldades é conseguir atingir a receita prevista com a venda de ativos neste ano. Outras questões imponderáveis são citadas no relatório do próprio balanço de 2015 da companhia. A estatal diz que o saldo de US$ 21 bilhões não considera eventuais gastos com a ação coletiva movida por investidores nos Estados Unidos, com o contencioso trabalhista — a estatal já tem provisionado R$ 3,3 bilhões —, além do risco da entrada em vigor de novas leis no estado do Rio de janeiro, que aumentam a carga tributária na exploração do petróleo.
Álvaro Bandeira, economista-chefe do Home Broker Modalmais, espera novas baixas nos ativos da estatal nos próximos trimestres. O analista lembra que, além de vários passivos trabalhistas, existem processos da Petrobras com o Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), considerando que só um dos processos soma R$ 7 bilhões.
“A Petrobras tem muita coisa a limpar em seu balanço, mas o mais importante é reduzir sua dívida, vender ativos, participações nas empresas onde é minoritária e focar em projetos de maior retorno. Tem que diminuir de tamanho”, disse Bandeira.
Ontem, Ivan Monteiro, diretor Financeiro da companhia, disse que o julgamento da ação coletiva nos EUA deve começar em setembro. Em suas demonstrações financeiras, a Petrobras mostra preocupação com o assunto. “Caso a decisão do litígio seja contrária ou se houver um acordo, a Companhia poderá ter que pagar valores substanciais, os quais poderão ter um efeito material adverso em sua condição financeira, nos seus resultados ou seu fluxo de caixa consolidados em um determinado período”.
“Apesar de ter tido bom resultado operacional em 2015, o volume de baixas contábeis veio elevado em razão do aumento das taxas de desconto, reflexo do aumento do risco no Brasil. Para 2016, a Petrobras vai ter dificuldade em chegar a fim do ano com um caixa de US$ 21 bilhões até porque ainda não está considerando o contencioso trabalhista”, disse Luciana Nazar, sócia da GO Associados.
Para o economista Thiago Biscuola, da RC Consultores, o maior problema é conseguir reduzir sua elevada alavancagem. Mas ele avaliou como positivos os resultados operacionais com aumento da produção de petróleo.
“Acho difícil acontecer, mas só uma capitalização aceleraria o processo de recuperação da companhia, porque tem uma dívida muito elevada, da qual cerca de 80% são em dólar”, disse Biscuola.
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