Apesar do cenário de pouco otimismo e de dificuldades na atividade econômica, o mercado de trabalho brasileiro permanece aquecido. A taxa de desemprego no país ficou em 7,1% no primeiro trimestre do ano, 0,9 ponto porcentual abaixo do resultado verificado no mesmo período de 2013 (8%), segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, divulgada ontem pelo IBGE.
O recuo na desocupação teve influência da desistência por parte da população de buscar um emprego, mas também da geração de novas vagas. Houve aumento consistente no número de ocupados. No período de um ano, foram criados 1,77 milhão de novos postos de trabalho.
Segundo analistas, o resultado da Pnad Contínua mostra um mercado de trabalho ainda mais vigoroso no total do país do que o mostrado nas seis principais regiões metropolitanas pela Pesquisa Mensal de Emprego (PME), também do IBGE. "Pela Pnad Contínua, parece que o emprego ainda tem espaço para crescer. O cenário fora das regiões metropolitanas, para o Brasil como um todo, ainda é favorável para a ocupação", avaliou Rodrigo Leandro de Moura, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).
"Na Pnad Contínua, a queda na taxa de desemprego foi acompanhada do aumento da população ocupada, ao contrário do que acontece na PME, em que a desocupação está caindo pela queda na taxa de participação [número de indivíduos trabalhando ou buscando emprego em relação ao total de pessoas em idade para trabalhar]", lembrou José Márcio Camargo, economista-chefe da Opus Investimentos e professor do Departamento de Economia da PUC-Rio.
A Pnad Contínua mostrou uma taxa de desemprego maior no primeiro trimestre, do que no trimestre imediatamente anterior (quando a taxa foi de 6,2%), mas o movimento é considerado sazonal, explicado pela contratação de trabalhadores temporários no fim do ano para as festas de dezembro e sua consequente dispensa no início do ano seguinte.
Produtividade
Ainda assim, o número de empregados aumentou 2% em um ano. Camargo alerta que, se a ocupação cresce acima da atividade econômica, a produtividade está caindo. O Produto Interno Bruto brasileiro cresceu 1,9% no primeiro trimestre de 2014 ante o mesmo trimestre de 2013.
"Isso é um problema, porque significa que as empresas estão produzindo menos com a mesma quantidade de trabalhadores. Isso é um sinal de que a economia está muito próxima do pleno emprego. Mas é preciso aguardar uma comprovação", disse.
Mulheres são maioria na fila da desocupação
Agência Estado
Mesmo com o emprego no país mostrando força, ainda há desigualdades regionais e de gênero marcantes no mercado de trabalho brasileiro. Segundo a Pnad Contínua, a taxa de desocupação das mulheres alcançou 8,7% no primeiro trimestre de 2014, resultado significativamente maior do que o dos homens, de 5,9%. Elas são maioria na força de trabalho, mas também na fila do desemprego.
"Embora as mulheres sejam maioria na população (52,4% da população em idade de trabalhar), no mercado de trabalho, elas são minoria na ocupação (42,7%). E na fila da desocupação, elas são mais da metade (53,2%)", observou Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE.
Desempregada há um ano e meio, Maria Angélica Galeão Barbosa, 42 anos, já bateu na porta de todos os hotéis de quatro e cinco estrelas do Recife e região metropolitana, entregando currículo e tentando uma vaga no setor de reserva ou recepção. Só tem levado "não". Com graduação em Psicologia, ela fala inglês, espanhol e italiano. Angélica morou sete anos na Flórida (EUA), onde trabalhou como gerente de academia de ginástica. "Me arrependi de ter voltado", afirma.
Desigualdades
A taxa de desemprego no Nordeste ficou em 9,3% no primeiro trimestre deste ano, mais que o dobro do resultado verificado no Sul, onde foi de apenas 4,3%. "O desemprego é muito diferente entre as regiões, mas isso de alguma forma já era mostrado pela Pesquisa Mensal de Emprego. As regiões metropolitanas do Nordeste tinham taxas de desocupação maiores do que as do Sul e Sudeste", disse José Márcio Camargo, economista-chefe da Opus Investimentos.
Apesar das diferenças, é justamente no Nordeste que a geração de vagas está mais aquecida. O nível de ocupação subiu de 49,9% no 1.º trimestre de 2013 para 51,6% no 1.º trimestre de 2014.