Rio de Janeiro - O Brasil parou de empobrecer, embora continue mais pobre do que no ano passado. Como se esperava no governo e no mercado, o país deixou para trás a recessão, mas os investimentos, necessários para a expansão mais duradoura da produção e da renda, ainda não se recuperaram da crise global. Pela primeira vez neste ano, o IBGE divulgou ontem resultado positivo para o PIB. De abril a junho, a economia brasileira cresceu 1,9% na comparação com o período de janeiro a março, graças principalmente a o aumento das compras à vista e a prazo e a uma recuperação da indústria. Os dois anúncios anteriores de resultados trimestrais haviam mostrado queda do PIB, o que, por uma convenção adotada informalmente em todo o mundo, significa recessão.
Em circunstâncias normais, a taxa apresentada ontem significaria um crescimento vigoroso: no segundo mandato do presidente Lula, ela só foi igualada uma vez, no fim de 2007. A diferença é que, na época, vivia-se o nono trimestre seguido de expansão; agora, a alta se dá sobre momento de estagnação. Se comparado com o mesmo período do ano passado, o segundo trimestre mostra uma queda de 1,2% na renda nacional.
Os novos números do IBGE encorajam o discurso e a esperança governista de que o país fechará o ano com um resultado acima de zero, embora não muito. Pelas expectativas gerais, há boas chances de a economia do país ter um segundo semestre 1,4% melhor que o de 2008, o mínimo necessário para evitar o sinal de negativo nas estatísticas anuais. Os resultados do terceiro trimestre são considerados favoráveis por economistas e entidades da indústria e do comércio.
Mais difícil será chegar ao crescimento anual de 1% prometido pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, que demandaria uma expansão de pelo menos 3,4% no segundo semestre. De pé, por ora, está a tese governista de que o país seria um dos primeiros a sair da crise embora não "o primeiro". Potências como Japão, Alemanha e França tiveram crescimento no segundo trimestre; emergentes como China e Índia não tiveram recessão.
Memória da crise
Mas Brasil, emergentes e potências ainda não recuperaram, ao menos nos indicadores disponíveis, o ritmo e o vigor econômico de um ano atrás, quando a quebra do banco Lehman Brothers precipitou o colapso global do crédito bancário e do comércio. No caso brasileiro, a memória da crise persiste justamente na prioridade escolhida para o governo: os investimentos.
Das fatias mais importantes e estratégicas do PIB, os investimentos obras de infraestrutura e compras de máquinas e equipamentos foram os únicos excluídos da recuperação. Permaneceram no nível do primeiro trimestre, quando haviam sofrido a maior queda medida desde 1996.