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Os serviços e o consumo das famílias devem puxar o crescimento do PIB no segundo trimestre, cujos dados serão anunciados pelo IBGE nesta quinta-feira (1.°). As expectativas sinalizam para um crescimento próximo ao registrado no primeiro trimestre, quando a economia avançou 1% em relação aos três últimos meses de 2021.
Uma espécie de prévia do PIB, calculada pelo Banco Central, sinaliza para um bom número. O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) avançou 0,57% no segundo trimestre, comparativamente ao primeiro, e 2,18% no acumulado de 12 meses.
O Monitor do PIB da Fundação Getulio Vargas (FGV) indica que a variação pode ser ainda maior. Segundo o cálculo, a atividade econômica brasileira cresceu 1,1% no segundo trimestre, em comparação ao primeiro.
Os economistas Armando Castelar e Sílvia Matos, do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV), destacam, em relatório, que o primeiro semestre foi bem mais favorável para a economia do que o esperado há alguns meses. “Foi possível manter o mesmo ritmo de expansão dos três primeiros meses do ano”, dizem.
O Bradesco projeta um crescimento robusto no segundo trimestre, próximo ao verificado no primeiro trimestre. A expectativa é de uma expansão de 0,9% em comparação com o primeiro trimestre do ano. “O resultado deve ser puxado pelo setor de serviços, do lado da oferta, e pelo consumo das famílias, do lado da demanda”, apontam os analistas do banco. O Itaú espera crescimento um pouco maior, de 1,1%.
Segundo o Ibre/FGV, que trabalha com projeção de crescimento econômico de 1% no segundo trimestre, 85% do crescimento do consumo das famílias pode ser explicado pelo setor de serviços. “A reabertura da economia, com a normalização de diversas atividades de serviços, que são presenciais, e, portanto, mais intensivas em trabalho, responde não só por parcela significativa do bom desempenho do PIB no período, mas também pelas surpresas positivas observadas no mercado de trabalho”, apontam os economistas da FGV.
O MUFG Brasil projeta uma expansão um pouco menor, de 0,7%, mas sinaliza para um crescimento adicional no terceiro trimestre. Na avaliação do banco, os estímulos ao consumo decorrentes do aumento de R$ 200 no Auxílio Brasil e a deflação mensal – ocorrida em julho e possivelmente em agosto – podem compensar o impacto negativo derivado da combinação da inflação ainda elevada em 12 meses (superior a 10% ao ano desde outubro) e da elevação da taxa básica de juros, a Selic, que começou em março de 2021.
Outro foco de atenção, segundo o banco Inter, serão os dados de investimento e uma ampliação nas discussões sobre um PIB potencial maior para o Brasil.
A equipe de análise econômica do Sicredi aponta que os dados divulgados em julho apontam para uma atividade econômica ainda resiliente no segundo trimestre, porém com sinais de desaceleração. “Os efeitos do aperto de política monetária combinados com a inflação ainda elevada já começam a se materializar.”
Serviços surpreendem expectativas
O setor de serviços vem surpreendendo as expectativas do mercado. Segundo o IBGE, no primeiro semestre houve um crescimento de 8,8% em relação a igual período de 2021. “De modo geral, o setor de serviços tem compensando parte da queda dos demais. Historicamente, indústria e comércio respondem mais rápido e mais intensamente a alterações na Selic do que os serviços”, diz o economista Eduardo Vilarim, do banco Original.
Rodolfo Margato, analista da XP Investimentos, destaca que o índice geral de serviços está 7,5% acima do nível pré-pandemia. “Olhando para os dados desagregados, entretanto, continuamos a ver números mistos neste tipo de comparação”, pondera.
O grupo de serviços prestados às famílias ainda mostra receitas cerca de 6% menores que as registradas antes da eclosão da pandemia. Por outro lado, o grupo de transporte e armazenamento está rodando 17% acima dessa referência.
A tendência para o terceiro trimestre é de que o ritmo de desempenho do setor de serviços perca força. Segundo o Santander e a Getnet, os dados da primeira quinzena de agosto mostram uma redução de 2,3% nos serviços prestados às famílias, comparativamente à primeira metade de julho.
“O enfraquecimento afasta o indicador dos níveis observados antes da pandemia”, apontam os economistas Lucas Maynard e Rodolfo Pavan, do Santander. Atualmente, o índice está 8,3% abaixo da média de 2019 e 3,9% inferior ao nível de fevereiro de 2020.
Outro setor cujos dados estão perdendo vigor, de acordo com o Santander e a Getnet, é o comércio. Segundo essa medição, na primeira quinzena de agosto houve retração de 2,6% em relação ao mesmo período do mês anterior. Há uma queda generalizada em seis das oito atividades varejistas pesquisadas, com destaque para partes e peças automotivas (-5,1%) e material de construção (-6,8%).
Indicadores diários do Itaú também apontam para esse cenário. O banco projeta que a atividade econômica deve seguir relativamente estável até o final do ano. “Estímulos fiscais devem ser contrabalançados pelos efeitos da política monetária contracionista e desaceleração da atividade global.”
O que esperar para os próximos meses
O cenário à frente promete ser desafiador, tanto interna quanto externamente. Segundo o Ibre/FGV, quatro forças têm moldado o desempenho da economia neste ano e devem continuar a fazê-lo em 2023:
- a política monetária;
- a política fiscal;
- a geopolítica; e
- a normalização das condições sanitárias, aí incluída a decisão das famílias sobre o que fazer com a poupança acumulada na fase de isolamento social.
Castelar e Matos apontam que não há como não recear que os próximos meses venham a ser um período desafiador para o consumo das famílias e a economia em geral.
“Estímulos fiscais e reduções temporárias de preços e energia e de outros preços administrados devem ajudar neste segundo semestre, mas perderão força, ou inverterão o sinal, em 2023. Os efeitos contracionistas da política monetária, mesmo que o Banco Central comece a reduzir a Selic em 2023, como aposta o mercado. A desaceleração da economia mundial, por sua vez, deve impactar negativamente os preços das commodities, ainda que não a ponto de estas retornarem ao patamar pré-pandemia”, escrevem, em relatório, os economistas da FGV.