A economia brasileira pisou no freio no terceiro trimestre e o Produto Interno Bruto (PIB) caiu 0,5% no período na comparação com o segundo trimestre. Em valores, o PIB totalizou R$ 1,2 trilhão no terceiro trimestre. A retração é a mais relevante desde o primeiro trimestre de 2009, quando houve queda 1,6% como reflexo da crise global, e ocorre num contexto de juros mais altos, crédito restrito, confiança de empresários abalada e desaceleração do rendimento dos trabalhadores.
Os dados foram divulgados na manhã desta terça-feira (3) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado contrasta com a expansão no segundo trimestre, que surpreendeu economistas e agentes do mercado financeiro na ocasião. O dado do período foi revisado de 1,5% para 1,8%. O desempenho do PIB ficou próximo das previsões de analistas. A maioria dos bancos e outras instituições previa um recuo entre 0,3% e 0,5% do segundo para o terceiro trimestre.
Nesse período, a indústria puxou o resultado para baixo com pequena alta de 0,1%, ao lado da agropecuária, cuja retração foi de 3,5%. Já os serviços, setor de maior peso na economia (superior a 60%), registraram também uma leve expansão de 0,1%.
Sob a ótica do destino dos bens e serviços que são produzidos -ou seja, as categorias de demanda-, os investimentos caíram 2,2%. O consumo das famílias avançou 2,2%. Já o consumo do governo, que tem ampliado suas despesas neste ano, teve alta de 1,2%. Na comparação com o terceiro trimestre de 2012, o PIB cresceu 2,2%. Nessa base, a indústria cresceu 1,9%. Já os serviços tiveram alta de 2,2% e a agropecuária registrou retração de 1%.
Com esse desempenho, o PIB acumulou alta de 2,3% nos três primeiros trimestres de 2013 na comparação os mesmos períodos de 2012. Já o índice acumulado nos quatro últimos trimestres mostra que, se o ano tivesse se encerrado no final de setembro, a economia do país teria avançado 2,4%. No ano fechado de 2012, o PIB registrou crescimento de 1%, dado revisado, que originalmente era de 0,9%.
A presidente Dilma Rousseff, em recente entrevista, disse que o dado de 2012 seria revisado por conta da incorporação da pesquisa de serviços e o crescimento seria corrigido para 1,5%.
Sobre o dado do terceiro trimestre, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, tinha previsto nesta segunda-feira uma expansão 2,5% no terceiro trimestre deste ano em relação ao mesmo período do ano passado.
Economia deve acelerar no 4º tri e fechar 2013 com crescimento de 2,5%
Superada a queda no terceiro trimestre, economistas projetam que a economia já vive uma fase de recuperação nestes três últimos meses do ano, capaz de levar o PIB a um crescimento em torno de 2,5% em 2013. Segundo a Rosenberg & Associados, a expansão deve ficar em 0,8% no quarto trimestre em relação aos três meses anteriores. Se confirmada, diz, a previsão é compatível com um crescimento de 2,5% -melhor do que o 1% de 2012, mas ainda num ritmo tido como fraco por especialistas.
Para a instituição, há sinais "de aceleração" do consumo interno e "perspectivas de que o investimento (que acumula alta neste ano apesar da queda no trimestre) continue em "terreno positivo". Com esse cenário, a consultoria prevê um crescimento também de 2,5% em 2014.
A Rosenberg esperava, porém, uma queda menos intensa no terceiro trimestre, de 0,2%. A LCA projetava a mesma taxa. O resultado de 0,5%, que estava dentro da faixa das estimativas da maioria dos analistas, superou a média de 0,3% das previsões de mercado, apurada pela agência de notícias Bloomberg.
A LCA ainda revê suas previsões, mas espera uma expansão de 2,1% a 2,5% neste ano. A Gradual Investimentos diz que sua projeção de 2,6% de crescimento do PIB em 2013 não deve sofrer grandes alterações.Segundo André Perfeito, economista-chefe da Gradual, a "política monetária mais austera" --ou seja, a alta dos juros pelo Banco Central acima do previsto pelo mercado-- está impondo" à economia "uma parada brusca".
Ao analisar a queda de 0,5% do segundo para o terceiro trimestre, Perfeito, vê uma mudança de cenário que afetou a economia. Ele cita a perspectiva de rebaixamento da classificação de risco da dívida brasileira, a inflação acima do teto da meta naquele período (o IPCA cedeu e voltou para próximo do topo da meta), juros mais elevados e "as maiores manifestações populares da história da República."
Para Rebeca Palis, gerente do IBGE, os números do PIB não revelam impacto das manifestações _embora a pesquisa de comércio do IBGE tenha mostrado o efeito dos protestos nas vendas do setor.