O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil teve uma retração de 0,1% no segundo trimestre de 2021, na comparação com o período imediatamente anterior. O resultado vem abaixo do esperado por economistas, que projetavam ligeira alta, após o significativo resultado do primeiro trimestre, quando houve crescimento de 1,2%. Os números foram divulgados nesta quarta-feira (1°) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que classifica o resultado como "estabilidade".
Medianas de projeções para o PIB do segundo trimestre apontavam aumento da atividade econômica em torno de 0,2%. A XP Investimentos, por exemplo, esperava "modesto crescimento" de 0,3% no indicador.
A maior queda foi do setor agropecuário (-2,8%), seguida pela indústria (-0,2%). Já serviços, beneficiados pelo afrouxamento das medidas restritivas com o avanço da vacinação contra a Covid-19 e pela nova rodada do auxílio emergencial, cresceram 0,7%.
"O PIB ficou estável no segundo trimestre em relação ao primeiro, praticamente no mesmo nível pré-pandemia, mas 3,2% abaixo do pico da série, que ocorreu no quatro trimestre de 2014", diz Rebeca Palis, coordenadora de contas nacionais do IBGE.
"A agropecuária é prejudicada pela entrada da safra de café, com perspectivas de queda de produção por causa da bianualidade negativa. E a indústria, com a queda na indústria de transformação, por conta do encarecimento dos insumos e da falta deles, e a energia elétrica, água, luz e esgoto prejudicados por causa da crise hídrica", explica.
As indústrias de transformação tiveram queda de -2,2%, enquanto a atividade de eletricidade e gás, água, esgoto e atividades de gestão de resíduos, de -0,9%. Esses desempenhos compensaram a alta de 5,3% nas indústrias extrativas e de 2,7% na construção.
Frente ao segundo trimestre de 2020, auge dos efeitos econômicos provocados pela pandemia do coronavírus, o PIB apresentou crescimento de 12,4%.
No consolidado do primeiro semestre, o indicador acumula alta de 6,4%. Já no acumulado dos últimos quatro trimestres, terminados em junho de 2021, o PIB cresceu 1,8%.
De acordo com o Boletim Focus, divulgado pelo Banco Central (BC) na segunda-feira (30), a expectativa de economistas é que em 2021 o crescimento do PIB seja de 5,22%. A previsão é menor do que a da semana anterior, quando índice projetado era de 5,27%, e representa a terceira revisão consecutiva para baixo nas projeções.
"Com esse resultado do segundo trimestre, pode ser novamente revista para baixo", avalia Ana Sofia Monteiro, da Phi Investimentos. "Para 2022, a projeção atual de crescimento do PIB é de 2%, mas também tem sido revista para baixo. Isso em virtude da crise hídrica, gerando um possível racionamento e consequentemente um gargalo de crescimento."
Consumo das famílias fica estável; investimento produtivo cai -3,6%
Pela chamada ótica da demanda, o consumo das famílias ficou estável (0%), enquanto a despesa de consumo do governo cresceu 0,7% em relação ao trimestre anterior. Já a formação bruta de capital fixo, que representa o investimento produtivo, teve queda de -3,6%.
"O consumo das família ficou estável beneficiado pelos programas de apoio do governo, pela melhora no emprego e também pelo aumento do crédito a pessoas físicas. Mas, por outro lado, houve aumento na inflação, o que prejudicou a massa salarial real disponível na mão das famílias para o gasto, e a taxa de juros aumentou também nesse período", analisa a coordenadora do IBGE.
"Os investimentos caíram muito por causa do menor influxo de bens de capital no país devido ao programa do Repetro e também pela menor produção na indústria automotiva, especialmente pela falta de componentes eletrônicos."
Para Ministério da Economia, resultado mostra recuperação
Apesar do indicador negativo, a Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Economia divulgou uma nota técnica em tom otimista. "Mais relevante do que observar o número do crescimento, é analisar a sua qualidade. Importantes reformas pró-mercado e medidas de consolidação fiscal estão sendo aprovadas, lançando as bases para o crescimento sustentável do país no longo prazo", afirma trecho do comunicado.
Para a pasta, o leve recuo da economia no segundo trimestre está ligado à quebra da safra de café e à falta de insumos na indústria de transformação, em especial no setor automobilístico.
Segundo a nota, o resultado mostra que o Brasil tem recuperado a atividade econômica de forma mais rápida do que outros países. "Na amostra de mais de 30 países e grupos da OCDE [Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico] que já divulgaram seus resultados trimestrais, o Brasil apresentou desempenho do PIB acima da média no resultado interanual e no acumulado em 4 trimestres. No acumulado em 4 trimestres, o Brasil supera países desenvolvidos como o Reino Unido e Alemanha e em relação aos Emergentes, fica atrás apenas da China e do Chile", diz o texto.
Na comparação do resultado do segundo trimestre com o anterior, no entanto, o Brasil apresentou desempenho inferior a todos os países que já divulgaram seus números, segundo a OCDE.
Variação do PIB no trimestre em relação ao anterior
País | Variação |
Portugal | 4,90% |
Reino Unido | 4,82% |
Áustria | 4,25% |
Letônia | 3,69% |
Israel | 3,65% |
Holanda | 3,12% |
Espanha | 2,77% |
Hungria | 2,70% |
Itália | 2,66% |
Dinamarca | 2,20% |
Eslováquia | 2,02% |
Polônia | 1,90% |
Finlândia | 1,81% |
Romênia | 1,75% |
Alemanha | 1,63% |
Estados Unidos | 1,60% |
México | 1,47% |
Bélgica | 1,38% |
Indonésia | 1,30% |
China | 1,30% |
Noruega | 1,09% |
Chile | 1,03% |
França | 0,94% |
Suécia | 0,90% |
Coreia | 0,67% |
Canadá | 0,60% |
República Tcheca | 0,60% |
Lituânia | 0,40% |
Japão | 0,32% |
Brasil | -0,10% |
Fonte: OCDE
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