Em abril, Hering foi comprada pelo Grupo Soma por R$ 5,1 bilhões.| Foto: Divulgação/Hering
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Com a retomada da economia após as incertezas provocadas pela pandemia do novo coronavírus, o volume de operações de fusão e aquisição de empresas brasileiras deve bater recorde histórico em 2021. Perspectiva de estabilidade, transações represadas e antecipação de planos às vésperas de ano eleitoral são alguns dos fatores que ajudam a explicar o movimento atípico, segundo analistas.

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Entre os grandes negócios estão a compra da Hering pelo Grupo Soma, pelo valor de R$ 5,1 bilhões, após uma disputa com a Arezzo, e a fusão da Hapvida e da NotreDame Intermédica, as duas maiores operadora de plano de saúde do país.

Somente nos sete primeiros meses do ano, foram 1.169 operações de fusão e aquisição (M&A, na sigla em inglês), que movimentaram cerca de R$ 285,5 bilhões – cerca de US$ 55 bilhões –, de acordo com relatório da plataforma Transactional Track Record (TTR). Os números representam um aumento de 50% em relação ao mesmo período do ano passado.

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“O ano de 2020 começou bem, mas a economia foi abatida – não só no Brasil, mas no mundo – com a pandemia. O primeiro efeito foi retrair o número de transações, porque era um contexto em que todo mundo está mais preocupado com o curto prazo, com sua sobrevivência, renegociar dívidas, do que olhar para o longo prazo”, diz Luís Motta, sócio da KPMG.

“Mas com a pandemia teve início também – e esse é um fato inédito – a estratégia de muitas empresas investirem em aquisições para poderem operar no mundo digital. No contexto da pandemia, vimos um movimento de empresas tradicionais, que precisavam manter suas operações, focando no comércio eletrônico, em logística, na criação de plataformas para segmentos que vão do ensino à distância às fintechs”, complementa.

Com isso, avalia Motta, empresas que tinham planos de digitalização de longo prazo reviram os projetos no sentido de acelerar os projetos por meio da aquisição de startups de tecnologia.

Conforme o levantamento da TTR, a área com mais movimentações neste ano foi a de tecnologia, com um total de 449 negócios – aumento de 98% em relação ao mesmo período de 2020. A compra do site Kabum! pelo Magazine Luiza no valor de R$ 3,5 bilhões, incluindo ações, e a aquisição da catarinense RD Station pela Totvs, por meio da subsidiária paranaense Bematech, estimado em R$ 1,8 bilhão, foram algumas dessas operações.

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O boom de M&As vem na esteira de um aumento também no número de IPOs de empresas que viram a necessidade de levantar caixa. De acordo com a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), desde o início do ano 34 companhias abriram capital, contra 28 durante todo o ano passado. Há ainda outras 15 ofertas públicas previstas para 2021.

“Logo após a eclosão da crise, no começo do ano passado, houve um momento em que as empresas queriam levantar dinheiro para fortalecer o balanço e suportar aquela situação difícil”, explica. “Por isso a gente viu uma atividade no mercado de ações, como IPOs e follow-ons, que veio mais rápido que o mercado de fusões e aquisições”, explica Gustavo Miranda, responsável pela área de Investment Banking do Santander.

“Na sequência, quando você começa a ter um cenário com mais perspectiva de que o quadro econômico vai se estabilizar, com as taxas de juros e os spreads sobre as dívidas em patamares mais baixos, isso dá confiança para as empresas que querem se consolidar em seus setores fazerem aquisições, porque elas sabem que vão conseguir levantar dinheiro para honrar os compromissos dessas operações”, diz Miranda.

Aquisições de empresas brasileiras por estrangeiras voltam a crescer

No mais recente levantamento da KPMG, que analisa o cenário trimestralmente há mais de duas décadas, os primeiros três meses do ano tiveram o maior número de operações de fusão ou aquisição da série histórica. Apenas entre janeiro e março foram 375 negócios, a maioria (244) entre empresas brasileiras.

Mas o número de estrangeiras envolvidas na aquisição de companhias locais também chamou a atenção. Nesse período, 116, ou 31% das transações, foram do tipo CB1, ou seja de empresas estrangeiras comprando brasileiras. Foi o maior volume em todos os trimestres analisados historicamente pela instituição.

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Outras 13 operações foram do tipo CB2, quando brasileiros adquirem de estrangeiros empresa estabelecida no exterior; uma foi do tipo CB3, em que brasileiro adquire, de estrangeiros, empresa estabelecida no Brasil; e uma foi CB4, em que estrangeiro adquire, de estrangeiros, empresa estabelecida em outro país.

“Está acontecendo um movimento de retomada da presença de estrangeiros no país que havia sido perdida no ano passado, quando a pandemia teve início", analisa o sócio da KPMG e coordenador da pesquisa, Luís Motta. “No contexto de crise, as empresas estavam mais focadas na sobrevivência e no mercado principal de atuação, o que fez com que alguns planos de internacionalização fossem colocados de lado até que houvesse um cenário mais previsível.”

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Tendência deve se manter até o fim do ano e diminuir em 2022

Há uma perspectiva de que a tendência observada dos primeiros meses se mantenha ou até se intensifique até o fim do ano. “Pelo que vemos em nossa atividade, na amostragem do Santander, o movimento não está diminuindo”, diz Miranda. “Se no primeiro semestre o mercado de M&A fez mais de US$ 50 bilhões, é bem possível imaginar algo como US$ 110 ou 120 bilhões até o fim do ano.”

Há motivos para a estimativa. Em geral, as empresas preferem completar transações antes do fim do ano fiscal para fechar o balanço já com ofertas anunciadas, explica o economista. “Há uma corrida de ofertas antes de 31 de dezembro.”

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Outra razão é que a discussão sobre as diversas etapas da reforma tributária que tramita no Congresso pode fazer com que o mercado antecipe operações para 2021. “Há uma discussão, por exemplo, sobre eventualmente não se poder mais aproveitar o ágio levantado nas aquisições para efeito fiscal, o que pode fazer com que o segundo semestre seja melhor do que o primeiro.”

O fato de haver eleições gerais em 2022 também deve tornar o próximo ano menos propício para negociações do tipo, abrindo oportunidades de antecipação de planos. “Quando tem início o período de campanha, o mercado muitas vezes prefere esperar o resultado das eleições para saber qual vai ser a política econômica que de fato o governo central vai seguir, para saber como precificar os ativos”, explica. “A tendência é ter uma janela de mercado mais curta em 2022, com uma concentração de ofertas e transações até o começo do ano.”

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