A queda de 1,9% no PIB do segundo trimestre deste ano, divulgada nesta sexta-feira pelo IBGE, foi maior do que a prevista por analistas. Economistas consultados pela agência de notícias Bloomberg estimavam, na média, uma retração de 1,7%. Isso levou a revisões do resultado para o ano. E já há expectativa de que a atividade econômica encolha até 2,7% em 2015.
“Não há fontes de crescimento para o Brasil, pelo menos não no curto prazo. Todos vemos os índices de confiança caindo”, afirmou o estrategista-chefe do Banco Mizuho do Brasil, Luciano Rostagno, acrescentando que a revisão do PIB do primeiro trimestre, de uma queda de 0,2% para um recuo de 0,7%, mostra que a recessão é “ainda mais profunda”. “Não há sinais de que a economia chegou ao fundo do poço, então acredito que continuaremos a ver números ruins aparecendo.”
Carlos Kawall, ex-secretário do Tesouro Nacional e economista-chefe do Banco Safra, piorou a projeção para este ano logo após a divulgação do PIB. Em vez de queda de 2,2% a expectativa agora é de uma retração de 2,7%. Para 2016, também fez uma revisão para baixo: de -0,2% para -0,5%. Segundo ele, o destaque negativo foi a construção civil, que pode mostrar o impacto da Operação Lava Jato sobre o setor de infraestrutura. O resultado fiscal também ficou pior que o esperado.
“Este é um problema que governo terá de enfrentar, com CPMF ou não”, afirmou Kawall em relatório. “Em algum momento, o Brasil terá de ajustar o crescimento das despesas à realidade do Orçamento. Isso envolve reformas estruturais. A questão é se estamos no melhor momento para fazer isso.”
A Gradual Investimentos também piorou sua projeção logo após a divulgação do IBGE. Em vez de queda de 2% a expectativa para 2015 agora é de um recuo de 2,5%. “Parte desse reajuste forte é decorrente da forte revisão do PIB do 1º trimestre, na primeira leitura o PIB havia recuado no 1º trimestre contra o 4º trimestre do ano passado -0,16%, hoje foi verificado que a queda foi maior, em -0,75%. A queda do PIB foi ampla, geral e irrestrita e não fosse a melhora nas exportações líquidas e do Consumo do Governo teríamos todos os componentes em queda. Sobre o Consumo do Governo vale notar que a alta no 2º trimestre mal recompõe a queda de 1,6% no 1º trimestre”, afirmou o economista-chefe da Gradual, André Perfeito, em relatório.
O resultado do PIB veio em linha com a expectativa do Banco Fator. Por isso, a instituição manteve sua projeção de queda para o ano, que já era bem negativa, de 2,5%. Para 2016, o banco espera queda de 0,6%. Mas frisa, em relatório, que o viés “continua de piora”.
Veja alguns recordes negativos do PIB do segundo trimestre
Num cenário de desaceleração, o resultado da economia é marcado por números ruins
Leia a matéria completa“Completo colapso”
Já a Capital Economics, que previa que a economia brasileira encolhesse 1% este ano, mais do que dobrou sua projeção e, agora, acredita que o PIB registrará uma baixa de 2,5%, devido ao “completo colapso da demanda doméstica”. Em relatório, destacou que a única contribuição positiva no segundo trimestre veio do setor externo. Para 2016, manteve a expectativa de alta de 1%.
Na análise do economista-chefe de mercados emergentes da Capital Economics, Neil Shearing, uma das poucas notícias boas entre os dados apresentados foi o crescimento nas exportações. Houve aumento de 3,4% em relação ao primeiro trimestre.
“Uma contribuição positiva para o crescimento do PIB, vindo das exportações, é o primeiro sinal de que um real mais fraco está começando a trazer algum benefício para a economia brasileira”, disse Shearing à Bloomberg.
O economista-chefe para a América Latina do banco Goldman Sachs, Alberto Ramos, afirmou que quando se analisa a demanda doméstica, a contração foi bem ruim. O banco piorou a expectativa para este: queda de 2,6% em vez de 2,1%. Para o ano que vem, a previsão é de recuo de 0,4% no lugar de uma queda de 0,25%. Mas faz uma ressalva de que, se a situação econômica continuar em 2016 no mesmo ritmo deste ano, a economia pode encolher 0,8%.
“Foi muito, muito severo o corte nos gastos com investimentos e consumo privado. Foi uma queda geral e acentuada na atividade, quer se olhe do lado da oferta ou da demanda”, afirmou.
Antes da divulgação dos resultados, Kawall, do Safra, também disse que a previsão é de mais contração nos investimentos no futuro.
Para economistas, recuperação da economia será lenta
Queda forte na demanda das famílias e dificuldades da indústria deixam cenário nebuloso para 2016
Leia a matéria completaFocus
O último relatório Focus, do Banco Central (BC), divulgado na segunda-feira, mostrava que as previsões dos economistas do mercado financeiro em relação ao desempenho da economia em 2015 e 2016 pioraram mais uma vez. E a expectativa é que revisem esses números novamente na próxima edição da pesquisa, que será divulgada na próxima segunda-feira.
O Focus mostrou que o PIB deve ficar negativo em 2,06% em 2015 — foi o sexto recuo seguido. Na semana passada, pela primeira vez, a baixa chegou à casa dos 2%, ao ficar em -2,01%. Para o ano que vem, os economistas consultados pelo BC reduziram as expectativas para o PIB pela terceira semana consecutiva. O recuo de 0,15% foi revisto para baixo, passando para 0,24%.
E não foi só o dado divulgado hoje pelo IBGE que mostrou forte queda na atividade econômica de abril a junho. A economia brasileira encolheu nada menos que 1,89% no segundo trimestre do ano, nos cálculos do BC divulgados na semana passada. Foi o pior desempenho desde o primeiro trimestre de 2009, no auge da crise financeira mundial.
Segundo o BC, esse foi o terceiro trimestre seguido de retração — apenas dois períodos já caracterizam o que os economistas chamam de recessão técnica. E o dado também reforça as apostas de queda de cerca de 2% da atividade neste ano. No ano da turbulência global, a economia recuou 0,2%.
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