Contrariando analistas mais pessimistas, a economia brasileira se recuperou no último trimestre do ano passado, com um avanço de 0,7%, e alcançou um crescimento total de 2,3% em 2013, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados ontem. O resultado do Produto Interno Bruto (PIB, a soma de toda a renda gerada no país) supera a alta de 1% de 2012, mas converte-se no terceiro ano consecutivo de fraco crescimento econômico em 2011, a alta foi de 2,7%. Em 2010, o país cresceu 7,5%. Em valores, o PIB de 2013 somou R$ 4,84 trilhões.
Na média dos três anos do governo Dilma, a economia do país avançou 2%. Ao início do ano passado, esperava-se mais. Mas vários fatores contribuíram para a frustração, dentre os quais o esfriamento do consumo diante de juros maiores, crédito restrito e inadimplência ainda em patamar elevado.
A principal mudança positiva na atividade econômica nacional em 2013 foi o crescimento das fatias de investimentos (6,3%) e de agropecuária (7,0%), esta última impulsionada pela boa safra de grãos. A indústria, entretanto, viu sua fatia na geração de renda encolher para 24,9% do PIB no ano passado, atingindo a menor participação desde 2000.
O consumo das famílias desacelerou em 2013 e, apesar de ter avançado pelo 10.º ano consecutivo, teve o menor crescimento desde 2003. Segundo o IBGE, a alta no ano passado foi de 2,3%, o menor resultado desde o último registro negativo (-0,8%), em 2003. Em 2010, chegou a 6,9%. Ao mesmo tempo, o consumo do governo aumentou sua participação no PIB para o maior nível desde 2000, em meio às discussões em torno dos gastos públicos.
Pespectivas
Para 2014, a expectativa de analistas é de mais um ano de fraco crescimento econômico diante das previsões de desaceleração do emprego e do rendimento, da inflação ainda alta e do crédito restrito, além da fraca confiança de empresários e consumidores. As previsões apontam para uma taxa entre 1,8% e 2,2%.
Segundo o economista-chefe da LCA Consultores, Braulio Borges, há uma perspectiva de crescimento maior neste ano por causa do "carregamento" do avanço inesperado do PIB no fim de 2013, mas ele preferiu não rever a projeção de alta de 2,1%.
Modelo baseado no consumo se esgotou
Folhapress
O consumo mais fraco das famílias, revelado nos dados do PIB de 2013, é sinal de que o modelo de crescimento da economia está mudando. Embora positivo, o consumo privado cresceu ao menor ritmo em uma década. Entre 2004 e 2010, o Brasil experimentou um forte ciclo de aumento da renda, que sustentou a ascensão de famílias à classe média e ampliou o consumo.
Desde 2011, porém, esse ritmo de expansão moderou-se e, no ano passado, empatou com o crescimento geral da economia (2,3%). O ano de 2013 foi do investimento. Analistas sustentam que a mudança é positiva e que é o caminho para o rebalanceamento da economia. "Batemos no teto da oferta e a restrição se revela em duas áreas: no déficit externo e na inflação", afirma Marcelo Carvalho, do BNP Paribas. Como o consumo cresceu mais do que o PIB, parte da demanda foi suprida por importados.
No ano passado, o governo reduziu impostos para tentar impulsionar setores industriais afetados pelos importados e também contemplou áreas de consumo. Mas o resultado não foi dos melhores. O setor têxtil, que tem a folha desonerada desde 2012, registrou redução de 1,6% na produção. No setor automotivo, a redução do Imposto sobre Produto Industrializado (IPI) não livrou o setor de registrar um recuo de 1,6% nas vendas.