Há um ano, a cotação do dólar beirava os R$ 4. Agora, ela perto da barreira de R$ 3, uma desvalorização de quase 25%. Essa mudança reflete uma correção concreta no rumo da política econômica brasileira e a percepção de que os riscos na economia global estão sob controle.
Em janeiro do ano passado, houve um soluço forte na economia chinesa. Somado à incerteza sobre o impeachment, isso levou o dólar para lá dos R$ 4. Essa cotação era o que os economistas chamam de “overshooting”, quando há um aumento muito forte no preço de uma moeda geralmente em momentos de pânico.
Ao longo do ano, o cenário foi mudando para melhor. Internamente, a aprovação do teto de gastos dá um cenário de longo prazo para o ajuste das contas públicas. Isso se soma à convergência da inflação para a meta e a recuperação, ainda lenta, da confiança na economia. No mesmo período, o risco-país, o prêmio cobrado pelo mercado para investir aqui, caiu na mesma toada do dólar.
Há também um fator claro de oferta e demanda. O déficit externo brasileiro caiu durante os dois anos de recessão – a balança comercial teve superávit de US$ 47 bilhões, um recorde histórico, no ano passado e o investimento estrangeiro continuou entrando no país. As grandes empresas desde o fim do ano passado conseguiram voltar ao mercado internacional de crédito. Assim, há um cenário de entrada de dólares que também pressiona as cotações para baixo.
O componente mais estranho do comportamento do câmbio é o fato de o mercado estar fazendo vista grossa para os riscos que estão no radar. O mais evidente é a política econômica americana. O presidente dos EUA, Donald Trump, claramente quer estimular a economia e isso pode ter um efeito de alta nos juros e fortalecimento do dólar. Outra ideia que compõe o “Trumponomics” é uma reforma fiscal que, se avançar, elevaria o valor do dólar no mercado internacional em 25%, segundo cálculos de economistas que acompanham o tema.
Internamente, a economia brasileira está longe de arrumada. A reforma da Previdência ainda não foi aprovada e corre um risco grande de ser distorcida no Congresso. O crescimento da economia vai voltar, mas será lento. E ainda a própria valorização do real pode prejudicar a recuperação de parte do setor industrial – como a indústria automotiva, que se apoiou nas exportações para elevar a produção.
Parece que o fortalecimento do real é um movimento que está descolado do cenário externo e pode ser rapidamente revertido pelos tuítes de Trump.
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