Prejudicada pela maior queda no consumo das famílias em quase duas décadas, a economia brasileira encolheu 1,5% no primeiro trimestre deste ano em relação aos três últimos meses de 2019, já descontados os efeitos sazonais. Na comparação com o primeiro trimestre do ano passado, o recuo foi de 0,3%.
O resultado do Produto Interno Bruto (PIB) nos três primeiros meses de 2020, primeiro período sob impacto da crise do coronavírus, foi divulgado nesta sexta-feira (29) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em valores absolutos, a geração de riquezas no trimestre foi de R$ 1,803 trilhão.
De acordo com o instituto, a retração no período de janeiro a março, que interrompeu uma sequência de quatro trimestres de crescimento, foi a pior desde o segundo trimestre de 2015 (-2,1%) e fez o PIB brasileiro retroceder aos patamares do segundo trimestre de 2012.
O dado, no entanto, foi afetado por apenas uma pequena parcela dos efeitos da pandemia, pois as medidas de distanciamento social no país tiveram início apenas no fim do trimestre, na segunda metade de março.
A maior parte do impacto do vírus sobre a economia brasileira tende a aparecer nos resultados do segundo trimestre, segundo o próprio Ministério da Economia, que prevê consequências "nefastas" para a população, "com aumento do desemprego, da falência das empresas e da pobreza".
Pandemia interrompeu retomada do início do ano, diz governo
Em nota, o Ministério da Economia afirmou que a pandemia e as medidas sanitárias de combate a ela "acabaram por interromper a retomada" da economia observada, segundo a pasta, nos meses de janeiro e fevereiro.
"Após dados fracos de atividade no último trimestre de 2019, os meses de janeiro e fevereiro foram marcados por bons resultados nos indicadores de arrecadação, mercado de trabalho e atividade. O aumento médio dos postos de trabalho formal foi de quase 170 mil no primeiro bimestre", diz o comunicado produzido pela Secretaria de Política Econômica.
Segundo a equipe econômica, o país terá de enfrentar quatro grandes desafios após a pandemia: desemprego, aumento da pobreza, grande número de falências e necessidade de um mercado de crédito mais eficiente.
"Dessa forma, se faz premente a continuidade das reformas estruturais findo esse período", diz a nota, defendendo a retomada da agenda de consolidação fiscal, a manutenção do teto de gastos e a aprovação de um "conjunto amplo de reformas pró-mercado".
O texto não menciona investimentos públicos, uma das bandeiras do programa Pró-Brasil, iniciativa lançada pelos ministérios da Casa Civil, Infraestrutura e Desenvolvimento Regional sem o aval de Paulo Guedes, titular da Economia, o que levou a uma troca de farpas na hoje famosa reunião ministerial de 22 de abril.
Consumo das famílias teve maior queda desde 2001; investimento cresceu
Os dados das Contas Nacionais divulgados nesta sexta pelo IBGE mostram que, pelo lado da demanda, o maior impacto negativo veio do consumo das famílias, que representa 65% do PIB. No primeiro trimestre, ele caiu 2% na comparação com o último trimestre do ano passado, já descontada a sazonalidade.
Esse tipo de despesa não diminuía desde 2016. “Foi o maior recuo desde a crise de energia elétrica em 2001”, disse a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis, em nota divulgada pelo instituto.
No primeiro trimestre, o consumo do governo ficou quase estável, com leve alta de 0,2% sobre os três últimos meses do ano passado. O melhor resultado veio dos investimentos, medidos pela Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), que avançou 3,1%.
Embora a produção nacional de máquinas e equipamentos tenha caído, aumentou a importação desses produtos. Também houve expansão no setor de petróleo e gás, segundo o IBGE.
No comércio exterior, as exportações de bens e serviços caíram 0,9%, ao passo que as importações cresceram 2,8%.
"As exportações foram bastante prejudicadas pela demanda internacional. Um dos países muito importantes para a gente que tem afetado nossas exportações é a Argentina. E a China também, que no primeiro trimestre foi o primeiro país a fechar as fronteiras. Então as nossas exportações foram bastante afetadas”, disse a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE.
Serviços e indústria puxaram queda no PIB; agropecuária avançou
Pelo lado da oferta, a queda da atividade econômica no começo do ano foi puxada pelo recuo de 1,6% no setor de serviços, que representam 74% do PIB. A indústria caiu 1,4%, ao passo que a agropecuária avançou 0,6% em relação ao trimestre final de 2019.
"Aconteceu no Brasil o mesmo que ocorreu em outros países afetados pela pandemia, que foi o recuo nos serviços direcionados às famílias devido ao fechamento dos estabelecimentos", disse Rebeca Palis, do IBGE, em nota. "Bens duráveis, veículos, vestuário, salões de beleza, academia, alojamento, alimentação sofreram bastante com o isolamento social."
Em serviços, as maiores baixas ocorreram em "outros serviços" (-4,6%), transporte, armazenagem e correio (-2,4%), informação e comunicação (-1,9%) e comércio (-0,8%). O único segmento que cresceu no período foram as atividades imobiliárias, com alta de 0,4%.
Na indústria, a maiores quedas ocorreram no setor extrativo (-3,2%) e na construção civil (-2,4%). A indústria de transformação recuou 1,4%.
"A construção civil está puxando sempre para baixo a parte da infraestrutura. O mercado imobiliário até que tem se recuperado, mas com o distanciamento social, em março, ficou um pouco prejudicado. Tanto que teve queda na ocupação no trimestre e também na fabricação dos principais insumos para a construção", disse a coordenadora de Contas Nacionais.
Abertura de empresas perdeu ritmo em março
Indicadores divulgados antes do PIB já indicavam uma desaceleração da economia brasileira a partir de março.
Segundo a Secretaria de Desburocratização do Ministério da Economia, o país teve abertura recorde de empresas no primeiro trimestre – foram 847 mil novos registros e 292 mil fechamentos.
"Com a Covid-19 o cenário mudou bastante, mas o tamanho de impacto só saberemos quando tivermos os dados de abril e maio. Os números de empresas abertas estão caindo muito", disse ao "Valor" o secretário da área, Paulo Uebel.
Recordes negativos no mercado de trabalho
Dois dados sobre mercado de trabalho divulgados nesta semana dão uma ideia um pouco mais atual do impacto do coronavírus na economia. Segundo a pesquisa Pnad Contínua, do IBGE, 4,9 milhões de brasileiros perderam o trabalho (formal ou informal) entre fevereiro e abril, um recorde.
E, conforme os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), o país fechou quase 861 mil vagas com carteira assinada apenas em abril, o pior mês de toda a série histórica, iniciada em 1992. O número reverteu a tendência de crescimento do mercado de trabalho formal e levou para o lado negativo o saldo de empregos acumulados no ano: de janeiro a abril, 763 mil vagas foram cortadas.
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