A Polícia Civil do Pará prendeu cinco suspeitos de participarem do quebra-quebra ocorrido em três frentes de obras da Usina Hidrelétrica de Belo Monte. De acordo com o superintendente regional da Polícia Civil no Xingu, Cristiano Nascimento, as prisões foram feitas a partir de fotos e filmagens feitas por seguranças do Consórcio Construtor Belo Monte (CCBM), grupo responsável pelas obras civis relacionadas ao empreendimento.

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"Essas imagens nos possibilitou identificar cinco pessoas que participaram desses atos de vandalismo. De início eles negaram qualquer participação, mas ao verem o vídeo mudaram de estratégia e passaram a ficar calados durante o interrogatório. Essa é uma atitude típica de quem deve", disse o delegado à Agência Brasil.

Segundo Nascimento, os cinco presos são ligados à Central Sindical Popular (Conlutas). "Mas ainda é prematuro dizer que esses atos tenham sido premeditados pela entidade", acrescentou o superintendente da Polícia Civil. Alegando questão de segurança, o Consórcio Construtor Belo Monte (CCBM) anunciou ontem (12) a paralisação das obras de construção da usina.

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A Agência Brasil ouviu o representante da Conlutas em Altamira (PA), Emiliano de Oliveira, que negou haver ligação entre os cinco suspeitos e a entidade. "Sequer os conheço. Mas vamos à Polícia Civil primeiro para saber que tipo de interrogatório foi feito, se eles foram torturados. Dependendo da situação, podemos inclusive prestar assistência jurídica para ajudá-los", disse o dirigente.

A entidade tem feito diversas críticas públicas à forma como o Sindicato dos Trabalhadores da Construção Pesada do Pará (Sintrapav) - que representa os trabalhadores de Belo Monte, ligado à Força Sindical – tem conduzido as negociações com o CCBM.

"Nós questionamos a forma como a campanha salarial tem sido conduzida por eles desde o início, sem debates mais amplos com os trabalhadores. Isso acabou desfocando as reivindicações e motivou uma verdadeira rebelião de base. Esses motins aconteceram de forma espontânea e foram feitos pelos próprios operários. Não se pode tachá-los de vandalismo, até porque não se sabe em que circunstâncias eles aconteceram", disse Oliveira.

O vice-presidente do Sintrapav, Regimel Gobbo, acusa a Conlutas de, por "costume e critério", integrar movimentos desse tipo para sair na mídia e despertar o interesse de filiação por parte de sindicatos. "Eles já fizeram isso em diversas outras obras de grande porte, sempre tendo por base discursos fáceis para agradar ao público, e sempre fazendo movimentos paralelos [aos sindicatos], criando expectativas com propostas que não têm condições de avançar", disse Gobbo à Agência Brasil.

Segundo ele, o Sintrapav coletou 7,8 mil assinaturas de trabalhadores da usina, manifestando apoio às propostas apresentadas durante as negociações com o CCBM. "Esse [quebra-quebra recente nos canteiros] foi um movimento de encapuzados. E todos sabemos que trabalhadores não se confundem com encapuzados. É outro pessoal, com outras intenções", disse Gobbo.

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Segundo o representante da Conlutas, "as assinaturas [a que Gobbo se referiu] foram recolhidas pelo Sintrapav em meio a sorteios de brindes", não significando, de acordo com ele, qualquer manifestação de apoio às propostas.

O Sintrapav apresentou ao CCBM propostas de aumentos salariais que variam entre 15% e 33%, dependendo do tipo de função e nível salarial do trabalhador. Além disso, reivindicou que o intervalo entre os períodos de baixada [folga dada aos trabalhadores vindos de outros estados para visitarem suas famílias] diminua de seis para três meses, e que o vale-refeição passe de R$ 110 para R$ 300.

A contraproposta apresentada pelo CCBM - já recusada pela assembleia de trabalhadores - foi que os aumentos variassem entre 7% e 11%, e que o intervalo entre as baixadas diminuísse de forma progressiva [em intervalos de cinco, quatro e, por fim, de três meses]. Quanto ao vale-alimentação, o CCBM propôs um aumento de apenas R$ 40. "Como já havíamos antecipado à empresa, nenhuma dessas propostas foi aceita pelos trabalhadores", acrescentou Gobbo.