Apesar de o Planalto ter se preparado para uma reação do mercado à decisão do Banco Central de manter em 14,25% ao ano a taxa básica juros (Selic), o governo não esperava movimentação tão forte na quinta-feira (21). A alta de 1,72% no dólar à vista, que atingiu a maior cotação desde o Plano Real (R$ 4,1705), e o “derretimento” dos juros futuros na BM&FBovespa causaram certa apreensão.
A expectativa do governo para esta sexta-feira é de que haja uma acomodação do mercado. Na avaliação do Planalto, no final do dia de ontem já podia ser constatada uma tendência neste sentido. Por isso, o governo espera um dia mais calmo hoje e torce para que a próxima semana inicie com prognósticos no mercado mais animadores.
A surpresa maior do governo com esta forte reação, de acordo com informações ouvidas no Planalto, ocorreu porque o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, nos últimos dias, havia mantido inúmeras conversas com representantes de diferentes segmentos do mercado, buscando obter uma pulsação do momento. O presidente do Bradesco, Luiz Trabuco, entre outros, teria sido consultado.
O governo reconhece que foi errado o timing da nota de Tombini, comentando as novas - e ruins - projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI), que, disse, seriam consideradas na decisões do Copom. A nota, admite o governo, gerou confusão no mercado, alimentando suspeitas sobre a falta de autonomia do BC. Mas, ao mesmo tempo, fontes do Planalto lembram que já havia uma corrente de economistas defendendo a manutenção da atual taxa de juros ou uma pequena elevação, porque uma nova alta significativa contribuiria para segurar a atividade econômica do país, que já está muito fria.
Além disso, as divergências entre os diretores do Banco Central também já eram conhecidas, assim como a previsão de retração da economia anunciada no relatório do FMI. Só que, com a carta de Tombini, naquele momento, “acabou por dar um sinal errado de que atenderia às pressões políticas, em um momento em já havia uma decisão técnica cristalina de manutenção das taxas de juros, deixando o mercado confuso”, disse uma fonte do Planalto.
O entendimento do governo é que, neste momento, é preciso manter o ânimo do setor produtivo, em época de recessão. Por isso mesmo, a expectativa é que, no dia 28 de janeiro, data da reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), o Conselhão, o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, já apresente medidas como as que incluem o uso de bancos públicos para abrir linhas de créditos para construção civil e pequenas e médias empresas. Assessores fazem questão de frisar que essas medidas não significarão a volta dos subsídios que marcaram o primeiro mandato de Dilma.
Barbosa vai falar ainda sobre as estratégias de ação do governo e o que tem sido feito e ainda será feito para enfrentar este momento de crise. Nesta reunião do Conselhão, pesos pesados da economia estarão presentes e os empresários serão os primeiros a terem a palavra, quando apresentarão suas queixas e demandas.
Depois, falarão o representante dos trabalhadores, seguido de outro da sociedade civil. Daí será a vez do ministro da Fazenda e depois o da Casa Civil, Jaques Wagner. A presidente Dilma encerrará o encontro. A reunião será aberta às 14h30 no Planalto. Ao convidar os presentes, o Planalto informa que está reativando o Conselhão e pedindo que os convidados apresentem propostas, visões estratégicas de seus setores, para enfrentar a crise.
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