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Conjuntura

PIB volta a crescer com força. O resto é dúvida

Compare o crescimento econômico no segundo trimestre através do gráfico |
Compare o crescimento econômico no segundo trimestre através do gráfico (Foto: )

O Produto Interno Bruto (PIB) do se­­gundo trimestre será divulgado apenas no fim da próxima semana, mas os "indicadores anteceden­­tes" apontam que a expansão da economia brasileira perdeu força no período. Ainda que a atividade eco­­nômica tenha permanecido bem acima do fraco 2009, o "ritmo chinês" do primeiro trimestre deu lugar a um crescimento mais suave – que, aliás, ajudou no controle da inflação e amenizou a alta da taxa básica de juros (Selic) na última reunião do Comitê de Política Mone­tária (Copom) do Banco Central.

Mas essa desaceleração já faz parte do passado: economistas de bancos e consultorias garantem que o Brasil voltou a pisar no acelerador. Eles só não se acertam em relação à velocidade que o país vai atingir. Entre os analistas ouvidos pela Gazeta do Povo, há quem diga que o PIB crescerá num ritmo próximo de 4,5% ao ano neste segundo semestre, mas há projeções de até 6,5%. O que faz toda a diferença.

No primeiro caso, a economia estaria avançando dentro de seus limites estruturais, sem gerar grande pressão inflacionária e, portanto, sem exigir aumentos mais fortes na taxa de juros. Se confirmada a segunda hipótese, no entanto, a inflação pode se distanciar da meta e obrigar o BC a reforçar o aperto monetário.

Potencial

"Em nossa avaliação, o segundo semestre deverá ser um meio-termo entre o crescimento acelerado do primeiro trimestre e a acomodação do segundo", diz Mauro Schneider, economista-chefe do Banif Investment Bank. "Espera­mos para os próximos meses um cres­­cimento equivalente a 6% ou 6,5% ao ano. Acima, portanto, do PIB potencial. Então a lógica é que cedo ou tarde os preços voltam a se acelerar." Pelas contas de Schnei­der, o Brasil crescerá 7,5% em 2010, acima da expectativa média do mercado financeiro, de 7,1%.

O "PIB potencial" é o porcentual máximo que o país consegue crescer sem despertar o dragão inflacionário. Para a Tendências Consultoria, esse índice hoje gira em torno de 4,5% ao ano – e é algo dessa ordem que ela espera para este semestre. "De um lado, o crescimento será limitado pelo fim dos incentivos fiscais e, de outro, im­­pulsionado pelo desempenho de con­­dicionantes como emprego, renda, crédito e confiança do consumi­­dor, que continuam muito favoráveis", diz Bernardo Wjuniski, da Ten­dên­cias.

Ele diz não ver grandes riscos para a inflação no curto prazo e, embora defenda uma nova alta, acha que o BC vai manter o juro bá­­sico em 10,75% ao ano. Mas isso te­­rá seu preço. Para o analista, a instituição se verá obrigada a elevar a Selic em dois pontos porcentuais ao longo de 2011. Nessa toada, a inflação fecharia este ano em 5% e o próximo, em 5,2% – acima da meta perseguida pelo BC, de 4,5%.

Recompensa

A Tendências estima que na média de 2010 o PIB crescerá 6,6%, índice idêntico ao esperado por outra grande consultoria, a LCA. En­­tretanto, esta última vê a evolução da inflação e dos juros de forma bem distinta. Enquanto boa parte do mercado aposta em estabilidade ou alta de 0,25 ponto na Selic em 1.º de setembro, a LCA prevê aumento de 0,5 ponto. Fazendo o sacrifício agora, o cenário inflacionário ficaria confortável a ponto de dispensar novas altas do juro em 2011, avalia o economista-chefe da consultoria, Bráulio Borges.

"As condições para o cumprimento da meta serão bem mais tranquilas em 2011. A taxa de investimento do Brasil deve fechar este ano em 19% do PIB e chegar a quase 20% no próximo, o que dará mais sustentação ao crescimento", avalia Borges. A taxa de investimento é o montante que o país destina ao aumento de sua capacidade produtiva; quanto mais alta, mais fácil é crescer sem surtos inflacionários.

Fôlego

Silvio Campos Neto, economista-chefe do Banco Schahin, crê em "conforto inflacionário", mesmo que a Selic não suba e que o país cresça algo entre 5% e 5,5% de julho a dezembro, no cálculo anualizado. "Acho que o país aguenta esse ritmo. Insustentável é crescer acima de 10% ao ano, como vimos no primeiro trimestre."

Ao menos dois fatores pesam a favor dessa avaliação. Um deles é a margem de ociosidade da indústria. No primeiro semestre, ela ocupou 84,6% de sua capacidade instalada, menos que os 86% de igual período de 2008, ainda que tenha produzido mais de lá para cá. Autora do cálculo, a Fundação Getulio Vargas (FGV) atribui esse feito à maturação de investimentos feitos nos últimos tempos. O segundo fator é que a inflação segue sem dar sinais de aceleração – o IPCA-15, divulgado na sexta-feira, registrou deflação de 0,05% entre 15 de julho e 15 de agosto.

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