Comprar uma casa é a transação financeira mais importante que a maioria das pessoas enfrenta na vida. E também pode ser uma das mais dramáticas. É um negócio repleto de esperanças e sonhos e, pelo menos no caso do vendedor, de memórias e experiências enraizadas naquele espaço físico. Sim, em geral é muito dinheiro. Mas tem o poder de ser muito mais do que isso, se a transação estiver acontecendo por uma boa razão ou por uma muito ruim.
“Se estou vendendo uma casa que pertence a uma corporação, não é estressante, mas às vezes tem uma vida inteira envolvida. Não tem a ver apenas com o dinheiro. Existem sentimentos que acompanham o negócio”, afirma Pat Vredevoogd Combs, corretora em Grand Rapids, no estado de Michigan, nos Estados Unidos, e ex-presidente da Associação Nacional de Corretores de Imóveis.
Muitos trabalhos acadêmicos foram feitos para “ligar a memória ao espaço”, afirma Scott Huettel, chefe do departamento de Psicologia e Neurociências da Universidade Duke. Os pesquisadores estudaram como um espaço físico pode estar ligado à memória e, consequentemente, estar imbuído de um valor significativo além de qualquer coisa monetária.
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O campo de Huettel é a neuroeconomia, que usa informações sobre a nossa biologia e o nosso cérebro para entender melhor as tomadas de decisão, especialmente quando elas estão relacionadas às finanças.
Sua pesquisa mostra que o córtex pré-frontal ventromedial, uma região na base do lóbulo frontal do cérebro, está envolvida não apenas com a emoção, mas também com a recompensa, a motivação e a percepção de valor.
“Temos memórias e associações conectadas a todas aquelas coisas que fazem com que fiquemos tão fortemente ligados a uma casa”, diz ele. Isso pode fazer com que o lugar que você cresceu, ou para onde trouxe seus filhos depois do nascimento, pareça inestimável, e torna-se difícil deixá-lo.
Em 2007, Shirley Nebb Hirsch, de 62 anos, vendeu a casa de três quartos e um banheiro onde passou a infância em Middlesex, Nova Jersey, e que seus pais compraram em 1943. Seu pai morreu em 1996 e sua mãe em 2001, mas ela as irmãs esperaram seis anos para vender a propriedade, que tinha um grande significado para elas.
Enquanto isso, ela e as irmãs, “ainda iam lá e montavam a árvore de Natal”, conta Hirsch, administradora de propriedades que vive em Freehold, em Nova Jersey. Deixaram um parente ficar ali por alguns anos sem pagar aluguel apenas para ter certeza de que havia alguém na casa.
“Conversamos sobre alguma de nós comprá-la, mas não era prático, principalmente por razões geográficas. Percebemos que a casa precisava de alguém que morasse ali e que a amasse.”
É por isso que acabaram por vender a propriedade para uma pessoa que vivia na cidade vizinha e havia pedido algumas vezes para ser consultado quando elas resolvessem fazer o negócio.
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“É difícil ver as mudanças, mas não há muito que possamos fazer. É a casa deles, e eles têm o direito de fazer o que quiserem”, diz Hirsch.
Huettel afirma que é impossível tentar transformar uma coisa como comprar ou vender uma casa em uma transação financeira fria e sem emoção. “Você não pode ser simplesmente desapegado sobre os valores e cortar todas as memórias e as vivências acumuladas”, explica.
Ele diz que os compradores e os vendedores precisam viver seus sentimentos, quaisquer que sejam. Eles vão ficar melhor assim, diz: “As emoções não são ruins. Elas são uma parte significativa de uma vida saudável, e não podemos apenas suprimi-las. São fundamentais para construirmos o que é importante para nós”.
Em vez de ignorar ou esconder os sentimentos sobre comprar ou vender uma casa, tente reavaliar toda a operação. “Se você tem que se mudar, é totalmente saudável pensar não apenas nas memórias maravilhosas que teve na casa, mas também nas limitações das coisas que não eram perfeitas, os desafios de viver ali e os benefícios da nova região. Focar nas limitações pode fazer com que seja mais fácil deixar algo para trás e prestar atenção nas vantagens da casa nova.”