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O PIB do primeiro trimestre, que será divulgado nesta quinta-feira (2) pela manhã, deve mostrar números positivos, reflexo da reabertura econômica, da recuperação sólida do emprego, do avanço da renda disponível das famílias e do salto nos preços das commodities.
“A atividade doméstica tem se mostrado mais resiliente do que o esperado”, apontam economistas do Bradesco. O banco é uma das instituições mais otimistas em relação ao resultado dos três primeiros meses do ano: projeta alta de 1,7% sobre o último trimestre de 2021.
Boa parte dos departamentos econômicos prevê alta de no mínimo 0,9%. Uma das exceções é a consultoria MB Associados, que projeta crescimento mais fraco, de 0,6% (veja lista com projeções de 12 instituições).
Esse cenário mais favorável no início do ano está levando a uma revisão para cima nas expectativas para a economia brasileira nos 12 meses de 2022. Um levantamento feito pelo jornal Valor Econômico mostra que o ponto médio das projeções de crescimento para o PIB neste ano passou de 0,8% na primeira quinzena de maio para 1,4% na segunda quinzena.
“Projetamos crescimento em todos os setores, algo que não era observado desde o primeiro trimestre de 2021”, cita o economista Lucas Maynard, do Santander.
Expectativa para o PIB de comércio e serviços
Segundo a XP Investimentos, os serviços cresceram de forma expressiva nos três primeiros meses. A flexibilização adicional das restrições relacionadas à pandemia impulsionou segmentos como serviços de transporte e armazenagem, serviços prestados às famílias e às empresas e comércio. Mas o Santander avalia que este processo de reabertura foi retardado, um pouco, pelo surto da variante ômicron.
“O fim do uso obrigatório de máscaras na maioria dos espaços internos e a retomada de grandes eventos corporativos e sociais são exemplos importantes nesse sentido”, diz o economista Rodolfo Margato, da XP.
Outro fator que influenciou nesse desempenho foi a expansão da renda real (já descontada a inflação) disponível às famílias. A corretora projeta que houve uma expansão de 4% no comparativo entre os dois trimestres, motivada pela recuperação do emprego – tanto formal quanto informal – e o aumento das transferências governamentais de renda para as famílias de menor poder aquisitivo.
“Os setores de serviços seguem em expansão com o fim das restrições e devem puxar o crescimento no ano, apesar da cautela com o aperto monetário”, diz a economista-chefe do banco Inter, Rafaela Vitória.
O que se espera para o PIB industrial
Para a indústria, a XP espera uma alta modesta, de 0,2% em relação ao trimestre anterior, puxada pela resiliência da indústria da construção civil.
A indústria de transformação deve ter o primeiro aumento desde o fim de 2020, com destaque favorável para os segmentos de bens de consumo semi e não duráveis. Isso ocorre apesar dos gargalos nas cadeias globais de suprimentos e custos de produção e distribuição crescentes, que prejudicam a atividade.
A expectativa do Santander é mais otimista. O banco projeta um crescimento de 0,9% para o setor industrial, alavancada por indústria da transformação e construção. “Não podemos deixar de destacar que a construção civil vem surpreendendo positivamente desde o segundo semestre de 2021 e nós esperamos que seja um importante fator impulsionador do crescimento da indústria ao longo do ano”, aponta Maynard em relatório.
As perspectivas para o PIB da agropecuária
O campo, ao contrário do mesmo período do ano passado, desta vez não ajudou, ao menos nos cálculos da XP. Margato afirma que as quebras na safra de soja – refletindo condições climáticas adversas em várias regiões produtoras, especialmente nos estados sulistas – parecem ter mais do que compensado a expansão da atividade pecuária e os melhores resultados de outras culturas agrícolas (por exemplo, o milho) no período.
O Santander tem projeção diferente: espera um crescimento de 0,6% em comparação ao último trimestre de 2021, impulsionado pelos bons números da pecuária e os efeitos remanescentes da recuperação após o terceiro trimestre de 2021, quando foram registrados os impactos da estiagem. “Isso apesar da fraca produção de soja”, afirma Maynard.
O PIB pelo lado da demanda: investimento, consumo, comércio exterior
Bancos e corretoras projetam que, do lado da demanda, os grandes destaques serão o consumo das famílias e as exportações. Segundo Maynard, do Santander, a demanda doméstica vai ter uma ajuda do setor externo.
O consumo familiar foi impulsionado pelo aumento na mobilidade, aliado ao aumento da renda disponível para as famílias. “A poupança em excesso, acumulada durante a pandemia, também contribuiu para manter o consumo em alta nos últimos meses, No entanto, mantemos a cautela na projeção para o restante do ano”, aponta a economista-chefe do banco Inter.
As vendas externas foram impactadas pelo desempenho robusto das exportações de produtos agrícolas e bens industriais intermediários.
A formação bruta de capital fixo, como é conhecido o investimento produtivo, deve ter uma pequena variação. “Isso porque os investimentos permanecem em patamares elevados, graças à dinâmica ainda positiva da construção civil e à desaceleração apenas gradual do consumo aparente de bens de capital”, diz Margato, da XP.