A conclusão de problemáticas refinarias em Pernambuco e Rio de Janeiro estará prevista no Plano de Negócios 2015-2019 da Petrobras a ser divulgado até junho, mas ainda há incertezas sobre quando e como serão efetivados os investimentos para o encerramento das obras nas unidades envolvidas no escândalo de corrupção, de acordo com uma fonte próxima à companhia.
A finalização da Refinaria do Nordeste (Rnest), também conhecida como Abreu e Lima, e do Comperj dependerá do fôlego da estatal para aportes e da disponibilidade de empreiteiras, uma vez que as maiores estão proibidas de fechar novos contratos com a petroleira em razão dos desvios apontados pela Polícia Federal.
Eventuais investidores interessados em ter uma fatia minoritária nos ativos de refino --ainda que a política de preços de combustíveis no Brasil seja pouco estimulante para um sócio privado-- também poderiam ajudar na conclusão dos projetos, disse a fonte, que está envolvida na elaboração do plano.
“As duas (refinarias) estão no plano, e o timing depende de algumas variáveis”, afirmou a fonte, na condição de anonimato, sem dar detalhes sobre investimentos projetados para 2015-2019.
Procurada, a Petrobras não comentou imediatamente o assunto.
No balanço do ano passado, a companhia anunciou redução de mais de 44 bilhões de reais no valor de seus ativos, com a Rnest e o Comperj respondendo por cerca de 70 por cento dessa desvalorização, e a empresa citando diversos problemas, como falha no planejamento dos projetos. A estatal ainda contabilizou perdas de 6,2 bilhões de reais por corrupção em 2014.
Apesar dos atrasos e dos bilhões já gastos na Rnest e no Comperj, os projetos estarão no plano de negócios porque, com eles, a Petrobras ficará muito próxima de ter no futuro uma autossuficiência em refino.
A refinaria no Rio de Janeiro está com mais de 80 por cento das obras concluídas e poderá agregar até 200 mil barris de capacidade, disse a fonte. Já o segundo trem de refino da Rnest --o primeiro foi inaugurado em 2014-- também fará parte do plano de negócios, com previsão de agregar 115 mil barris/dia de processamento.
A fonte também confirmou que não mais haverá complexo petroquímico no Comperj. No início de fevereiro, a petroquímica Braskem já havia indicado desistência do projeto.
O plano de investimento para os próximos cinco anos da Petrobras, atualizado anualmente, que sempre projeta a maior parte dos aportes para a área de Exploração & Produção, também virá menor que o anterior, disse a fonte, sem detalhar.
Uma boa medida disso é intenção da Petrobras no próximo leilão de áreas exploratórias do governo, em outubro, quando a empresa terá uma atuação “precisa” e “não será megalomaníaca”, disse a fonte. Normalmente, a petroleira domina tais licitações.
INVESTIDORES PARA REFINO
Para concluir a Rnest e a unidade de refino em obras no Rio de Janeiro, a Petrobras cogita a possibilidade de fechar parcerias com investidores nacionais e estrangeiros.
Nas próximas semanas, duas missões de China e Japão estarão no país para estudar oportunidade de investimentos no Brasil, incluindo ativos da Petrobras, disse a fonte.
Afetada pela corrupção, queda do preço do barril de petróleo e um endividamento crescente, a estatal tem agora um plano de desinvestimentos em 2015 e 2016 mais agressivo, de cerca de 13 bilhões de dólares.
“Se aparecer um interessado nesse investimento, o que permitiria sobra de caixa para outros projetos, vamos fazer essa parceria. Poderíamos dar 10 ou 20 por cento de uma refinaria, por que não?”
Um investidor privado de fora do Brasil para a área de refino, porém, certamente teria mais interesse em atuar no país com uma política mais transparente de reajustes de combustíveis e que reflita cotações de mercado. A nova diretoria da estatal, no entanto, tem evitado fazer comentários detalhados sobre os preços administrados do governo.
ADVERSIDADES
O “timing” para o andamento de Comperj e Rnest esbarra na capacidade de investimentos e também nos prestadores de serviço acusados de envolvimento no esquema de sobrepreço em projetos e pagamentos de propinas.
Dependendo do andamento das investigações e dos acordos de leniência entre empreiteiras e governo, além das decisões judiciais, a Petrobras poderia recorrer a empresas de fora do país, caso fornecedores locais continuem impedidos de realizar negócios com a estatal, em função dos casos de corrupção.
“Há dois problemas para esses projetos: capacidade de investimento e problema de fornecedor. Quando os fornecedores vão fazer acordo com a Justiça e vão estar novamente habilitados para continuar? O outro problema é: em não havendo acordo de leniência, há no mercado fornecedor capacitado para continuar?”, afirmou.
A ideia da estatal, superadas as adversidades, é primeiro finalizar a obra do Comperj e depois concluir a obra da refinaria de Pernambuco, que já está em operação com seu primeiro trem de refino.
CRESCIMENTO NA PRODUÇÃO
A queda na produção mensal de petróleo da Petrobras nos primeiros meses deste ano, na comparação com o mês anterior, tem chamado a atenção do mercado e de analistas sobre a capacidade de recuperação e de geração de caixa da Petrobras.
No entanto, disse a fonte, os dados negativos do primeiro trimestre se devem a paradas programadas e não programadas de plataformas, que não comprometem a meta prevista para este ano.
“Isso é comum, tem parada programada, não programada, mais ou menos dias úteis... Mas está tudo muito bem planejado e dentro da ideia de crescimento da produção este ano de pelo menos uns 3 por cento. Dificilmente isso vai ter alteração”, adicionou.
A meta da companhia divulgada no início do ano é de um crescimento de 4,5 por cento na produção de petróleo no Brasil em 2015 ante 2014, com variação de 1 ponto percentual para mais ou para menos.
Em 2014, a produção da nacional de petróleo da Petrobras somou 2,034 milhões de barris/dia, crescimento de pouco mais de 5 por cento ante 2013 --após dois anos seguidos de queda na extração anual-- com a colaboração do pré-sal.
De acordo com a fonte, a produção no pré-sal já chegou a atingir o pico de 808 mil barris/dia de óleo equivalente (boe, petróleo e gás), e a tendência é expansionista, com possibilidade de se atingir 1 milhão de boe até 2016.