O Plano Decenal de Energia 2013-2022 (PDE) terá mais usinas térmicas que o atual, afirmou ontem o presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim. Segundo ele, as térmicas deveriam operar mais na base do sistema elétrico nacional, mas o preço alto do gás natural é um obstáculo.
"Já estamos fazendo o plano 2022 e já prevemos um pouco mais de térmica entrando. Estamos trabalhando nisso, mas devemos ter mais térmica a gás", disse Tolmasquim sem revelar os montantes.
"A grande questão é a econômica, ou seja, como que essas térmicas vão entrar sem onerar demais a tarifa, dado o preço do gás".
Com o crescimento da economia e da demanda de energia, o país precisa ampliar anualmente seus parques de geração, transmissão e distribuição. Este ano, serão mais de 8.500 megawatts (MW) em geração de energia, de acordo com a EPE. Atualmente, a geração térmica no país está em 14 mil megawatts, segundo Tolmasquim.
O presidente da EPE entende que o ideal seria o país ampliar "um pouco" a geração térmica na base ao longo do ano para aumentar ainda mais a confiabilidade do sistema e compensar a geração hidrelétrica em períodos de reservatórios em níveis baixos.
"O Brasil pode ter algumas térmicas na base, mas não muitas porque vão entrar Jirau, Santo Antônio e Belo Monte, que são (hidrelétricas) a fio dágua e vão gerar muito num período, mas em outros menos", declarou ele. "Tem de analisar quanto seria esse pouco mais...claro que para nós o interessante é ter usinas térmicas com custo variável baixo, aí elas naturalmente vão operar mais. Se só colocar hidro a fio dágua, a proporção de térmica tem de aumentar", completou ele.
Alternativa
A alternativa para o combustível das térmicas, hoje importado na forma de gás natural liquefeito (GNL), seria, de acordo com o presidente da EPE, a produção de gás não-convencional como gás de xisto, gás de folhelho e "tight" (de vários tipos de rocha).
O governo planeja para o fim desse ano um leilão de gás com foco principal nas reservas de xisto espalhadas pelo país. Nos Estados Unidos, o gás de xisto já é uma realidade com preços baixos e oferta expressiva. As estimativas da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) apontam preliminarmente para reservas de até 500 trilhões de pés cúbicos (TCFs).
Ainda ontem, a Petra Energia, especialista em grandes áreas virgens ou de baixo conhecimento geológico para a exploração de gás não-convencional, anunciou que deve fazer seus primeiros testes com o gás de xisto no Brasil em abril. "Um sucesso seria o começo de uma possível revolução", disse o presidente da empresa, Winston Fritsch.