A ineficiência na gestão e a queda no preço do barril do petróleo fizeram a Petrobras liderar (e de longe) as perdas no ano passado em relação às grandes petroleiras globais que repassam seus dados à Security and Exchange Commission (SEC), órgão que regula o mercado de capitais dos Estados Unidos. Em 2014, a estatal contabilizou baixas contábeis de R$ 44,6 bilhões, mais que o dobro da segunda colocada, a britânica BP, com “ajustes” de R$ 22,1 bilhões. A conclusão faz parte de um levantamento feito pela consultoria Ernest & Young (EY). Ao todo, foram analisados os dados de seis grandes empresas de óleo e gás com atividades integradas de exploração e refino.
Na lista estão ainda a francesa Total e a anglo-holandesa Royal Dutch Shell, com perdas de R$ 21,194 bilhões e R$ 18,548 bilhões, respectivamente. Já as americanas Chevron e ExxonMobil optaram por não registrar baixas em seus balanços no ano passado. Assim, somente a Petrobras respondeu por pouco menos da metade dos ajustes, que totalizaram R$ 106,3 bilhões em 2014. Não entrou na conta o ajuste de R$ 6,2 bilhões feitos pela Petrobras por conta da Operação Lava-Jato.
Para Roberto Santos, sócio de auditoria do Centro de Energia e Recursos Naturais da EY, e outros especialistas, o valor de perdas lançadas em balanço varia de acordo com o preço que cada empresa projeta para o barril do petróleo a curto e médio prazos e do perfil de ativos, que podem incluir campos de alta produtividade e áreas de maior risco exploratório. Isso ajuda a explicar o porquê de algumas empresas não terem registrado perdas em 2014, quando a cotação do barril caiu mais de 50% em menos de seis meses.
“O fato de a Petrobras ter um número maior está relacionado ao fato de a companhia estar passando por dificuldades em razão do cenário atual”, disse Santos, da EY.
Na Petrobras, grande parte das perdas ocorreu no segmento de refino. Após os casos de corrupção, a estatal, para preservar seu caixa, suspendeu a construção do Complexo Petroquímico do Rio (Comperj), em Itaboraí, e da segunda unidade da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, gerando baixas de R$ 30,9 bilhões. Por outro lado, em gigantes como Shell, Total e BP, as perdas foram concentradas no segmento de Exploração e Produção (E&P) de áreas de petróleo e gás.
“A baixa contábil é uma tradição desde os anos 1970, quando começaram as grandes variações nos preços do petróleo. Mas, normalmente, está atrelada à E&P e não ao refino, onde as perdas estão mais relacionadas a excessos de oferta do que ao preço do petróleo. Na Petrobras, além da corrupção, a má gestão fez a companhia reconhecer uma perda pouco usual na indústria”, disse José Ronaldo Souza Júnior, professor do Ibmec/RJ.
Se as refinarias foram o nó da Petrobras, no exterior até os campos de gás e petróleo não convencional nos Estados Unidos passam por ajustes. Segundo especialistas, é o aumento da produção americana que vem derrubando os preços do petróleo, já que os países do Oriente Médio se recusam a cortar a produção. A Total, por exemplo, reavaliou a geração de caixa futura dessas áreas, assim como as de Venezuela, China e Argélia. O mesmo ocorreu com a Shell, que lançou perdas em campos de gás não convencional (tipo tight) nos EUA, como Bradford e Pinedale .
Já na BP parte das perdas está relacionada a campos de petróleo no Mar do Norte e em Angola, que tiveram suas previsões de reservas revistas diante do preço menor do petróleo. Cada empresa tem uma situação. No Brasil, a corrupção e a ineficiência elevaram as perdas, diz o advogado Claudio Pinho, professor da Fundação Dom Cabral.
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