O presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Marcio Pochmann, pretende atualizar a metodologia do Produto Interno Bruto (PIB), com novos padrões para coleta de dados. A nova fórmula deve ser apresentada ainda este ano, segundo declarou em entrevista publicada nesta segunda-feira (5) pelo "Correio Braziliense".
Pochmann disse que a atualização servirá para mensurar as transformações econômicas vividas pela economia mundial.
"Não é algo que emerge de uma visão específica. Isso é discutido em congressos, estatísticas internacionais, no interior dos institutos nacionais e estatística, uma grande preocupação em atualizar a capacidade metodológica de capturar as transformações que estão em curso na economia mundial", disse Pochmann.
"Toda vez que há um avanço metodológico, percebe-se que há partes que compõem o valor agregado da atividade econômica, que não havia sido capturada. Então, os PIBs terminam atualizando a forma de medida, sendo atualizado à medida que se consegue, de forma padronizada no mundo, algo que antes não se tinha condições de medir", destacou o presidente do IBGE.
Para ele, a metodologia vai permitir o reconhecimento de novas atividades no setor de serviços e, sobretudo, na economia digital. Uma parte, como trabalhadores de plataformas e aplicativos, já é mensurada pelos modelos oficiais. Mas, segundo ele, ainda há lacunas.
"Fizemos, recentemente, uma pesquisa inédita sobre os trabalhadores de plataformas. Não se sabia precisamente quantos trabalhadores estariam nessa atividade no Brasil e a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) capturou isso. Mas ainda não medimos, por exemplo, os trabalhadores de redes sociais monetizadas, quantos youtubers, por exemplo, existem", destacou.
Identificado com ala mais à esquerda do PT, Pochmann sofreu resistência
O nome de Pochmann sofreu resistências de agentes de mercado quando foi anunciado ao comando do IBGE, no ano passado. Integrante da ala mais à esquerda do Partido dos Trabalhadores, foi acusado de interferir diretamente na linha de atuação e nos dados divulgados pelo Instituto de Pesquisas Especiais Aplicadas (Ipea) em sua gestão à frente do órgão, entre 2007 e 2012.
Pochmann atribuiu as desconfianças a um "preconceito de classe", alegando que a manipulação de dados existiu no país apenas durante a ditadura militar, quando a inflação era calculado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), que é privada.
"A instituição [IBGE] teve presidentes vinculados ao mercado financeiro, neoliberais e de extrema-direita, mas nunca teve questionamento dessa natureza. Jamais pensaria em algo como manipulação e censura. No entanto, entendo também que há um preconceito de classe, que vem de determinados segmentos, porque eu sou o primeiro presidente da instituição que é um economista do trabalho", disse.
O economista, graduado pela Universidade de Campinas (Unicamp), destacou que as condutas do órgão, sob sua gestão, seguem o código de boas práticas em estatísticas. "Tudo o que fazemos de maneira geral, está padronizado em termos internacionais, para permitir a comparabilidade", afirmou.
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