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Desenvolvimento regional

Polo moveleiro à espera de fortalecimento

O diretor de artesanato Álvaro Talamine: vendas para todo o Brasil, mas com atravessadores e informalidade | Fotos: Aniele Nascimento/ Gazeta do Povo
O diretor de artesanato Álvaro Talamine: vendas para todo o Brasil, mas com atravessadores e informalidade (Foto: Fotos: Aniele Nascimento/ Gazeta do Povo)

Campo Magro, município de 25 mil habitantes na região metropolitana de Curitiba, parece ter descoberto na fabricação de móveis artesanais uma vocação econômica. A certeza de que a cidade tem muito a ganhar só não é maior porque, apesar de movimentar cerca de 60% da economia local, a atividade ainda precisa vencer desafios como a informalidade e a falta de união entre os produtores.A temporada de verão aumenta a procura pelos artigos produzidos na cidade que, para quem vem da capital, parece uma extensão do bairro Santa Felicidade. O diretor de artesanato do município, Álvaro Talamini, conta que os móveis campomagrenses decoram casas litorâneas de norte a sul do Brasil. "Como vendemos a maior parte dos produtos para outros estados, muitos paranaenses nem desconfiam que a nossa cidade está entre as que mais fabricam esses móveis no país", afirma.A "rede de distribuição" que garante essa popularidade, no entanto, também é informal, quase obra do acaso. Boa parte da produção é vendida a caminhoneiros que passam pela Estrada do Cerne, que atravessa o município. Eles compram as mercadorias a preços baixos e lucram na revenda em outras partes do país. "Esses caminhões são meus principais concorrentes", revela Claudinei Colo­nhesi, um dos poucos artesãos a ter uma microempresa regularizada e que consegue vender seus produtos diretamente para lojas, principalmente de São Paulo. "Esses atravessadores banalizam os nossos produtos, porque o cliente vê um móvel na beira da estrada com um preço, e depois vê a mesma coisa ou algo parecido na loja, só que mais caro", diz Alex Colonhesi, irmão e sócio de Claudinei.

A grande maioria das fabriquetas familiares que atuam em Campo Magro não é regularizada, e muitos de seus funcionários não têm direitos previdenciários ou trabalhistas. Com isso, o município também deixa de receber impostos preciosos.

Organizar para crescer

Para o município se transformar em um verdadeiro polo dos móveis artesanais, os artesãos precisam de mais organização e aperfeiçoamen­­to. "O trabalho ali é feito com mui­­to capricho e eles têm um potencial muito grande", reconhece a professora de design Arabella Natal Gal­vão da Silva, que durante o seu mes­­trado na UTFPR, pesquisou a pro­­dução da região. "Mas falta in­­vestir mais em design. Do contrário, um copia o outro, e os produtos acabam sem inovação", aponta. Para Ro­­drigo Brito, um dos coordenadores da ONG Aliança Empreen­dedora, que presta consultoria pa­­ra microempreendedores, o fundamental seria que os pequenos ti­­ves­­sem um maior controle da comercialização de seus produtos. "É cô­­mo­­do só esperar os caminhoneiros baterem na porta de casa", diz Brit­to. "Se eles desenvolvessem estratégias de venda, obteriam clientes que pagariam mais pelo trabalho de­­les."

Outra alternativa para desenvolver o setor em Campo Magro po­­deria estar no Arranjo Produtivo Local (APL), sistema em que um grupo de empresas, mesmo independentes, desenvolvem ações con­­juntas em prol de um bem co­­mum. Quem faz a sugestão é Cris­­tiane Stainsack, coordenadora do pro­­grama de apoio aos APLs, do Ins­­tituto Evaldo Lodi (IEL). Ela cita o exemplo de Arapongas, em que, graças ao APL, os produtores de mó­­veis da cidade promovem capacitação de mão de obra, obtêm li­­nhas de crédito especiais e contam com uma central de compras, que reduz custos na obtenção de matéria-prima.

Já a criação de uma cooperativa, na opinião do diretor de artesanato Talamini, seria uma grande conquista para os pequenos artesãos. "Se eles se unissem, formariam simplesmente a maior empresa de móveis da cidade."

Sem representatividadeUma tentativa de organizar os trabalhadores locais surgiu há seis anos, com a criação da Artcamp, a As­­sociação dos Artesãos de Campo Magro. A entidade, porém, não atinge seus objetivos plenos e tem baixa representatividade. Com 86 associados no papel, apenas "uns 15 são ativos", informa Edgar An­­tônio Stival, fundador e atual presidente da Artcamp. "Queríamos mu­­dar a situação da nossa cadeia produtiva, que estava e ainda está muito viciada", conclui Stival.

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