São Paulo Apesar das incertezas momentâneas que a saída do ministro Antônio Palocci pode trazer, são poucos os analistas e banqueiros que esperam mudanças nos rumos da política econômica implementada desde o início do governo Luiz Inácio Lula da Silva.
Márcio Cypriano, presidente da Febraban (Federação dos Bancos do Brasil) e do Bradesco, lamentou em nota a saída do ministro e defendeu a "continuidade" da responsabilidade fiscal, da liberdade cambial e da política de metas de inflação. "Palocci foi fundamental para conduzir a economia com segurança para o estágio atual", diz a nota da Febraban. "Agora, com a indicação de Guido Mantega como seu substituto, esperamos que a linha seja de continuidade da responsabilidade fiscal, liberdade cambial e política de metas de inflação", conclui o comunicado.
Na prática, isso significa a manutenção da meta de superávit primário em 4,25% do PIB, o gradualismo na redução dos juros e a ausência de intervenção do Banco Central para desvalorizar o real em relação ao dólar.
A manutenção da equipe dirigida por Henrique Meirelles no Banco Central é outro fator que reforça a expectativa de continuidade da política econômica, avalia Eduardo Giannetti da Fonseca, economista do Ibmec São Paulo. "O Banco Central está com absoluta autonomia. Se houver tentativa de interferência na política monetária, ela não será aceita pela atual equipe técnica do Banco Central", diz o economista.
A eleição presidencial é um dos elementos que levam o economista-chefe do Itaú, Tomás Málaga, a descartar mudanças relevantes na política econômica. "Qualquer alteração pode ter impactos financeiros no curto prazo", ponderou. O outro fator é a "racionalidade" da política que vem sendo implementada desde o início do governo. "Pode haver mudança de estilo, mas não esperamos que haja alteração significativa na política econômica", acrescentou.
A agência americana de risco Standard & Poors afirmou ontem em nota que a substituição do ministro Palocci não afeta as perspectivas de atribuição de "rating" (nota de avaliação de crédito) da economia brasileira. "As políticas do ministro Palocci incorporavam a prudência, mas, na nossa visão, elas eram políticas de governo e não uma estratégia pessoal do ministro", disse Lisa Schineller, analista de crédito para o Brasil.
Mesmo antes do afastamento do ministro, Schineller dissera que a queda de Palocci não implicaria mudanças na política econômica brasileira. "Temos a expectativa de que a política econômica não seja a visão só do ministro, mas do presidente, do governo, do PT. O histórico construído pelo governo é bom. Mostra o compromisso do governo em geral com uma política prudente." Ela não descarta uma reação dos mercados financeiros, que podem oscilar por conta da mudança, mas avalia que ela será passageira.