Era para ser um dia tenso no mercado financeiro. A posse de Lula como ministro da Casa Civil seria um sinal de que a crise política se estenderia por mais tempo, com chance de ele deter no Congresso o processo de impeachment. Vieram a gravação do diálogo polêmico com a presidente Dilma e a decisão da Justiça tirando Lula do ministério.
O mercado agora dá o governo como acabado. É o que explica a alta de mais de 6% na Bovespa e a queda de 2,3% do dólar, mesmo com a notícia de que o Banco Central vai reduzir sua intervenção que segurava a alta da moeda americana. A tese do momento nas corretoras e casas de câmbio, aparentemente, é que Dilma está com os dias contados e nada que vier vai ser pior do que ela.
Mercados financeiros tendem a fazer movimentos exagerados. Foi o que houve no início do ano, quando a impressão era a de que a economia da China tinha descido ao inferno dos emergentes problemáticos. Não era para tanto.
Agora, a tese é de que há uma oportunidade imperdível. Os ativos brasileiros ficaram baratos. Andam de lado desde 2012, mais ou menos, arrastados pela desconfiança na política econômica do governo Dilma. O aumento do déficit público, casado com o represamento de preços, causou desequilíbrios sérios que culminaram na recessão atual (agravada, claro, pela crise política).
O risco em acreditar nos sinais vindos da Bovespa é que até mesmo os agentes mais bem informados do mercado não conseguem prever o que está por vir. A última semana mostrou que o Brasil não é mesmo para amadores. Em poucas horas, um ex-presidente investigado por corrupção virou um ex-ministro acusado de obstrução da Justiça. Se a crise rapidamente arrastar Dilma para o abismo, há quem acredite que ocorrerá a maior alta no preço de ativos brasileiros na história. Alguém quer apostar seus tostões em ações da Petrobras?