Mercado espera redução dos juros na reunião do Banco Central que começa hoje| Foto:

O aumento do desemprego e o recuo da inflação reforçaram entre analistas a expectativa de que o Comitê de Política Monetária (Copom) inicie um ciclo de queda da taxa de juros básica (Selic) na primeira reunião do ano, que termina hoje. A aposta recorrente é de um corte de 0,50 a 0,75 ponto porcentual, mas em função da piora do quadro econômico já há quem acredite que o Banco Central possa ser mais agressivo, com um uma redução de até 1 ponto. Será a primeiro recuo da Selic, hoje em 13,75% ao ano, desde setembro de 2007.

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Apesar do dólar forte representar uma ameaça à inflação – uma vez que encarece os custos de importados e de insumos das empresas –, essa pressão ainda não provocou uma onda de repasses, segundo Arthur Carvalho Filho, economista-chefe da Ativa Corretora, que projeta uma queda de 0,5 ponto na Selic. "O dólar permanece como um fator de pressão inflacionária para os próximos meses, mas a queda dos preços das commodities e o desaquecimento da economia e do consumo estão barrando esse movimento", diz.

A piora do resultado da produção industrial e o aumento do número de demissões já sinalizam um crescimento menor do que se esperava para 2009. A Ativa prevê dois cenários dependendo do ritmo de retomada do crédito. "Se for rápido, teremos um avanço do PIB (Produto Interno Bruto) de 2,8%. Se for lento, a economia cresce 1,7%", diz.

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O mercado de juros futuros, que balizam a expectativa de mercado, vem trabalhando, nos últimos dias, com um corte de 0,75. Algumas consultorias, como a Tendências e o banco Credit Suisse, acreditam, porém, que o ambiente ruim favorece uma agressividade maior do BC e estimam uma queda de 1 ponto porcentual. De acordo com a Tendências, o impacto da crise no último trimestre sobre o crédito, as exportações e a confiança dos investidores gerou um quadro de retração de demanda e queda na produção muito maior do que se esperava.

Para Thais Marzola Zara, economista da Rosenberg Consultores Associados, a melhora dos índices de inflação é suficiente para o BC promover uma queda mais forte na taxa. A Rosenberg, que previa um corte de 0,50, agora projeta uma redução de 0,75 e que a Selic encerre 2009 em 10,75% ao ano. "O quadro mudou. Mesmo com a pressão de alta dos preços administrados e dos efeitos do câmbio, a demanda desaquecida deve segurar os preços", diz ela, que estima uma inflação de 4,5% para 2009, no centro da meta do governo.

A reunião do Copom que começou ontem é cercada de expectativa porque ela servirá também para o mercado interpretar como a autoridade monetária vê a crise. Com a divulgação dos números de desemprego, cresceu a preocupação do governo em relação ao desempenho do PIB para 2009. "Um corte de 1 ponto pode sinalizar que a crise é muito mais grave do que se esperava e que o BC admite que foi muito lento em responder à gravidade do cenário. Em compensação, indica que há uma disposição em acelerar a recuperação da economia, o que é positivo para o setor produtivo", diz Miguel José Ribeiro de Oliveira, vice-presidente da Associação Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac). Mas o executivo não acredita que o corte ultrapasse 0,75 ponto. "O BC é conservador", resume.

Em média, a redução da taxa de juros leva de seis a nove meses para chegar à economia real. Um estudo da Anefac mostra que uma queda 0,75 ponto reduzirá de 6,30% para 6,24% os juros mensais no comércio, de 10,56% para 10,50% os do cartão de crédito e de 7,91% para 7,85% no cheque especial. O consumidor que vai comprar uma geladeira que custa R$ 1,5 mil financiada em 12 vezes, por exemplo, teria, ao fim do prazo, uma redução do valor pago de R$ 2,182,44 para R$ 2.175,36.

Reversão

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Se optar pela redução, o Banco Central inverte o ciclo de alta iniciado em abril de 2008. Na época, a preocupação da autoridade monetária era com o avanço da inflação, pressionada pelos preços dos alimentos. Foram quatro aumentos seguidos, que fizeram a Selic chegar a 13,75% ao ano em setembro.

Com a piora na crise, a partir de setembro, o BC optou por manter a taxa inalterada nas duas últimas reuniões de 2008, posição criticada até mesmo pelo presidente Lula, que chegou a pedir ao presidente do BC, Henrique Meirelles, que cortasse os juros.