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Críticas

Economist sugere nova equipe econômica e irrita o governo

A última da edição da The Economist não mediu palavras para explicar a situação em que o Brasil se encontra hoje: se Dilma Rousseff quiser se reeleger daqui a dois anos, afirmou a publicação, ela precisa trocar sua equipe econômica. A revista cita nominalmente o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmando que suas previsões superotimistas o fizeram perder a credibilidade do mercado. Em outro trecho, afirma: "Dilma parece acreditar que o Estado deve direcionar as decisões de investimento privado".

A reportagem e o editorial causaram mal estar no governo. Primeiro, o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, defendeu Mantega. "No dia em que a Economist nomear ministro no Brasil, deixaremos de ser uma república federativa", disse. Mais tarde, a própria presidente se referiu ao caso. "Só quero me manifestar que em hipótese alguma o governo brasileiro, eleito pelo voto direto e secreto do povo brasileiro, vai ser influenciado por uma opinião de uma revista que não seja brasileira. Nós estamos crescendo a 0,6 neste trimestre. Iremos crescer mais no próximo trimestre. Então, a resposta é: de maneira alguma eu levarei em consideração esta, diríamos, sugestão. Não vou levar."

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Em junho, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, considerou "uma piada" a projeção de crescimento de 1,5% para o Produto Interno Bruto (PIB) em 2012, feita pelo banco Credit Suisse, dizendo que o país cresceria em torno de 4%. Ao longo do ano, as estimativas foram revisadas para baixo, mas um otimismo tímido ainda vigorava.

Até que na semana passada saiu o PIB do terceiro trimestre: alta de apenas 0,6%, bem abaixo do 1,2% previsto pelo governo. Com isso, o país deve crescer pouco mais de 1% neste ano. Com exceção do Paraguai, é o pior resultado na América Latina. Como disse o economista Alexandre Schwartsman em seu blog, a projeção de 1,5% de fato foi uma piada. "[O ministro da Fazenda] só não percebeu que a sua própria piada (crescimento de 4%) era bem mais engraçada."

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As previsões equivocadas neste ano embaralham o cenário para 2013. O governo, de novo, aposta em PIB em torno de 4%. O Credit Suisse, desta vez, acompanhou a previsão oficial, estimando o mesmo patamar de crescimento. O último relatório Focus, o primeiro de dezembro, prevê alta de 3,7%. O próprio Schwartsman aponta para algo entre 3% e 3,5%, mas com a ressalva de que "ficaria apenas moderadamente surpreso se ficasse pouco abaixo de 3%." A consultoria Rosenberg Associados é mais pessimista: 2,8%.

A diferença pode parecer pequena, mas é significativa. A discrepância entre as estimativas do governo e da Rosenberg, por exemplo, equivale a um 2012 inteiro de crescimento.

O primeiro argumento a favor de um PIB melhor em 2013 é matemático. "Estatisticamente, é muito fácil apresentar um resultado melhor após dois anos de resultados ruins", diz Lucas Dezordi, economista-chefe da Inva Capital. Ele próprio acredita em uma retomada mais forte a partir do último trimestre deste ano, se estendendo pelo ano que vem. "Não vejo uma crise mais severa na zona do euro em 2013. E os Estados Unidos devem manter o crescimento de 2%. Com isso, os investimentos aqui serão retomados", aposta.

O investimento é a grande questão para a economia brasileira no momento. Enquanto muita gente acreditava que os empresários fossem aumentar a capacidade produtiva neste ano, eles pisaram no freio. É consenso de que a taxa de investimento baixa é a maior culpada pelo "pibinho". O que exatamente motivou esse comportamento dos empresários ainda está aberto à discussão. Uns citam o cenário externo, outros, a falta de produtividade do trabalhador brasileiro.

Thais Marzola Zara, economista-chefe da Rosenberg, justifica sua posição afirmando que os investimentos vão voltar a crescer, mas nem tanto. "A indústria vai voltar a se expandir, mas não no ritmo que o governo gostaria", diz.

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Incentivo, desoneração, juro menor: nada animou empresários

2012 se mostrava um ano promissor para os empresários, com a implementação de uma série de medidas para incentivar a demanda interna. As taxas de juros caíram a níveis históricos. O governo desonerou a compra de automóveis e de produtos da linha branca. Derrubou na marra os juros dos bancos para o consumidor, incentivando o crédito e o consumo. Anunciou a redução das tarifas da energia elétrica, um dos grandes encargos da indústria, para o começo do ano que vem.

Ainda assim, os empresários pisaram no freio. Os investimentos em formação de capital bruto (em máquinas e equipamentos, um dos principais indicadores sobre o humor dos empresários em relação à economia) devem ter queda de quase 5% em relação a 2011 – o índice caiu 3,9% no acumulado do ano até o terceiro trimestre.

"O investimento pelo lado da demanda [dos empresários] está demorando a voltar a crescer", diz Thais Marzola Zara, economista-chefe da Rosenberg. Ela aponta o fraco desempenho do cenário externo e a expansão tímida do crédito como os principais fatores que inibem novos investimentos. Outro sinal negativo no último resultado do IBGE foi o setor de serviços. "O mercado esperava um desempenho um pouco melhor." O ministro Guido Mantega chegou a duvidar dos números dos serviços, pedindo uma revisão por parte do IBGE, que se negou a atender a sugestão.

Outro sinal preocupante é a produtividade do trabalhador brasileiro, o que também pode estar por trás do comportamento dos empresários. Enquanto o emprego cresceu 1,7% no acumulado dos últimos 12 meses, a economia cresceu apenas 0,9%, um forte indicativo de que a produtividade está em baixa.

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