Brasil e Estados Unidos discutem direitos autorais
Entre discursos, reuniões bilaterais e possíveis acordos comerciais, um ponto da agenda da comitiva americana que acompanhou Barack Obama em sua visita ao país, há poucos dias, chamou atenção. O Secretário de Comércio dos EUA, Gary Locke, se reuniu com a ministra da Cultura, Ana de Hollanda. O pedido, em forma de "visita de cortesia", partiu do governo americano e tinha como pauta um tema quente para o Ministério no começo de 2011: propriedade intelectual.
"Reforma não será engavetada"
Márcia Regina Barbosa, nova titular da Diretoria de Direitos Intelectuais do MinC, se considera isenta e conciliadora.
Preços muito altos para a cultura, salários baixos e a disseminação de tecnologias baratas para trocar arquivos e queimar cds e dvds: essa é a combinação que faz dos países emergentes constantes destaques em listas dos mais piratas, afirma uma pesquisa conduzida ao longo de três anos pelo Social Science Research Council em parceria com o Centro de Tecnologia e Sociedade da Fundação Getulio Vargas.
Buscando funcionar como um contraponto independente aos estudos patrocinados pela indústria, a pesquisa afasta a maioria dos piratas de ligações com o crime organizado e alega que a principal razão para a pirataria no mundo em desenvolvimento é antes de tudo econômica.
O relatório analisou os preços piratas e oficiais no Brasil, na Índia, na Rússia, na África do Sul, no México e na Bolívia e descobriu, por exemplo, que o sistema operacional Windows original chega a custar de cinco a dez vezes mais nesses países do que nos Estados Unidos ou na Europa. Os dados mostram que o dvd pirata no Brasil, ajustado ao poder de compra da população, custa US$ 20, bem perto do preço do oficial nos Estados Unidos (US$ 24). Já a versão legal, por aqui, custa três vezes mais do que lá.
"Basicamente, grandes multinacionais formulam preços para proteger mercados de alta renda. Eles preferem isso a expandir suas atividades em mercados de baixa renda como o do Brasil ou da África do Sul. E faz que eles virem piratas", explica o sociólogo norte-americano Joe Karaganis, que chefiou o estudo.
Para ele, a confusão entre pirataria e flexibilização é incentivada pelas leis desses países, que ainda não estão adaptadas à lógica de compartilhamento que veio com a internet.
"As leis desses países lidam com a pirataria de larga escala e predominante física como fábricas de dvds piratas. É uma modalidade antiga de pirataria, e as legislações ainda não estão preparadas para as novas modalidades. Acredito que, no futuro, o enrijecimento das leis irá para capacidades básicas da internet que favorecem a troca copiar e repassar arquivos, linkar. Por isso o debate é cada vez mais delicado, porque toca em direitos como a liberdade de expressão e a privacidade", preocupa-se.
Tupiniquim
O estudo dedica 86 páginas ao Brasil, remontando a construção da noção de direito de autor no país e explicando pontos recentes como os projetos de reforma da lei de copyright, do Marco Civil e até a polêmica Lei Azeredo, criticada pela tentativa de exigir a identificação dos internautas brasileiros.
O arquivo do Media Piracy in Emerging Economies está circulando sob uma nova forma de registro, chamada Consumer's Dilemma ou Dilema do Consumidor. "Quisemos criar uma forma de distribuição que demonstrasse a nossa tese, mas invertendo quem paga a conta", diz Joe Karaganis, chefe do projeto.
Países desenvolvidos Estados Unidos, Japão, Austrália, Israel e outros têm de pagar US$ 8 para poder baixar o documento em pdf. Já para entidades que arrecadam direitos autorais, o preço é US$ 2 mil, enquanto quem mora em países emergentes pode baixá-lo de graça. "Quisemos expor o dilema entre comprar o bem pelo preço legal, pirateá-lo o que é muito fácil ou ignorá-lo. Essa é a escolha que todo consumidor tem que fazer, todos os dias."
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