Os investidores ficaram eufóricos na semana passada com o aumento de 5% do óleo diesel na refinaria pela Petrobras. As ações da companhia dispararam e tiveram a maior alta em 14 anos as preferenciais subiram 8,99% e as ordinárias 15,15% somente no dia seguinte ao anúncio. De "vaca sagrada" do governo, a estatal vinha se transformando, nos últimos meses, em uma espécie de patinho feio do setor, pressionada por fracos resultados e estagnação da capacidade de produção. O lucro despencou 36% em 2012, para R$ 21,2 bilhões, a empresa registrou o pior desempenho entre as dez maiores petroleiras do mundo, os custos aumentaram e a eficiência caiu.
O reajuste surpreendeu, já que a companhia havia anunciado, há pouco mais de um mês, uma alta de 6,6% na gasolina e 5,4% no diesel. Mas será que essa estratégia será suficiente para retomar o bom humor em relação à companhia? Para analistas, esse pode ser um sinal de mudança no jogo entre estatal e governo, mas o mercado ainda vai pagar para ver.
Para Ricardo Correa, da corretora Ativa, a manutenção da tendência de alta dos papéis depende de que o governo continue a reduzir a diferença de preço dos derivados de petróleo praticados no exterior em relação aos domésticos. Há expectativa de um novo reajuste da gasolina, mas, como a inflação continua pressionada, não é uma boa aposta. "Se ele vier, será no segundo semestre e se a inflação perder fôlego", prevê Luiz Augusto Pacheco, portfólio manager na boutique de investimentos Inva Capital. Em relatório, o banco Credit Suisse considerou positivo o reajuste do diesel e estima em US$ 3,6 bilhões o impacto dos dois aumentos no fluxo de caixa da companhia.
A Petrobras precisa de recursos para executar o seu bilionário programa de investimentos, de US$ 50 bilhões somente em 2013. Com os resultados mais fracos, apenas duas saídas apareciam recentemente no radar. Aumentar o endividamento, que já está próximo do limite estipulado pela empresa, ou fazer um novo aporte de capital, o que diminuiria o valor de mercado da companhia.
Para os analistas de mercado, parte da má fase da Petrobras se deve à ingerência do governo na condução dos negócios da estatal, que foi obrigada a subsidiar a venda de combustíveis no mercado interno para segurar a inflação. "A intervenção do governo afetou a credibilidade da companhia", diz Pacheco.
Para piorar, o Ministério Público encaminhou ao Tribunal de Contas da União (TCU) no fim do mês passado um pedido de investigação sobre a compra da refinaria Pasadena no Texas, em 2006, em uma operação que teria provocado um prejuízo de R$ 1 bilhão para a estatal brasileira. Agora, aparentemente, o governo pretende começar a fazer as pazes com o mercado. Resta saber se os investidores também vão levantar a bandeira branca nos próximos meses.