Ponte Hercílio Luz, em Florianópolis: Santa Catarina tem a menor taxa de desemprego do país, segundo o IBGE.| Foto: Pixabay
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O desemprego diminuiu em 22 das 27 unidades da federação no segundo trimestre, o que derrubou a taxa média nacional de 11,1% (nos três primeiros meses do ano) para 9,3%, segundo o IBGE. “É um movimento de retração considerável”, disse a coordenadora de pesquisas por amostra de domicílios do instituto, Adriana Beringuy.

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A situação do mercado de trabalho, porém, varia bastante pelo país. Alguns estados exibem taxas próximas do chamado "pleno emprego". Trata-se da situação em que, teoricamente, todos os que buscam trabalho podem encontrar um com relativa rapidez, o que se reflete em taxas de desocupação geralmente entre 3% e 6% – não há consenso entre economistas sobre qual seria o índice mais preciso.

Nesse grupo estão estados como Santa Catarina e outros com forte presença do agronegócio, como Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Tocantins e Rondônia.

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Mas no outro extremo da tabela, há estados onde a desocupação hoje passa de 12% da população economicamente ativa, podendo ultrapassar 15%. É o caso de Bahia, Pernambuco, Sergipe, Rio de Janeiro e Paraíba (veja abaixo).

Taxa de desemprego por estado no 2.° trimestre de 2022

UFTAXA DE DESEMPREGO
SC3,9%
MT4,4%
MS5,2%
TO5,5%
RO5,8%
PR6,1%
RR6,2%
RS6,3%
GO6,8%
MG7,2%
ES8,0%
PA9,1%
SP9,2%
PI9,4%
CE10,4%
AM10,4%
MA10,8%
AL11,1%
AP11,4%
DF11,5%
AC11,9%
RN12,0%
PB12,2%
RJ12,6%
SE12,7%
PE13,6%
BA15,5%

Os estados mais próximos do pleno emprego

Questões estruturais ajudam a explicar por que Santa Catarina é a unidade da federação com menos desemprego. No segundo trimestre, a desocupação no estado foi de 3,9%, de acordo com IBGE. É uma taxa inferior à média das economias que integram a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que em maio foi de 4,5%. A OCDE reúne 38 países, a maioria desenvolvidos.

Pablo Bittencourt, consultor da Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc), explica que a estrutura econômica do estado é bastante diversificada e marcada por uma indústria muito forte, que responde por aproximadamente um quarto do PIB. “Todas as regiões têm algum tipo de especialização e há uma expansão de novas tecnologias em Blumenau, Florianópolis e Joinville. Esse setor está em alta”, diz.

No primeiro semestre, foram criados 84,4 mil empregos com carteira assinada em Santa Catarina, dos quais 81% nos serviços e na indústria, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Apesar de positivo, o saldo é inferior ao do mesmo período de 2021, quando o estado gerou 120,8 mil vagas.

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O bom desempenho do mercado de trabalho se reflete em mais consumo. Em Santa Catarina, as vendas do comércio varejista ampliado aumentaram 5,3% no primeiro semestre, em relação a igual período de 2021. Foi o quarto maior avanço do país. Na média nacional, o aumento nas vendas foi de apenas 0,3%.

Os outros dois estados que ocupam o pódio do mercado de trabalho do país estão no Centro-Oeste. Mato Grosso, com desocupação de 4,4%, e Mato Grosso do Sul, com 5,2%, têm forte impulso do agronegócio, que por sua vez estimula outros setores da economia.

Estimativas da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) mostram que a produção de grãos no ciclo 2021/22 deve crescer 17,7% no Mato Grosso e 14,2% no Mato Grosso do Sul, principalmente por ganhos de produtividade e preços de commodities elevados.

Um dos setores beneficiados pelo agronegócio é o comércio. Enquanto na média nacional o volume de vendas do varejo ampliado cresceu apenas 0,3% no primeiro semestre, em comparação com igual período de 2021, nos dois estados a expansão foi de 5,1% e 6,8%, respectivamente.

Em ambos, o ritmo de geração de postos de trabalho com carteira assinada está mais acelerado que no ano passado. No primeiro semestre de 2021, a economia de Mato Grosso gerou 44,9 mil empregos; em igual período deste ano, foram 50 mil. Em Mato Grosso do Sul, foram 26,9 mil na primeira metade de 2021 e 30,2 mil entre janeiro e junho de 2022.

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Onde há mais dificuldades para encontrar trabalho

A situação é bem diferente no Nordeste, onde há mais dificuldade para encontrar trabalho. As maiores taxas de desemprego no segundo trimestre estavam na Bahia (15,5%), Pernambuco (13,6%) e Sergipe (12,7%), embora o indicador tenha melhorado na comparação com o primeiro trimestre do ano.

Também estão na região as maiores taxas de subutilização da força de trabalho – indicador que mostra o percentual de pessoas desocupadas, subocupadas por insuficiência de horas de trabalho e na força de trabalho potencial em relação à força de trabalho ampliada. A liderança desse ranking (veja abaixo) é do Piauí, com subutilização de 42,3%, seguido por Sergipe (37,4%) e Bahia (34,9%).

Taxa de subutilização da força de trabalho no 2.° trimestre de 2022

UFTAXA DE SUBUTILIZAÇÃO
PI42,3%
SE37,4%
BA34,9%
MA34,3%
AL33,6%
PB31,2%
RN30,8%
PE29,2%
CE28,7%
AC28,6%
PA27,3%
AM23,9%
AP23,0%
DF22,0%
RJ20,1%
TO18,0%
SP17,9%
MG17,9%
ES16,3%
RS14,9%
GO14,7%
RR14,4%
PR13,7%
MS12,3%
RO11,2%
MT10,1%
SC7,0%

O Nordeste também lidera quanto à proporção de desalentados – aqueles que desistiram de procurar emprego. Os maiores percentuais em relação à população na força de trabalho estão no Maranhão (com 14,8%) e em Alagoas (13,7%). A Bahia tem o maior número absoluto: 612 mil desalentados. No país todo, são 4,3 milhões de pessoas nessa condição.

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Estados da região também têm, proporcionalmente, o menor número de empregados com carteira assinada dentre o total de ocupados no setor privado: no Piauí são 46,6% do total e no Maranhão, 47,8%.

Esses dois estados também estão entre os cinco com as maiores taxas de informalidade do país.

Taxa de informalidade da população ocupada no 2.° trimestre de 2022

UFTAXA DE INFORMALIDADE
PA61,8%
MA59,4%
AM57,7%
PI56,1%
BA53,1%
PE52,9%
CE52,8%
PB52,2%
SE52,0%
AP51,4%
RO50,4%
AC48,2%
RR47,9%
RN46,3%
AL45,2%
TO41,7%
ES40,1%
GO39,5%
MG38,7%
MT37,2%
RJ36,5%
MS34,3%
RS32,8%
PR32,2%
DF31,2%
SP31,1%
SC27,2%

Apesar desses números, o Banco Central destacou em seu último boletim regional, de maio, que a economia do Nordeste manteve desempenho positivo no início de 2022, com a continuidade do avanço da indústria. Dados do IBGE mostram que, no primeiro semestre, a produção industrial na região aumentou 0,3% em relação aos mesmos meses de 2021, puxada pelo bom desempenho da Bahia.

Os lojistas, por outro lado, sentem o fraco dinamismo do mercado de trabalho: as vendas no comércio varejista ampliado caíram 3,1% na Bahia e 5,3% em Pernambuco entre as primeiras metades de 2021 e 2022. A exceção é o Ceará, onde houve uma expansão de 6,1%, muito superior à média brasileira.

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O cenário é diferente nos serviços. Nas três maiores economias do Nordeste, o crescimento do setor superou a média nacional. As altas foram de 10,6% na Bahia, 13,1% em Pernambuco e 17,6% no Ceará, com destaque para serviços prestados às famílias, como alojamento e alimentação. No país todo, o avanço foi de 8,8%.

Para o BC, a recuperação do setor de serviços, a melhoria do mercado de trabalho e os efeitos dos programas de transferência de renda do governo federal devem sustentar a atividade econômica da região.

O que esperar do emprego no segundo semestre

Segundo o analista Lucas Assis, da Tendências, a queda intensa da taxa de desocupação brasileira no segundo trimestre foi causada pelo maior dinamismo de setores intensivos em mão de obra, como os serviços prestados às famílias, que cresceram 36,2% no comparativo entre os primeiros semestres de 2021 e 2022, de acordo com o IBGE.

Entre as atividades que mais cresceram estão os serviços de alojamento e alimentação, com expansão de 38,1%. A consultoria, entretanto, faz uma ressalva: são postos que tendem a apresentar baixos rendimentos e menores níveis de produtividade.

As expectativas são de que o ritmo de alta na ocupação perca força ao longo do segundo semestre. A Tendências prevê que a população desocupada deve crescer por causa da influência defasada da alta nos juros, das incertezas fiscais e políticas, e do ambiente internacional desafiador.

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O Itaú continua a detectar um forte ritmo de crescimento na ocupação – ela cresceu 6,2% em julho frente a igual mês do ano passado, segundo indicador próprio do banco –, mas nota os primeiros sinais de desaceleração. No mês anterior, a expansão fora de 6,4%.

Outro banco, o MUFG Brasil, acredita que a combinação do valor mais elevado do Auxílio Brasil – de R$ 600 até o fim do ano, pelo menos – e a inflação mais baixa esperada para o segundo semestre permitem a continuidade de algum crescimento econômico no terceiro trimestre, permitindo assim a criação adicional de empregos.

Além disso, o banco avalia que pode haver alguma redução temporária no número de pessoas em busca de emprego, o que também contribui para baixar a taxa de desocupação (formada justamente pelas pessoas que procuram trabalho).

Para o último trimestre do ano, o MUFG vê chance de um PIB mais fraco, possivelmente mostrando alguma contração impactada pelo aumento acumulado da taxa de juros. Ainda assim, a perspectiva é positiva para o emprego.

“Esperamos uma redução adicional do desemprego, beneficiada pela criação sazonal de postos de trabalho no setor de serviços devido aos feriados e às vendas de Natal”, apontam os analistas da instituição financeira em relatório.

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Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]