O Kindle Fire, o tablet da Amazon apresentado ao mercado na semana passada, surpreende pouco do ponto de vista do hardware: não tem câmeras nem conexão 3G, por exemplo, dois componentes presentes em quase todos os tablets que buscam desbancar a supremacia do iPad. O que o aparelho realmente tem de diferente é o seu preço: apenas US$ 199 (R$ 367), menos da metade da versão mais simples do tablet da Apple (veja quadro abaixo).
O preço baixíssimo está inclusive despertando dúvidas sobre a capacidade da Amazon.com de atender à demanda pelo aparelho e o possível efeito sobre as margens de lucros da empresa, que já são baixas.
No evento de lançamento, Jeff Bezos, o bilionário presidente-executivo da Amazon, deu algumas dicas de como ele pensa o modelo de negócio para o produto: "Nós não vemos o Kindle Fire como um tablet", afirmou. "Nós pensamos nele como um serviço". Um serviço totalmente conectado com o ecossistema da Amazon, em que o usuário terá acesso fácil aos livros, filmes, jogos e a todos os demais produtos à venda no site da loja.
"A Amazon não está simplesmente vendendo um aparelho", escreveu Erik Brynjolfsson, diretor do Centro de Negócios Digitais do MIT, em seu blog Digitopoly (http://www.digitopoly.org). "Está vendendo um portal para uma infinidade de livros, músicas, filmes e outras mídias. E os proprietário do Kindle confiam na Amazon com seus cartões de crédito. Com uma interface fácil e atraente que direciona os usuários para a mídia da Amazon, recomendações que são assustadadoramente precisas e entrega quase instantânea, é difícil que os consumidores resistam a gastar muito mais no Kindle do que jamais gastaram pela web."
Brynjolfsson também cita que o custo do aparelho foi sensivelmente reduzido porque a Amazon não precisou gastar para oferecer um tablet com grande capacidade de armazenamento o Fire tem apenas 8 GB. Ele lembra que o produto permite que os usuários coloquem todas as suas mídias na nuvem da Amazon, sem nenhum custo adicional.
Ao comentar a estratégia da Amazon, Jeffrey Van Camp, do site Digital Trends, afirma que a empresa vai liderar o mercado de tecnologia. "Google, Microsoft, Apple e Amazon vendem uma grande quantidade de aparelhos, de todos os tipos, mas a Amazon é o único agente livre entre eles. Sim, ela tem alguns Kindles, mas ao contrário de como a Apple vê as coisas, o Kindle não é o produto mais importante para a Amzon: o conteúdo é o rei, e o plano da empresa é vender o conteúdo no maior número de plataformas que conseguir."
Estoque
Bezos anunciou que a companhia estava produzindo "milhões" de unidades do novo aparelho, sem acrescentar números mais específicos. Mas instou os consumidores a fazerem pré-encomendas do produto o mais cedo que pudessem. Na sexta-feira, dois dias após seu lançamento, o Fire era o eletrônico mais vendido no site da gigante do varejo on-line.
"Quando Bezos disse que as pessoas deveriam pedir o mais rápido possível, não estava apenas promovendo as vendas", disse Brian Blair, analista da Wedge Partners. "Estava também anunciando às pessoas que os estoques do Fire vão se esgotar."
Quando o primeiro Kindle foi lançado, em 2007, a Amazon não produziu o aparelho em volume suficiente e o estoque inicial se esgotou em menos de uma semana. Isso implicou em vendas perdidas e em colocar o aparelho nas mãos de menor número de clientes, prejudicando a adoção rápida.
"Espero que tenham aprendido a lição que isso ensinou", disse Vinita Jakhanwal, analista da IHS iSuppli, que estuda as cadeias de suprimentos do setor de eletrônicos. A Amazon encomendou entre 4 milhões e 5 milhões de telas para o Fire no quarto trimestre, um volume "bastante significativo," disse Jakhanwal. Mas a tecnologia usada nas telas do Fire já está em circulação há pelo menos um ano, e vem sendo produzida em volume elevado, o que reduz a chance de uma escassez de componentes, afirmou o analista.
Interatividade
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