No centro de um escândalo político, a Petrobras tem à frente um cenário desafiador também na área econômica. A queda na cotação do petróleo no mercado internacional reduziu a defasagem no preço dos combustíveis no mercado interno, mas obriga a empresa a lidar com uma receita menor na área de exportações. Isso pode, no longo prazo, pôr em risco seu plano de investimentos.
O preço do petróleo Brent, referência para o mercado, caiu 24% desde junho, fechando em US$ 86,01 ontem, na Bolsa de Londres. Desde setembro, as cotações seguem abaixo dos US$ 100 por barril. O recuo derrubou também o preço dos derivados, com impacto positivo na redução da defasagem dos combustíveis, que em outubro atingiu o menor nível desde que a Petrobras passou a vender gasolina e diesel abaixo do custo de importação. O fim dessa diferença, contudo, depende de um câmbio mais estável do que se tem hoje.
Esse cenário abre espaço para um reajuste dos combustíveis. O índice, contudo, deve vir abaixo do que seria necessário para compensar as perdas acumuladas na área de abastecimento que somam quase R$ 60 bilhões, segundo o Centro Brasileiro de Infraestrutura , avalia Marcelo Colomer Ferraro, especialista em Petróleo e Gás da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
A expectativa é que o aumento fique na casa de 5%, projeta Felipe Rocha, analista da corretora Guide. "A situação da Petrobras foge ao comum. Uma petrolífera se beneficia da queda do preço do petróleo. O recuo dos preços limitou o prejuízo com a importação, mas não será suficiente", afirma Felipe Rocha, analista da Guide.
Comprometimento
A redução na receita de exportações levanta dúvidas quanto à capacidade de investimento da estatal no futuro, sobretudo na área de produção e exploração, que concentra 70% dos recursos previstos até 2018. Hoje, a cotação do petróleo está bem abaixo de US$ 105 por barril, valor de referência definido pela companhia como premissa para manter a geração de caixa e financiar o plano de investimentos 2014-2018.
De acordo com o plano, o preço do petróleo recuaria a US$ 95 somente depois de 2017. "Houve uma transferência do problema. A empresa queimou caixa para cobrir a disparidade de preços e as perdas, que antes eram na área de abastecimento, agora devem se concentrar na área de exportação", afirma Kharina Freitas, analista da corretora Concórdia.
A situação desafia a petrolífera, que depende do fluxo de caixa para fazer frente ao seu plano de negócios. Segundo a analista, o preço atual do petróleo não inviabiliza o plano, mas compromete a rentabilidade dos investimentos, já que o cenário desenhado pela empresa previa outro patamar de preços para o petróleo.
Para os analistas, a saída é adotar uma política de preços mais condizente com as suas necessidades. "Não dá para sanar as perdas dos últimos anos só com um reajuste. É preciso uma metodologia de preços que limite novas perdas na área de abastecimento e dê mais transparência ao processo", afirma Rocha.
A todo vapor
Produção de óleo da estatal bate recorde pelo 9.º mês seguido
Enquanto o preço do petróleo Brent, usado como referência no mercado, atingiu o menor patamar desde dezembro de 2010, operando abaixo de US$ 90 o barril, a Petrobras bate recorde de produção pelo 9º mês seguido. Em junho, a empresa ultrapassou a marca de 2 milhões de barris de óleo por dia, o que não acontecia no país desde 2012. Em setembro, a companhia produziu 2,1 milhões de barris de óleo por dia.