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O Banco Mundial aponta para um cenário econômico desastroso para a América Latina e os países do Caribe em 2020. Segundo relatório divulgado no dia 12, a expectativa da instituição é de que a crise do novo coronavírus derrube o Produto Interno Bruto (PIB) da região (à exceção da Venezuela) em 4,6% neste ano.
No caso brasileiro, o cenário projetado pelo banco é ainda pior, de retração de 5% na economia. A expectativa da instituição é de que a recuperação venha já em 2021 – mesmo que tímida, com crescimento de 1,5%. Em 2022, segundo as previsões, o aumento no PIB nacional deve chegar a 2,3%.
Na análise detalhada que faz a respeito do cenário no país, o Banco Mundial aponta três fatores principais para a forte retração prevista para o PIB brasileiro em 2020 – todos relacionados, de alguma forma, ao novo coronavírus.
Veja quais são os três choques descritos no documento:
1. O impacto direto do novo coronavírus na atividade interna
O primeiro e principal choque, claro, é a crise provocada pela disseminação do novo coronavírus dentro do próprio território brasileiro. Com a implementação de medidas de isolamento social, necessárias para diminuir a velocidade de propagação da Covid-19, vários setores da economia já estão prejudicados.
Alguns deles sentiram os efeitos imediatamente, como é o caso dos setores de aviação e do turismo, que tiveram de reduzir drasticamente suas atividades. Outras áreas sofrem de forma semelhante, já que, sem que as pessoas saiam de casa, a demanda por serviços e bens considerados não essenciais também cai.
Sem receitas e com contas a pagar, a tendência é que essas empresas dispensem funcionários, a não ser que recebam ajuda suficiente do governo. Da mesma forma, o trabalho informal, que impulsionou a queda no índice de desemprego brasileiro no último ano, já sente fortemente os impactos da quarentena. Além do dano social, mais desempregados significam, também, menos consumo das famílias – e, consequentemente, menos crescimento.
2. PIB mundial também deve cair, o que significa demanda externa em baixa
O segundo fator que impacta diretamente a economia brasileira é a queda na demanda de outros países pelos produtos brasileiros, em especial as commodities agrícolas. Dois dos principais parceiros de negócios do Brasil, a China e os EUA, estão entre os países mais afetados pela pandemia.
De acordo com dados do Ministério da Economia, entre janeiro e março de 2020, os chineses compraram 28,6% de tudo o que o Brasil vendeu para o exterior (US$ 14,2 bilhões), enquanto os EUA responderam por 10,6% (US$ 5,2 bilhões).
De fato, as perspectivas para a economia global não são das mais animadoras. O Fundo Monetário Internacional (FMI), por exemplo, prevê que o planeta pode ter queda de 3% no PIB em 2020, o que representaria a pior recessão desde a crise de 1929.
3. Preços do petróleo em queda
Por fim, o país deve sofrer os efeitos da queda vertiginosa no preço do petróleo. As restrições de locomoção e a diminuição da atividade econômica ao redor do mundo fizeram com que o valor do óleo no mercado internacional caísse significativamente. Para complicar ainda mais o cenário, Rússia e Arábia Saudita entraram em conflito em torno de um acordo para reduzir a produção de petróleo – e, assim, frear a queda nos preços.
Na semana passada, após o desentendimento, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e seus aliados anunciaram um acerto para reduzir a produção. Mesmo assim, a queda na demanda deve continuar impactando os preços do produto.
No caso brasileiro, o efeito direto da queda dos preços ocorre na principal estatal do país, a Petrobras, e, novamente, nas exportações. Segundo dados do Ministério da Economia, somente óleos brutos de petróleo ou de minerais betuminosos responderam por 13% das exportações brasileiras entre janeiro e março deste ano (US$ 6,3 bilhões) – patamar só alcançado no mesmo período pela venda de soja.