Os petroleiros da Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar) que fica em Araucária, na região metropolitana de Curitiba vão entrar em greve por tempo indeterminado a partir da zero hora desta quinta-feira (16). O motivo é o leilão do Campo de Libra, no pré-sal da bacia de Santos, previsto para o dia 21 de outubro. Segundo o presidente do Sindipetro (PR/SC), Silvaney Bernardi, a maioria dos 950 funcionários da refinaria aprovou a paralisação.
Além da Repar, a greve também deve atingir os trabalhadores da Usina do Xisto, em São Mateus do Sul, e do Terminal Aquaviário da Petrobras Transporte (Transpetro) em Paranaguá (Tepar).
"A possível privatização do Campo de Libra trouxe muita indignação aos petroleiros. O setor privado é uma ameaça que compromete o desenvolvimento do trabalho que estamos fazendo", diz Bernardi, que afirma que a Petrobras tem "toda a condição" de explorar o pré-sal. "Não tem sentido entregar a área para o setor privado e para estrangeiros. A única explicação para esse leilão é cumprir o superávit primário", critica o presidente do sindicato.
O Sindipetro de SC e PR, junto com outras entidades do Brasil, entrou com várias ações civis e populares para sustar o leilão. "Já conseguimos 259 assinaturas de deputados e senadores", conta Bernardi. Segundo ele, o leilão fere diversas regras da Lei 12.351, conhecida como a lei do pré-sal.
Uma paralisação de 24 horas dos petroleiros já havia acontecido no último dia 3. "A adesão foi grande. Esse clima que determinou a nova greve, agora por tempo indeterminado", afirma o presidente do sindicato.
A assessoria da Petrobras foi procurada, mas não havia enviado resposta oficial até as 17h40 desta quarta.
Distribuição de gás prejudicada
A paralisação, segundo Silvaney, pode afetar a distribuição de gás. "É provável que comprometa o abastecimento, já que o nível está baixo". A possibilidade se soma a distribuição já deficitária desde o fim de setembro. Houve registro até de falta de gás em algumas regiões.
A falta de gás nesse período foi causada pelo aumento do consumo gerado pelo inverno prolongado do Sul e da manutenção da Refinaria de São José dos Campos, que estava produzindo apenas um quarto de sua capacidade. A informação é da Petrobras e do Sindicato dos Revendedores de Gás do Paraná (Sinregás-PR).
Nova manifestação
Nesta quinta (17), petroleiros organizam manifestação contra o leilão de Libra na Boca Maldita, no Centro de Curitiba, a partir das 16h30. De acordo com o sindicato, haverá atos e protestos semelhantes em várias cidades do país.
Leilão
O leilão, previsto para 21 de outubro, é organizado pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). O consórcio que vencer a disputa terá que fazer um pagamento imediato de R$ 15 bilhões e firmar o compromisso de investimento mínimo de R$ 610 milhões nos primeiros quatro anos.
Três estatais chinesas, a Shell (britânica) e a Total (francesa) estão disputando o Campo de Libra. A previsão é que Libra esteja produzindo 1 milhão de barris por dia em 2020, metade do que a Petrobras levou 60 anos para obter.