Eles já fizeram muito pela humanidade: inventaram o Windows, o eBay e o Darth Vader. Agora, eles querem deixar a "disposição para o bem" um pouco mais clara. Com um projeto chamado "The Giving Pledge", bilionários americanos se comprometeram a doar metade de suas fortunas a instituições de caridade. Liderado por Bill Gates, fundador da Microsoft, e pelo megainvestidor Warren Buffet, o clubinho de homens mais ricos dos Estados Unidos que querem ajudar os pobres já conta com 38 membros. Se bem sucedida, a iniciativa pode transferir até US$ 600 bilhões para os bolsos de ONGs e entidades de ajuda. Apenas para efeito de comparação, o Paraná leva mais de quatro anos para criar riqueza semelhante.
Comparado aos EUA, o trabalho voluntário e as doações ainda engatinham por aqui. A filantropia promovida pela iniciativa privada brasileira chega a 0,5% do PIB numa lista de 36 países, o Brasil é o 30.º, atrás de nações como Colômbia, Uganda e Quênia. Nos EUA, o valor é de 3,9%. Cercado pela presença constante da miséria, que poderia indicar um maior entusiasmo em ajudar o próximo, a pergunta que se faz é: por que o brasileiro doa tão pouco?
A resposta pode estar numa combinação de fatores: razões históricas, conscientização da elite, políticas de incentivos fiscais e até a eficiência das entidades em captar dinheiro. "É aquele história: pau que nasce torto nunca se endireita", diz Ricardo Lessa, jornalista e autor do livro Brasil e EUA: O que fez a diferença (Civilização Brasileira). "No primeiro livro de História escrito no Brasil, do Frei Vicente de Salvador, de 1627, ele diz o seguinte sobre o país: nenhum homem nessa terra é republico, nem zela ou trata do bem comum, senão de cada um do bem particular. Isso ele falou a propósito de uma visita de um bispo, que não encontrava nada nas ruas. Tudo estava na casa das pessoas, dos senhores. Quer dizer, o amor pela coisa pública não está na raiz da formação brasileira. Isso tem uma relação direta em como se desenvolveu a filantropia por aqui", diz.
Do Metropolitam Museum of Art novaiorquino às principais universidades, o número de instituições americanas que contam com o dinheiro de doações para se manter é extensa. No Brasil, a mentalidade é outra. "Os magnatas americanos sempre sentiram essa necessidade de querer retribuir algo para a comunidade onde vivem. Aqui, predomina a cultura que a gente herdou da monarquia. As universidades, os museus, estão todos pendurados no Estado", diz Lessa.
Importância
Mas em que medida a filantropia é importante para o desenvolvimento de um país? Para alguns, ela é a questão mais importante para explicar o sucesso econômico dos americanos. "Teoria e experiência histórica indicam que os mercados podem ser eficientes, mas eles não são necessariamente justos. A oportunidade é a força que move o empreendedor, que concentra a riqueza, e que, por sua vez, pode agir em seu próprio interesse e perpetuar a desigualdade. Somente através de doações em particular, através da ação organizada em grande escala de fundações filantrópicas o desequilíbrio inerente ao crescimento capitalista é corrigido para criar um processo autossustentável de criação de riqueza, inovação social e oportunidade. Quando a riqueza é reconstituída através de doações para criar novas oportunidades, um ciclo virtuoso segue: oportunidade cria empreendedorismo; empreendedorismo gera riqueza e riqueza, por sua vez, cria oportunidade. Esta é a dinâmica interna do capitalismo americano e a fonte de sua prosperidade", escreveram Philip Auerswald e Zoltan J. Acs, professores de política pública da George Manson University, nos EUA, num artigo intitulado "Definindo a Prosperidade" e publicado na revista The American Interest.