Insatisfeitos com a remuneração, os médicos de Ivaiporã, no Norte do estado, romperam os contratos com operadoras de plano de saúde nesta semana. Anunciada ontem, a decisão foi tomada pelos 40 profissionais da associação médica da cidade, que vão atender clientes das empresas por apenas mais dois meses, conforme determina legislação federal.
A decisão conjunta dos médicos no município de 30 mil habitantes faz parte da pressão em todo o estado por aumento da remuneração pega pelas operadoras. Segundo o presidente da Associação Médica do Paraná (AMP), José Fernando Macedo, o descredenciamento em massa pode se repetir em cidades como Francisco Beltrão e Pato Branco, no Sudoeste do estado, e Guarapuava, no Centro-Sul. "Não dá para manter consultório, com todas as despesas, com o que pagam os planos de saúde. Os valores são muito baixos", defende.
Segundo cálculos da AMP, o valor médio pago pelos planos aos médicos do estado é de R$ 42. Descontadas as despesas com material, limpeza e impostos, o profissional receberia apenas R$ 5,33. Segundo a Associação, mesmo com negociação frequente, os valores estariam sem reajuste há dez anos.
O geriatra João Carlos Baracho diz que decidiu se descredenciar dos planos há mais de dez anos. "Foi uma decisão pessoal. As operadoras não valorizam nosso trabalho", diz. Segundo ele, ser vinculado a um plano deixa a agenda lotada e causa prejuízos ao paciente. "Há médicos que acabam priorizando pacientes particulares, aí o do convênio acaba não tendo espaço na agenda", diz. Segundo ele, alguns médicos passam ainda a trabalhar turnos adicionais para compensar a baixa remuneração dos planos.
Sem repasse
As operadoras são acusadas principalmente de aumentar os preços ao consumidor sem repassar a alta aos profissionais de saúde. Nas demonstrações financeiras da Amil, única empresa do setor com capital aberto, a receita cresceu 67,3% entre o primeiro semestre de 2007 e os três primeiros meses de 2010. Os pagamentos a médicos, clínicas, laboratórios e hospitais aumentaram 52,7% no mesmo períoro. "Os culpados por essa situação não somos nós, mas sim os planos de saúde", diz Macedo.
A desvinculação dos planos, explica o advogado da AMP, Fabiano Sponhols Araújo, é um direito do médico. "Não há ilegalidade na medida. Nem sequer há risco para os pacientes, já que eles podem escolher o médico fora da rede credenciada e depois pedir reembolso ao convênio", diz. A AMP explica que a decisão de se credenciar a um plano de saúde ou não é individual.
Em nota, a Associação Brasileira de Medicina de Grupo (Abramge) informa que a negociação sobre pagamentos a médicos, hospitais ou laboratórios é livre, mas que a entidade não participa delas. "O movimento dos médicos é aceitável, desde que não prejudique o atendimento aos beneficiários dos planos de saúde", encerra o texto. Procuradas pela reportagem, a União Nacional das Instituições de Autogestão em Saúde e a operadora Amil não se manifestaram.
Pediatria
O presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria, Milton Macedo de Jesus, diz que o movimento dos pediatras pelo descredenciamento começou em 2009 em todo o Brasil. Os médicos dessa especialidade são os principais afetados pela baixa remuneração dos planos, pois praticamente só realizam consultas e não têm, portanto, outros elementos para incrementar a renda. "A pediatria é diferente da cardiologia, por exemplo, em que o médico faz eletrocardiograma e outros exames que aumentam a remuneração", diz.
Segundo ele, em Londrina (Norte do estado), a maioria dos pediatras já não atende por planos, e o movimento dos médicos de todas as especialidades tende a crescer em todo o país. "As operadoras são obrigadas a não interromper o serviço, e portanto têm de arranjar médicos dispostos a trabalhar para elas. Isso vai se tornar cada vez mais raro", diz. Segundo a AMP, os médicos podem voltar a se credenciar caso a proposta dos planos seja interessante, uma vez que a escolha pelo credenciamento é individual.
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