Rio de Janeiro - A manutenção do poder de compra dos trabalhadores tem garantido um feito inédito para o setor de serviços no país, que registrou um desempenho positivamente diferenciado dos outros setores desde o início dos efeitos da crise internacional na economia. O setor de serviços foi o único a escapar da recessão técnica que afetou o PIB do Brasil entre o quarto trimestre do ano passado e o primeiro trimestre de 2009, segundo ressalta o economista-chefe da LCA Consultores, Braulio Borges.
"Antes as crises elevavam a inflação e reduziam o poder de compra, afetando também os serviços. Agora, há um desempenho inédito deste setor em meio à crise econômica", ressalta Borges. A projeção da LCA é que esse setor registre um crescimento de 2,6% este ano, bem acima da variação de 0,5% projetada para o PIB total no período. No primeiro semestre, de acordo com o IBGE, o PIB desse setor aumentou 2,1%, ante uma queda acumulada de 1,5% do PIB total no período.
O economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale acredita que os serviços vão crescer 2,4% em 2009, ante uma variação total do PIB de 0,2% no ano. Ele lembra que os serviços foram fundamentais para "segurar a economia" desde o início da crise e ressalta que a indústria caiu 8,6% no primeiro semestre enquanto os serviços subiram 2,1%, na comparação com o mesmo período do ano passado.
Ainda de acordo com Vale, a queda na indústria foi responsável por uma contribuição negativa de 2,4 ponto porcentual no PIB do primeiro semestre, enquanto os serviços deram uma contribuição positiva de 1,3 ponto porcentual no mesmo período. "Obviamente não foi suficiente para compensar todo o mal resultado da indústria, mas evitou um cenário muito pior", sublinha.
O chefe do departamento de economia da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Carlos Thadeu de Freitas, observa que a resistência dos serviços em meio aos piores efeitos da crise pode ser explicada, entre outros fatores, pelo fato de que, ao contrário da agropecuária e da indústria, esse setor não sofre com elevados estoques. Além disso, assim como Borges e Vale, ele cita a manutenção do aumento da renda, mesmo em menor ritmo do que no ano passado, como um fator crucial para garantir o bom desempenho dos serviços no PIB. "Quando a renda aumenta, acaba chegando aos serviços, já que sobra algum rendimento para lazer e cultura", disse.
Borges explica que é natural que, quanto mais a economia se desenvolve, mais aumenta o peso dos serviços no PIB, já que a ascensão social permite aos trabalhadores um perfil de consumo que vai além dos bens como automóveis e alimentos e inclui entretenimento, serviços bancários e até a contratação de terceiros para lavagem de roupas e carros.