Falta pouco para que o motor flex-fuel deixe de ser uma exclusividade brasileira comercializada em larga escala. O primeiro passo foi dado por uma montadora de origem francesa, que encomendou esses motores a sua subsidiária brasileira.

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A partir do segundo semestre deste ano, a PSA Peugeot Citroen, que tem fábrica em Porto Real (RJ), passará a exportar motores flex para a matriz. O negócio faz parte do crescente interesse mundial pelo álcool combustível e sua mistura à gasolina em busca da redução da emissão de poluentes além da menor dependência de petróleo importado.

``O grupo PSA Peugeot Citroen anunciou na França que a partir do segundo semestre de 2007 os modelos Citroen C4 e Peugeot 307 serão oferecidos em alguns países da Europa com motores flex-fuel do Brasil'', disse Rodrigo Junqueira, diretor de Relações Corporativas da empresa.

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As sedes das demais montadoras instaladas no Brasil, mesmo a também francesa Renault, ainda não encomendaram esses motores, que começaram a equipar os carros feitos no Brasil há três anos e já estão em 80 por cento dos veículos novos vendidos. Iniciada em 2003, a frota de flex já soma 2,6 milhão de veículos.

Todas as fábricas, no entanto, recebem crescentes delegações de interessados, vindos tanto de montadoras quanto de fabricantes de autopeças, além de representantes de governos. Eles visitam as linhas de montagem em busca da tecnologia do motor que leva dois combustíveis em qualquer proporção.

A compra dos motores 1.6 nacionais pela PSA acompanha decisão da França de comercializar o combustível chamado de E85, uma mistura de 85 por cento de etanol e 15 por cento de gasolina que chegará aos postos de abastecimento franceses no segundo semestre deste ano, segundo a Peugeot. Vai utilizar álcool feito a partir de beterraba.

O E85 também é usado nos Estados Unidos, onde o produto vem do milho, e a Suécia, entre alguns outros países, é outro mercado onde há mistura dos dois combustíveis. Mas só o Brasil faz uso do álcool combustível em larga escala.

``Apenas os EUA têm produção de álcool similar ao Brasil, mas consomem dez vezes mais gasolina do que nós'', conta Antonio Bonomi, engenheiro químico e diretor da Associação Brasileira de Engenharia Automotiva.

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A Peugeot Citroen não fixou ainda o volume a ser exportado e não revela quanto vai faturar com a operação de exportação dos motores, que são fabricados na unidade de Porto Real, no Rio de Janeiro.

Segundo a empresa, em janeiro último foram enviados cerca de 20 motores para a matriz francesa para adequação aos veículos e às regras do país.

A França também está na mira do governo brasileiro, que quer convencer o país a importar álcool. Enquanto isso, grupos franceses têm investido na compra de usinas.

O negócio mais recente foi o realizado pela Louis Dreyfus, que adquiriu cinco unidades (uma delas em fase de projeto) do grupo nordestino Tavares de Melo, aumentando sua atuação na área. O Tereos também investe pesadamente desde que colocou seu pé no país, em 2001, por meio da compra da Açúcar Guarani.

Alvo de Curiosidade

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Entre outras montadoras instaladas aqui, a Volkswagen informa que a partir de 2005 cresceu o interesse por parte de estrangeiros pela tecnologia do motor flex. Países da Europa são os principais visitantes, principalmente a Alemanha, mas já houve interessados vindos da Austrália, de Taiwan e da África do Sul.

Existe a expectativa de que o presidente norte-americano George W. Bush, que estará no Brasil nos dias 8 e 9 de março, visite uma montadora ou que carros com motor flex sejam apresentados a ele nos locais de seus compromissos, mas ainda não há confirmação. O etanol é um dos principais focos da visita.

Também há a possibilidade de que Bush visite uma usina brasileira.

As montadoras lembram que, enquanto a técnica do motor flex veio a público em 2003, o motor 100 por cento a álcool existe no Brasil desde 1979 e sempre despertou curiosidade externa.

O fechamento de negócios com o exterior em relação a esses motores esbarra em um empecilho básico: a falta de oferta de álcool combustível nos demais países.

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``Vai ser possível exportar álcool. Precisa aumentar a produção e outros países precisam ver as vantagens do álcool barato. Os EUA vão precisar importar o produto do Brasil, por mais que coloquem taxas hoje'', disse Bonomi.