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O PIB brasileiro cresceu 2,9% no ano passado, mostram dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados nesta quinta (2). No quarto trimestre de 2022 houve uma variação negativa de 0,2%, em relação aos três meses anteriores, puxada pelos juros elevados.
É o segundo ano seguido de crescimento, após a retração de 3,3% do PIB, em 2020, causada pelos efeitos da pandemia. Em 2021, a economia brasileira teve uma expansão de 5% no PIB.
O PIB totalizou R$ 9,9 trilhões em 2022. O PIB per capita alcançou R$ 46.154,6 em 2022, um avanço real de 2,2% ante o ano anterior.
Serviços foram a atividade de maior crescimento
Os serviços foram a atividade econômica com maior crescimento em 2022. A expansão foi de 4,2%; seguida pela indústria, 1,6%. Agropecuária fechou no vermelho, com uma queda de 1,7%, decorrente da queda na produção e produtividade na agricultura.
“Desses 2,9% de crescimento em 2022, os serviços foram responsáveis por 2,4 pontos percentuais. Além de ser o setor de maior peso, foi o que mais cresceu, o que demonstra como foi alta a sua contribuição na economia no ano”, analisa Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE.
Todas as atividades dos serviços tiveram crescimento: outras atividades de serviços (11,1%), transporte, armazenagem e correio (8,4%), informação e comunicação (5,4%), atividades imobiliárias (2,5%), administração, defesa, saúde e educação públicas e seguridade sociais (1,5%), comércio (0,8%) e atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados (0,4%).
“As duas atividades que mais chamam atenção estão entre as que mais cresceram em 2021, após as quedas de 2020: transportes e outros serviços, que inclui categorias de serviços pessoais e serviços profissionais. Foi uma continuação da retomada da demanda pelos serviços após a pandemia de Covid-19. Em outros serviços, podemos destacar setores ligados ao turismo, como serviços de alimentação, serviços de alojamento e aluguel de carros”, explica Palis.
Na indústria, o destaque positivo foi o desempenho da eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos (10,1%), que teve bandeiras tarifárias mais favoráveis ao longo de 2022. “O crescimento dessa atividade está muito relacionado à recuperação em relação à crise hídrica de 2021. Além do crescimento da economia, houve o desligamento das térmicas, diminuindo os custos de produção, o que contribui para o aumento do valor adicionado da atividade.
A construção (6,9%) também registrou crescimento, impulsionado pelo ano eleitoral que, tradicionalmente, apresenta um maior volume de obras públicas.
As indústrias de transformação (-0,3%) tiveram desempenho negativo, causado principalmente pela queda da metalurgia de metais ferrosos; produtos de metal; produtos químicos; produtos de madeira e de borracha e plástico.
As indústrias extrativas tiveram uma retração de 1,7% devido à queda na extração de minério de ferro. “O resultado delas está relacionado ao lockdown ocorrido na China, o maior comprador, enquanto as indústrias de transformação foram impactadas negativamente por fatores como juros altos e custos de matéria-prima elevados”, avalia Rebeca Palis.
Já a agropecuária apresentou queda de 1,7% no ano, decorrente do decréscimo de produção e perda de produtividade da atividade agricultura, que suplantou a contribuição positiva das atividades de pecuária e pesca.
“A soja, principal produto da lavoura brasileira, com estimativa de queda de produção de 11,4%, foi quem mais puxou o resultado da agropecuária para baixo no ano, sendo impactada por efeitos climáticos adversos”, explica Palis.
Consumo das famílias é a maior influência sob a ótica da demanda
Do lado da demanda, o resultado foi puxado pelo consumo das famílias, que avançou 4,3% em relação ao ano anterior. Já a despesa de consumo do governo teve uma alta de 1,5%. No setor externo, as exportações de bens e serviços cresceram 5,5%, enquanto as importações subiram 0,8%.
“Se pela ótica da oferta quem puxou foi o setor de serviços, na ótica da demanda foi o consumo das famílias. É importante dividir a demanda interna do setor externo, pois dos 2,9% do crescimento, 2 pontos percentuais foram da demanda interna principalmente do consumo das famílias, e 0,9 pontos percentuais da demanda externa, que também subiu, já que as nossas exportações cresceram mais do que as importações”, esclarece Rebeca Palis.
A formação bruta de capital fixo, que mede a capacidade de investimento de uma economia, registrou alta de 0,9%. A taxa de investimento no ano de 2022 foi de 18,8% do PIB, enquanto o observado no ano anterior foi de 18,9%.
PIB perde força no quarto trimestre
O PIB variou -0,2% no 4º trimestre de 2022 na comparação com o trimestre imediatamente anterior. A indústria mostrou retração de 0,3%, enquanto a agropecuária e os serviços apresentaram variação positiva de 0,3% e 0,2%, respectivamente. Dentre as atividades industriais, houve queda nas indústrias de transformação (-1,4%), na construção (-0,7%) e na atividade de eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos (-0,4%). O único resultado positivo foi nas indústrias extrativas (2,5%).
“Quando analisamos o setor da indústria, a única alta foi nas indústrias extrativas por causa da extração de petróleo. Todo o restante caiu”, avalia a coordenadora.
Nos serviços, as atividades de informação e comunicação (1,8%), Outras atividades de serviços (0,9%), atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados (0,9%), atividades imobiliárias (0,7%) e transporte, armazenagem e correio (0,2%) tiveram desempenho positivo.
Em contrapartida, houve queda no comércio (-0,9%) e em administração, defesa, saúde e educação públicas e seguridade social (-0,5%).
Pela ótica da despesa, houve variação positiva da despesa de consumo das famílias (0,3%) e da despesa de consumo do governo (0,3%), ao passo que houve queda da formação bruta de capital Fixo (-1,1%).
As exportações de bens e serviços cresceram 3,5%, enquanto as importações de bens e serviços caíram 1,9% em relação ao terceiro trimestre de 2022.
Segundo avaliação do Ministério da Fazenda, a desaceleração acentuada do ritmo de crescimento, repercute a reduzida liquidez no ambiente externo e os efeitos da política monetária, com taxas elevadas dos juros.
"O aumento, somado à inadimplência crescente, dificultou a tomada de crédito e os investimentos produtivos, levando à retração da atividade industrial e da formação bruta de capital fixo. Esse cenário foi parcialmente contrabalanceado pelo setor de serviços, estimulado por reajustes nos valores do programa de transferência de renda, liberação do FGTS e pelo crescimento da massa salarial ao longo do ano."
As expectativas do PIB para 2023
As expectativas para 2023 não são tão favoráveis quanto o resultado do ano passado. Apesar de o ponto médio (mediana) das expectativas ter aumentado de 0,80% para 0,84% na última semana, o desempenho do PIB tende a ser afetado pelas taxas de juro elevadas.
Relatório divulgado na primeira quinzena de fevereiro pelo Itaú mostram que os fundamentos da economia continuam apontando para um crescimento pior do que o dos últimos dois anos.
Indicadores próprios do banco sinalizam, entretanto, que a atividade econômica melhorou um pouco neste começo de ano. As perspectivas para a economia global são um pouco mais favoráveis. E o primeiro trimestre deve contar com o bom desempenho da safra, o que vai impulsionar o agronegócio.
"Nossa perspectiva é de que esse momento positivo seja temporário e que a economia retorne à tendência de desaceleração nos próximos meses. Observamos, também, que desdobramentos de eventos de crédito corporativo podem, em certos cenários, ter repercussões mais amplas, o que teria efeito restritivo sobre a atividade econômica", informam os analistas do banco
O Ministério da Fazenda também avalia que a atividade econômica poderá ter impactos positivos nos primeiros meses do ano. "Apesar do alto endividamento das famílias, a dinâmica positiva que segue sendo verificada no mercado de trabalho, a valorização real do salário mínimo e o aumento da faixa de isenção do IRPF também devem contribuir para a atividade nos primeiros meses deste ano", cita nota informativa.
Mas, o órgão lembra que há fatores que favorecem a continuidade da perda de ritmo da economia:
- Observa-se trajetória ascendente para os spreads e para o custo de crédito, além de desaceleração acentuada das concessões de crédito livre.
- O setor externo pode ser outro vetor de desaceleração, a depender do ritmo de arrefecimento da atividade global, devido ao aperto monetário em grandes economias, como a dos EUA e a da Europa.
O economista Rodolfo Margato, da XP Investimentos, aponta que a perda de tração da atividade econômica parece ter se espalhado entre os setores, em linha com a piora das condições financeiras. "Neste sentido, o enfraquecimento da economia chegou ao mercado de trabalho no final do ano passado, com diminuição expressiva da geração líquida de empregos."