A divulgação ontem do resultado do Produto Interno Bruto (PIB) agrega em um único número o tamanho do impacto da crise global sobre a economia brasileira: a somatória de tudo que o país produz caiu 3,6% nos últimos três meses do ano, na comparação com o trimestre anterior. Foi um recuo abrupto para um indicador que vinha em velocidade de cruzeiro, com crescimento de pelo menos 1,5% nas últimas comparações trimestrais, e também o pior desempenho da atual série histórica do IBGE, iniciada em 1996.
Apesar da freada brusca no fim do ano, o PIB cresceu 5,1% em 2008, pouco menos que os 5,7% de 2007, e somou R$ 2,889 trilhões. A expansão seria bem mais vigorosa não fosse a crise: até setembro, a taxa acumulada era de 6,4%. Em relação ao quarto trimestre de 2007, o PIB subiu 1,3%, contra os 6,8% do terceiro trimestre.
"A crise provocou uma ruptura no padrão de crescimento", diz Rebecca Palis, gerente das Contas Nacionais do IBGE. O resultado também foi maior do que a previsão de queda de 2% a 2,5% que era mantida por analistas até a segunda-feira.
Uma das surpresas negativas ficou por conta do consumo das famílias, queda de 2% no quarto trimestre. "O PIB veio muito pior do que todo mundo esperava. E a causa é o consumo das famílias. Não havia a expectativa de que tivesse ocorrido uma queda tão grande. O resultado da indústria já era esperado por todos", avalia Armando Castellar, economista da Gávea Investimentos.
Investimentos
A piora no crédito e nas expectativas em relação à economia levaram os empresários a interromper um ciclo de nove trimestres de alta nos investimentos. O volume de recursos destinados à ampliação da capacidade produtiva do país caiu 9,8% no quarto trimestre em relação ao trimestre anterior. Ainda assim, o indicador teve a maior expansão anual desde 1996, de 13,8%.
No ano, os investimentos em capacidade produtiva adicionaram R$ 548 bilhões à economia. No ano anterior, em valores correntes (não descontada a inflação), foi de R$ 455 bilhões. Dos 5,1% de expansão do PIB, 2,4 pontos porcentuais foram resultado da expansão nos investimentos produtivos.
"A redução nos investimentos na ampliação da produção pode ser um entrave ao crescimento quando a economia voltar a crescer", adverte Carlos Thadeu Filho, economista-chefe da SLW Asset.
O fraco desempenho dos investimentos rebateu na indústria, cujo PIB caiu 7,4% no último trimestre de 2008, a maior retração desde o quarto trimestre de 1996. "A indústria vinha num ritmo de produção, mas, com o início da crise, a demanda se frustrou, e o setor se viu obrigado a entrar em uma fase de ajuste de estoques", avalia Bráulio Borges, economista da LCA.
Agropecuária
Estimulado pela demanda externa e pela expansão da produção agrícola, o segmento agropecuário cresceu em velocidade superior à economia em 2008, pelo terceiro ano seguido. A expansão foi de 5,8%, ante 5,1% do PIB. Mas, entre o terceiro e o quarto trimestres, a taxa, que era de 1,3%, passou a ser negativa em 0,5%, reflexo da queda na demanda externa pelas commodities agrícolas.