Há um ano, Petrobras alertou governo sobre crise do gás
O Brasil assistiu, nesta semana, às conseqüências de uma crise que tinha sido anunciada. No ano passado, a Petrobras alertou o governo sobre o risco de um corte no fornecimento de gás natural. É o que revela o conteúdo de correspondências de autoridades do setor energético.
O presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, viajará para a Bolívia para retomar nesta terça-feira (6) as negociações sobre os investimentos da empresa na exploração de gás natural boliviano. A viagem segue orientação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que defendeu a retomada da relação comercial com a Bolívia nesta tarde, em Brasília.
"Todos nós sabemos que a Petrobras tem que fazer os investimentos para que a gente possa ter mais garantias de que a Bolívia vai ter mais gás para exportar não apenas para o Brasil, mas para seu uso interno e para a Argentina", disse Lula. Em conversa telefônica nesta segunda, Lula acertou com o presidente da Bolívia Evo Morales uma visita a La Paz em 12 de dezembro para discutir também a questão do gás natural.
Em 15 minutos de diálogo, o presidente mencionou a possibilidade de retomar projetos de industrialização do gás boliviano, disse o porta-voz da Presidência, Marcelo Baumbach. Antes do encontro de dezembro, haverá uma reunião bilateral durante a Cúpula Ibero-Americana, prevista para 9 e 10 de novembro em Santiago do Chile.
José Sérgio Gabrielli se reunirá na tarde de terça-feira, em La Paz, com os diretores da estatal da estatal brasileira, Graça Foster, e da área internacional, Nestor Cerveró. Do lado boliviano, estarão o ministro de Hidrocarbonetos, Carlos Villegas, e o presidente da YPFB, Guillhermo Aruquipa.
Corte
A Petrobras informou que entrará até sexta-feira (9) com recurso contra a liminar que determinou a normalização do fornecimento de gás natural para as distribuidoras CEG e CEG-Rio. O recurso ainda está sendo preparado pelo departamento jurídico da estatal, que tem até o fim desta semana para contestar na Justiça a decisão da juíza Natacha Nascimento Gomes Tostes Gonçalves de Oliveira, expedida no dia 31 de outubro.
A redução do fornecimento, segundo a companhia, foi necessária para garantir a geração de energia elétrica das usinas a gás natural, conforme termo de compromisso assinado pela estatal com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), em maio deste ano. A estatal voltou a reafirmar nesta segunda-feira (5) que não estão previstos reajustes nas tarifas de gás natural por conta da crise de abastecimento no Rio e em São Paulo.
Lula disse nesta terça-feira que os investimentos é para garantir, também, o abastecimento de GNV para os automóveis. "O Brasil vai ter que garantir o funcionamento das termelétricas porque é para produzir energia para a sociedade brasileira. Depois você tem as indústrias e depois vocês tem os carros. Ninguém colocou um tamborzinho de gás no carro porque quis, obviamente, houve um incentivo para que eles fizessem aquilo. Portanto, nós vamos ter que fornecer às pessoas que já têm e garantir a tranqüilidade", afirmou.
Brasil x Bolívia
Em maio deste ano, a Petrobras havia se retirado da área de distribuição de produção e distribuição de combustíveis no país após a YPFB, estatal boliviana, ter assumido os ativos da empresa no país. Desde então, o Brasil também não investiu mais na área de gás natural na Bolívia - na verdade, nos últimos anos, a Petrobras teria apostado mais em explorar fontes nacionais do produto.
Pelas duas refinarias que mantinha no país, a Petrobras recebeu uma indenização de US$ 112 milhões, o que estaria abaixo do valor de mercado desses ativos - que, segundo especialistas, valeriam cerca de US$ 200 milhões.
Na época, David Zylbersztajn, ex-presidente da Agência Nacional de Petróleo (ANP), disse que a venda das duas refinarias da empresa no país por US$ 112 milhões foi uma forma de o governo se livrar de aborrecimentos e, ao mesmo tempo, garantir o fornecimento do gás natural boliviano. "Deste ponto de vista, é um negócio muito bom", afirmou Zylbersztajn.
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