Curitiba – O Paraná volta a ocupar a presidência do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE), instituição de suporte financeiro do Conselho de Desen-volvimento do Sul (Codesul), pertencente aos três estados da Região Sul – Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

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O paranaense Carlos Frederico Marés de Souza, à frente do banco nos próximos 16 meses, pretende incentivar principalmente as pequenas e médias empresas a apresentarem projetos para financiamento.

Advogado e professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC/PR), Carlos Marés as-sume o BRDE no melhor mo-mento da instituição, fundada em 1961. Só em 2005, o banco aplicou R$ 1 bilhão em projetos nos três estados.

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Gazeta do Povo – Quais são as prioridades do banco para os próximos 16 meses?

Carlos Marés – A prioridade é o desenvolvimento das áreas da Região Sul com o menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Quando olhamos o mapa de investimentos de longo prazo com dinheiro público, onde o BRDE trabalha, vemos que falta crédito nas regiões mais pobres. Ao levarmos dinheiro para essas regiões alavancamos o desenvolvimento, o emprego, a melhoria de renda e de vida e também a arrecadação de impostos. Conseqüentemente, os investimentos públicos são maiores e o IDH aumenta. O único problema é a falta de projetos. As re-giões mais ricas são mais bem informadas e, portanto, as que mais apresentam projetos.

De que forma as empresas dos municípios mais pobres serão incentivadas a apresentar projetos?

Estamos buscando a sociedade organizada nesses municípios. A principal organização dos municípios são as prefeituras, mas também poderemos contar com as associações comerciais e industriais, associações de bairro, sindicatos, cooperativas. Nós vamos propor que façam projetos, mesmo que pequenos, para que possamos levar o crédito até eles.

Há regiões prioritárias?

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Sim. Já temos definidas algumas regiões de cada um dos três estados. No Paraná são as regiões Noroeste, Central, Norte Pioneiro e Litoral. No Rio Grande do Sul a prioridade será para a região Sul e em Santa Catarina a região Oeste.

Este ano o BRDE deve encerrar o ano com investimentos da ordem de R$ 1 bilhão. Como o sr. avalia a colocação desses recursos?

Nós temos R$ 2,7 bilhões investidos em ativos nos três estados. Nossos empréstimos no geral são de cinco anos. Se esse R$ 1 bilhão tivesse se repetido anualmente nos últimos cinco anos, nós teríamos R$ 5 bilhões. O valor de R$ 1 bilhão significa que nós em 2005 fizemos praticamente o dobro da média dos últimos cinco anos.

O que levou a uma maior procura de recursos em 2005? Algum programa de incentivo do BRDE?

O BRDE vem apostando na economia desde 1961, quando foi criado. A sua finalidade é essa. Mas o banco era muito passivo. Agora, aprendemos a buscar projetos e a ensinar as pessoas a elaborarem projetos.

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Qual a área que recebeu maior volume de recursos?

A agricultura.

Essa é uma prioridade do BRDE?

É o setor em que o BRDE mais investe, mas é difícil dizer que a prioridade seja a agricultura, que tem políticas de crédito muito favoráveis. Através do Plano Safra e do Pronaf, o produtor consegue recursos a custos muito baixos e de longo prazo. Entretanto, essa facilidade não existe para a indústria, para o comércio e para a infra-estrutura. Portanto, não há uma política nacional de bons créditos para as cidades, mas só para a agricultura. É possível trabalhar com o crédito da agricultura no processo de transformação. Isto é, fazer com que a agricultura utilize recursos para agregar valor ao produto agrícola. É esse o nosso ponto forte e onde queremos chegar nas regiões mais pobres.

2006 será um ano de eleições. O BRDE terá condições de repetir a oferta de R$ 1 bilhão para empréstimos?

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O BRDE é um banco controlado por três estados. As decisões são coletivas. Não acredito que as eleições alterem a forma de decisão e a qualidade dos financiamentos. Por outro lado, deverá ser um ano muito bom, porque buscaremos o desenvolvimento local e nas prefeituras não haverá eleições.

A indústria vai apostar em novos investimentos, mesmo tendo pela frente um período de dúvida sobre quem será o novo presidente da República?

O investimento que o BRDE faz, que é de longo prazo, acima de cinco anos, está acima de um mandato presidencial. O ano eleitoral não deverá modificar a vontade dos empresários em investir, especialmente os pequenos, justamente quem estamos buscando. A maior parte do dinheiro que temos emprestado é para a pequena e média empresa, não para a grande.

Isso significa que as grandes empresas não terão acesso aos recursos do banco?

Nem as grandes empresas e nem as regiões ricas ficarão de fora. Muito pelo contrário. O que acontece é que as grandes empresas e as regiões ricas têm muita facilidade em tomar crédito no BRDE. Não precisam de qualquer esforço do banco, porque elas têm projetos bem elaborados, contratam consultores. Já a pequena empresa tem dificuldade em montar um projeto, em contratar consultorias. Não há falta de recursos nem para a pequena e muito menos para as grandes empresas.

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Como está a apresentação de projetos culturais?

Temos usado toda a nossa capacidade de dirigir recursos para a Lei Rouanet. A produção de cultura é também uma produção de riqueza. Do ponto de vista do incentivo propriamente dito, o que temos feito é através da lei de incentivo fiscal. Temos uma vontade muito grande de aprofundar o desenvolvimento de novos produtos culturais. Queremos fazer investimento cultural da mesma forma que financiamos uma fábrica de bolacha. É possível investir num teatro ou num cinema. O grande desafio é a apresentação desse tipo de projeto e mostrar que ele é rentável.