Paris – Quando percebeu que os jornalistas estavam insistindo demais nas perguntas sobre possíveis demissões e fechamento de fábricas, o presidente da Renault, Carlos Ghosn, sentiu que era a hora de detalhar melhor os planos da Renault para o futuro. Muitos imaginavam que, para resgatar a rentabilidade da montadora, ele faria algo parecido com o que fez na Nissan, seis anos atrás: cortar gastos reduzindo o quadro de funcionários e desativando fábricas que não dão lucro.

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"Quando cheguei à Nissan, ela estava afundada em dívidas e a ociosidade das fábricas era de 50%, em média. Alguns podem dizer: se ele fez isso no Japão, vai fazer aqui também. Mas um empresário não pensa dessa maneira", disse Ghosn. "Não fazemos uma reestruturação pelo prazer de fazê-la. Fazemos quando não há outra saída. E falar em reestruturação da Renault é uma besteira. Não é disso que precisamos. Precisamos de novos produtos e de uma boa imagem de marca."

Essas palavras representaram um alívio para milhares de empregados da montadora, que passaram as últimas semanas tentando imaginar o que, afinal, Ghosn pretendia. No entanto, eles precisam torcer e trabalhar para que o plano dê certo. Afinal, o próprio executivo disse, logo depois: "Se não conseguirmos recuperar a rentabilidade com os novos produtos, não conseguiremos evitar uma reestruturação." A franqueza e a firmeza em suas decisões são algumas das características mais marcantes do brasileiro Carlos Ghosn. "Eu digo o que eu penso e eu faço o que eu digo", disse certa vez.

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Ghosn nasceu em Porto Velho, Rondônia, em 1954. Aos 6 anos mudou-se com a família para o Líbano, onde ficou até os 17 anos. Depois, foi sozinho para Paris, onde formou-se em Engenharia na École Polytechnique. Trabalhou na fábrica de pneus Michelan entre 1978 e 1996, quando entrou para a Renault, como vice-presidente. Mas só ganhou notoriedade mundial a partir de 1999, quando deu início a um plano que tornou lucrativa, em poucos anos, a quase falida Nissan. O sucesso foi tal que, em 2004, Ghosn foi eleito um dos três executivos mais respeitados do mundo em uma pesquisa realizada pela consultoria Price Waterhouse Coopers.