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Inovação

Petroleiras tentam se redimir investindo em negócios sustentáveis

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Uma máquina que converte dióxido de carbono em combustível na startup Carbon Engineering na cidade de Squamish, British Columbia, Canadá. A empresa recebeu aporte da Chevron, Occidental Petroleum e da BHP (Alana Paterson/The New York Times) (Foto: NYT)

Todo mundo sabe que um ventilador elétrico é capaz de nos refrescar em dias quentes e úmidos. Mas será que eles também conseguiriam moderar as temperaturas cada vez mais elevadas do planeta? Algumas das maiores empresas de combustíveis fósseis do mundo gostariam de descobrir.

Este ano, a Chevron, a Occidental Petroleum e a gigante mineradora australiana BHP investiram na Carbon Engineering, uma pequena empresa canadense que alega estar a ponto de resolver um enigma crítico relacionado à mudança climática: remover o carbono já depositado na atmosfera.

A empresa colocou em prática um projeto piloto em Squamish, antiga cidade madeireira cerca de 50 quilômetros ao norte de Vancouver. Usando um enorme ventilador, está sugando grandes quantidades de ar para dentro de um contêiner depurador projetado para extrair dióxido de carbono. O gás, então, pode ser queimado ou convertido em um combustível sintético de combustão limpa. O valor desse combustível, entretanto, é muito alto.

O investimento na Carbon Engineering, assim como em outras iniciativas de redução de carbono, faz parte de um esforço crescente das indústrias de combustíveis fósseis para se manterem relevantes e lucrativas em um mundo cada vez mais aquecido. Com carros elétricos e as energias solar e eólica cada vez mais acessíveis, os executivos estão conscientes de que não mudar a forma de fazer negócio pode trazer riscos à empresa.

""Um dos imensos ventilados que a Carbon Engineering usa para "sugar" o ar e remover o dióxido de carbono da atmosfera. (Foto: Alana Paterson/The New York Times) (Foto: NYT)

Pressões de todos os lados por mais sustentabilidade

As companhias de combustíveis fósseis já enfrentam uma profusão de ações legais, deliberações de investidores e regulações que as obrigam a investir mais em energia limpa. Grupos de apoio também pressionam empresas e legisladores a manter o petróleo e o gás natural dentro do solo, desafiando o fraturamento hidráulico, especialmente na Europa, e combatendo os oleodutos responsáveis por transportar a produção obtida nas areias betuminosas do Canadá.

"É uma questão de reconhecer que a mudança climática representa riscos significativos para todos os setores da economia. O assunto não é mais visto como periférico. É um risco inerente ao mundo dos negócios e que exige uma resposta desse mesmo mundo", explicou Fiona Wild, vice-presidente de sustentabilidade e mudança climática da BHP, sobre o investimento de seis milhões de dólares (cerca de 23 milhões de reais) da empresa na Carbon Engineering.

Claro, grandes empresas de energia continuam perfurando atrás de petróleo e gás e pressionando a administração Trump e outros governos a abrir mais espaço para exploração.

Contudo, alguns negócios vêm sinalizando mudanças. A Royal Dutch Shell e a BP, por exemplo, estão vinculando a compensação às reduções de emissões. A Equinor, empresa petroleira norueguesa, planeja aumentar os gastos com energia limpa dos atuais 5 por cento para 15 a 20 por cento de investimento de capital até 2030.

A Chevron e a Occidental, que possuem assentos no conselho da Carbon Engineering, se recusaram a revelar o valor dos investimentos feitos. A empresa disse que levantou US$ 68 milhões (R$ 268 milhões) em sua mais recente estratégia de financiamento para expandir o piloto e desenvolver a primeira planta comercial.

Críticos das companhias de combustíveis fósseis alegam que esses investimentos são muito modestos e não servem para muito mais do que produzir uma manobra de relações-públicas. Por outro lado, executivos da Carbon Engineering afirmaram ter recebido com bons olhos os investimentos feitos por essas empresas; não apenas pelo dinheiro, como também por suas habilidades de lobby e engenharia.

"Agora tenho excelentes irmãos mais velhos cuidando de mim. No começo, as empresas queriam mostrar que estavam considerando se tornarem verdes. Agora, estão em ação", declarou Steve Oldham, diretor-executivo da Carbon Engineering.

A organização informou que suas instalações comerciais teriam uma série de grandes ventiladores, medindo dez metros de diâmetro, para coletar o ar e submetê-lo a um complexo processo químico. O ar seria empurrado através de canais de plástico de estrutura hexagonal revestidos de hidróxido de potássio, que se une ao dióxido de carbono. Mais produtos químicos serão incluídos para produzir pequenos grânulos brancos contendo carbono, que serão aquecidos a mais de 870 graus para formar o gás de dióxido de carbono.

Em um tipo de instalação que a companhia espera construir, o dióxido de carbono capturado poderia ser injetado no subsolo, onde ficaria inofensivo, a menos que alguma quantidade dele vazasse de volta para a atmosfera. Oldham garante que, anualmente, cada instalação poderia chegar a capturar uma quantidade de dióxido da atmosfera equivalente a 40 milhões de árvores.

Em outro tipo de instalação, o dióxido de carbono capturado poderia ser combinado com hidrogênio extraído da água para a fabricação de combustível sintético capaz de ser transformado em gasolina, diesel ou combustível de aviação. Para limitar emissões, a energia necessária para produzir hidrogênio viria do sistema de geração eólica e dos painéis solares.

O case da Carbon Engineering

O combustível sintético da empresa seria mais caro do que a gasolina convencional. Os custos de produção poderiam chegar a aproximadamente US$ 1,05 dólar (pouco mais de R$ 4), como relatado pela Carbon Engineering, em comparação ao preço médio de US$ 0,70 por litro encontrado no varejo dos Estados Unidos. Mesmo assim, poderia atrair países que gastam dezenas de bilhões de dólares em importação bruta de petróleo, como a Índia e o Japão. Normas para taxar o carbono poderiam também tornar o combustível mais atraente.

A companhia completou dizendo que os combustíveis sintéticos podem ser usados em carro-padrão, caminhão e motores de avião, além de poluírem menos que os combustíveis tradicionais.

Ao queimar, o combustível produzido pela Burning Carbon Engineering libera dióxido de carbono, mas não aumenta os níveis dos gases de efeito estufa já presentes na atmosfera, porque o processo vai reciclar o carbono já presente no ar, disseram executivos.

A Occidental quer usar a tecnologia para encontrar uma fonte sustentável de dióxido de carbono que pode ser usada tanto para ser introduzida no solo como para aumentar a pressão e extrair mais facilmente petróleo enquanto sequestra o carbono. A organização já é a maior injetora da indústria, mas, atualmente, ela injeta novamente o carbono encontrado em depósitos subterrâneos naturais – gerando pouco ou até mesmo nenhum benefício ambiental. Ao reciclar o carbono presente no ar, a Occidental espera enterrar a mesma quantidade de carbono produzida pelo seu combustível. Como benefício adicional, existe um crédito sobre impostos federais para a captura do carbono.

"Toda empresa de petróleo deveria estar lutando para se transformar em neutralizadora de carbono. No fim, acreditamos ser possível produzir carbono negativo. Falar sobre mudança climática é um momento decisivo para a indústria", esclareceu Vicki Hollub, presidente da Occidental.

O propósito da Chevron é atender a uma necessidade imediata diferente. A Califórnia exige que as refinarias e outras distribuidoras atinjam metas cada vez mais baixas de carbono nos combustíveis até 2030. A Chevron, cuja base fica em San Ramon, na Califórnia, tem duas grandes refinarias no estado que poderiam usar o combustível sintético.

"Precisamos de combustíveis com baixo carbono. O mundo precisa de combustíveis para transporte e o público os deseja, mas existe uma expectativa de diminuirmos o conteúdo de carbono. E essa é uma entre as muitas opções para fazer isso", comentou Barbara Burger, presidente da Chevron Technology Ventures.

Mas transformar as ideias ambiciosas da Carbon Engineering e outras empresas em projetos suficientemente grandes que produzam um impacto ambiental importante vai exigir um investimento considerável.

A Oldham disse que uma de suas instalações de captura e sequestro de carbono removeria 900.000 toneladas de dióxido de carbono da atmosfera anualmente, uma pequena fração dos mais de 30 bilhões de toneladas que a humanidade emite em um ano. O processo de sequestro custaria cerca de US$ 110 (R$ 433) por tonelada, valor que, no modelo da Occidental, poderia ser parcialmente amortizado pelo aumento da produção de petróleo que ele permitiria. O carbono também poderia ser usado para fazer cimento e outros materiais de construção.

Mas, no caso de uma emergência climática global aguda, os governos teriam de intervir para acelerar a remoção do carbono da atmosfera. A Oldham disse que o custo de capturar e sequestrar todo o carbono necessário para frear as mudanças climáticas seria de trilhões de dólares.

O combustível sintético da empresa também pode ter dificuldade de encontrar nichos de mercado por causa do custo.

David Keith, especialista em física aplicada de Harvard, fundador e membro do conselho da Carbon Engineering, observou que o combustível sintético será mais útil para caminhões, barcos e aviões, enquanto carros e outros veículos menores provavelmente se renderão às baterias no futuro.

"Não existe a possibilidade de ficarmos extraindo petróleo do chão, competindo uns com os outros sem regulamentação", disse Keith, referindo-se aos impostos do carbono e outras políticas ambientais. Se houver vontade política suficiente para reduzir profundamente as emissões, ele complementou, "acho que você vai ver muito desse tipo de tecnologia nas próximas duas décadas".

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