Impacto no Paraná ainda é incerto
Ainda não há uma avaliação aprofundada dos impactos do Brasil Maior sobre a indústria paranaense. O economista e diretor-presidente do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes), Gilmar Mendes Lourenço, diz que técnicos da instituição e da Fiep devem se debruçar, em breve, sobre o plano para a execução da derradeira etapa de revisão e atualização da Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP) do estado.
Uma das medidas mais importantes a serem detalhadas pelo governo federal está na criação de um regime especial para o setor automotivo, um dos principais do estado. O diretor de relações institucionais da Anfavea (associação das montadoras), Ademar Cantero, elogiou a prorrogação do Programa de Sustentação do Investimento (PSI) e da isenção de IPI para caminhões e veículos comerciais leves, mas disse que o setor espera mais do regime especial para o setor.
Intervenção
Para Eduardo Borin, diretor de comércio exterior de uma indústria de confecções de Maringá, a intervenção do governo é necessária. "As indústrias brasileiras estão ficando em segundo plano em relação a países como a China e a Índia, onde não existem tantos encargos", compara.
A região de Maringá tem 1,2 mil confecções, que empregam cerca de 60 mil pessoas. Questionado sobre uma possível abertura de novas vagas de trabalho em razão dos benefícios do Brasil Maior, o presidente do Sindicato da Indústria do Vestuário de Maringá (Sindvest), Cassio de Almeida, afirmou que isso vai depender de quanto será economizado e da necessidade de cada empresa. (FZM e Marcus Ayres, da Gazeta Maringá)
Um erro leva a outro
Por achar que o Brasil está em guerra econômica com o mundo, o governo tenta nos "proteger" dos benefícios da globalização. Os vencedores do jogo protecionista são fáceis de apontar: são os escolhidos do governo. Como resultado, os brasileiros têm de pagar mais caro por produtos com menor variedade e/ou qualidade.
Mais de 30 medidas diferentes, que gerarão R$ 25 bilhões em reduções de impostos até o ano que vem, compõem o plano do governo federal, anunciado ontem, para estimular a competitividade da indústria nacional a partir do incentivo à inovação e à agregação de valor. Entre as principais propostas estão a extensão por mais um ano da redução de Imposto Sobre Produtos Industrializados (IPI) de alguns produtos e a desoneração da folha de pagamento de quatro segmentos, com a diminuição de 20% para 0% na contribuição do INSS.
Embora tenha sido bem recebido, por sinalizar um reconhecimento político da ameaça de desindutrialização do país, o plano Brasil Maior foi classificado por analistas e parte do setor industrial como mais um pacotão no estilo do PAC do que uma nova política industrial para o país.
"Política até 2012, 2014 no máximo? Considero as medidas anunciadas bastante positivas, mas sinto falta de um projeto de médio a longo prazo, que aponte exatamente onde o país quer chegar. Isso sim seria uma nova política", avalia o professor de Economia da Trevisan Escola de Negócios, Alcides Leite.
Nos discursos da presidente Dilma Rousseff e do ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, o plano ganhou um tom nacionalista de defesa comercial do Brasil. "Nós temos de proteger nosso mercado. Não vamos permitir que este poder de consumo seja usado de maneira predatória e irregular por importações que chegam do mundo inteiro", disse Pimentel. Ele considerou o plano "corajoso, ousado e audaz", lembrando o ineditismo de ações como a total desoneração da folha de pagamentos para confecções, móveis, calçados e softwares cuja perda de arrecadação, se houver, será sanada pelo Tesouro Nacional e a devolução imediata ao exportador de manufaturados de 3% da receita de exportação.
Parte do empresariado, no entanto, esperava uma desoneração geral das folhas de pagamento e não só de alguns segmentos, assim como uma mexida maior na carga tributária. "A desoneração da folha de pagamento deveria ser algo estendido a outros setores, como todos os de manufaturados", diz Rommel Barion, vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep).
Opinião semelhante tem o chefe de gabinete da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Lourival Júnior Franklin. O segmento alega ter acumulado um déficit de US$ 45 bilhões no comércio exterior entre 2004 e 2010. "O pacote não mexe nos três pontos principais: câmbio, juros e custos. Mas é um bom começo, com a ampliação de financiamentos com foco na inovação e a recuperação de créditos para quem exporta, algo inédito", diz Franklin.
Na avaliação preliminar da Rosenberg Consultores Associados, o Brasil Maior não será suficiente para compensar a perda de competitividade da indústria brasileira, "se não for complementado em regime de urgência por medidas de natureza mais estrutural, como a visando à redução do 'custo Brasil', como as reformas, há tanto tempo na pauta de debates, e maciços investimentos na infraestrutura logística do país."
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